Nunca vi com muita simpatia a mudança dos profissionais de televisão entre as diversas estações, já que considero haver valores maiores para além do vil metal. Mas não pensa assim quem sabe vender qualidades de que se julga possuidor no exercício da função.
Porém, julgo que quando se muda de estação televisiva – talvez aqui com uma força especial – fica claro que é mesmo o dinheiro que está na origem de tudo, esquecendo-se a ponderação de outras razões, especialmente as de respeito pelos espectadores.
A televisão, para mim, vai pouco além do espaço noticioso. Parafraseando Jorge Sampaio, o nosso ex-Presidente da República (um Presidente bom e de grande seriedade), que dizia “haver mais vida para além da crise”, também eu acho que há mais vida para além do pequeno ecrã. Mas, fugidiamente, vou-me apercebendo de quem por lá anda, o que faz e como se transmuta, perante a sedução remuneratória.
Os canais de televisão sobrevivem na base das audiências. Por isso, quem prender o grosso dos espetadores terá mais possibilidades de apresentar melhores resultados financeiros e solidificar a sua presença no mercado. E para ter audiências tudo se faz, tudo se alicia e de tudo se deita mão. E aqui é que a “porca torce o rabo”. Como, para mal da cultura, não somos um povo exigente e nos damos bem com a banalidade, é por aí que as televisões caminham. Nem mesmo a oficial RTP, que vive em parte dos nossos impostos, corta radicalmente com esta prática.
O folhetim Cristina Ferreira, a vestir a pele do macaco em cada dia, é simplesmente deplorável, já que, em meu entender, se trata de manipulação e aproveitamento de massas a um nível que só pode merecer repulsa. As suas trivialidades, estridência e exibicionismo, incompreensivelmente, granjearam-lhe audiências que ela vende como negócio de feira. “Hoje e amanhã, quem melhor me pagar, é que me leva, porque eu também levo os meus espetadores”, pensará. E os pobres lá vão atrás dela.
Mas não me admira que o povo assim se comporte, porque, particularmente, até os nossos políticos lhe fazem pela vida, inclusive Jerónimo de Sousa, que na sua bondade lá foi ao seu programa expor a sua vida. Mas, já antes, logo no primeiro dia na SIC, o beijoqueiro do nosso Presidente da República lhe tinha telefonado, para lhe fazer um miminho, como tinha prometido.
E o nosso primeiro-ministro, coitado, até lá foi expor dotes culinários. Mas, Jerónimo, os fretes são para quem são e em política não vale tudo. Neste país de crédulos, também à boleia dos políticos e do seu eleitoralismo é que a Cristina ganha milhões.
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