“Viana tem um potencial artístico incrível”

É licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Tem uma formação complementar vastíssima, em Portugal e no estrangeiro. Isso e uma inclinação forte para a arte fazem dela uma Artista que esbate fronteiras e a fazem envolver-se em projetos arrojados. Não se queixa do meio vianense, apesar de o saber limitado. Com outros artistas locais, procura antes divulgar Viana na procura do seu espaço próprio no mundo das artes. Aceita desafios, não baixa os braços e vai à luta, sempre na perspetiva de sair vencedora.

Ao abordar temas como memória, identidade e importância dos direitos humanos, considera-se uma Artista crítica e interventiva. Tendo uma visão alargada da arte e do mundo, equaciona e valoriza diferentes culturas e pontos de vista da história. Conversou connosco desassombradamente, com projetos individuais e em parceria, já que pensa que o individualismo beneficia menos a arte. 

Rita, como tem sido o teu percurso artístico? 

Depois de experimentar três escolas de artes com programas distintos e muito interessantes, sendo a última na Suécia, regressei a Lisboa onde comecei a mostrar o meu trabalho. Desde então tenho vindo a desenvolver uma prática artística focada na arte como pensamento crítico, abordando temas como feminismo, memória, identidade, importância dos direitos humanos. Ao longo destes anos, foi fundamental ter tido a possibilidade de viver em outros países que influenciaram e influenciam profundamente a minha perspetiva do mundo e da história da humanidade, refletindo-se no meu corpo de trabalho. De Nova Iorque a Luanda, passando pelo Brasil, entre outros lugares, todas essas vivências estão bem presentes no meu trabalho.

Como vês Viana do Castelo no domínio artístico e cultural? 

A cidade de Viana do Castelo tem um potencial incrível, particularmente a nível geográfico, podendo conectar-se com outras cidades vizinhas com um bom dinamismo cultural, e também com a Galiza, que é um bom exemplo de produção artística. Viana é capital de distrito, tem o direito e o dever de promover a produção de significados artísticos de todas as áreas de expressão contemporânea, para assim poder contribuir para gerações futuras mais qualificadas, com mais sentido crítico e intelectual.   

Os artistas procuram as cidades mais evoluídas económica e culturalmente para se realizarem. Não se pode contrariar esta realidade? 

Tanto eu como várias outras artistas da cidade, tal como a Iva Viana ou a Lia Gonçalves, por exemplo, trabalhamos de Viana para o mundo. O meu trabalho tem como base uma estrutura intelectual e ideológica comunicada através de uma linguagem não verbal por via de fotografia, cerâmica, vídeo, performance, o que significa que qualquer pessoa, em qualquer lado do mundo poderá lê-lo e interpretá-lo tendo como base o seu contexto sociocultural. Claro que as cidades mais evoluídas culturalmente (e por consequência economicamente) sabem que o investimento nesta área traz um retorno muito vantajoso a todos os níveis para essa comunidade e por isso há mais dinamismo e oportunidades de trabalho.

É possível viver da arte ou ter arte para viver? 

Definitivamente, é fundamental ter arte para viver, e disso já sabemos desde os primórdios da humanidade. Será mais possível viver (e não sobreviver) da arte, quando se expandir o entendimento de que a produção artística e intelectual é crucial para a evolução da humanidade. Os artistas têm tido ao longo de todos estes séculos o papel de questionar os paradigmas vigentes, de deixar testemunhos absolutamente fascinantes das suas épocas, de nos conectar com o campo onírico, de nos fazer vibrar e sentir que estamos vivos e que a vida é muito para além da banalidade das nossas rotinas num sistema capitalista a que somos forçados a ceder. Arte é vida! 

Sabemos que foi adquirida uma obra tua pelo Estado. Consideras que é o reconhecimento do teu valor artístico. Pode ter alguma influência na tua carreira? 

A obra que foi adquirida para a coleção de arte contemporânea do estado intitula-se Unearthing (desenterrar), título que estava pensado ser Luto, mas que, como a obra foi realizada em plena pandemia covid – 2021, achei sensato alterar. Não obstante, a obra é um tributo à história da cerâmica de Viana e às mulheres minhotas que mais usaram e fizeram essas cerâmicas, e que a história oblitera repetidamente os seus lutos e lutas. O reconhecimento dessa história e legado perpetuado nesta coleção deixa-me satisfeita e espero que isso se repercuta em reconhecimento do valor da arte. 

Pelo que vamos vendo, há muita gente com qualidades artísticas em Viana. Há aqui espaço e futuro para ela? 

Há, sem dúvida, espaço para uma dinâmica artística de qualidade na cidade. O que precisamos é de pensar em como desenvolver programas e uma agenda curada por especialistas e profissionais que possam consolidar, organizar e partilhar as práticas artísticas em Viana. 

Sabemos da tua relação afetiva e cultural com os países lusófonos, particularmente Angola. Vais aprofundar essa relação? 

Estarei sempre conectada com Angola, para além do campo artístico, por laços familiares. Adiciono os meus laços afetivos com o Brasil e assim dou continuidade aos meus estudos sobre o sul e as relações entre Portugal e estes países. Sinto ser fundamental repensar e reescrever este legado histórico através da arte e dos afetos.

Quais são os teus projetos para o futuro? 

Estou neste momento prestes a inaugurar duas exposições: uma em Lisboa, onde irei mostrar duas obras, uma realizada em Angola e outra na Nigéria; e outra, individual, no Porto onde dou continuidade a um corpo de trabalho sobre as mulheres e a cerâmica minhotas.

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