Vicissitudes da vida fizeram com que a ‘minha’ romaria se cingisse a visitar a igreja paroquial; a assistir a dois dos três cortejos: o etnocultural, de sábado e o religioso, de domingo; a visitar a exposição “Entre o Cavalete e o Altar”; a ouvir uns acordes da Banda de Música “Quinta do Picado” e, ao som dos “D’ALMA E CORAZON”, saborear a excelente bebida, obra da Judite Sora.
Relativamente ao cortejo de sábado poder-se-á dizer que, de algum modo, fez a ‘ponte’ com o essencial do noturno da véspera “Que Filme” e o do dia seguinte, a majestosa procissão centrada em Maria e na JMJ. Com o milho por tema, o brio e brilho dos participantes introduziram-nos na história deste cereal “ouro da terra”, anunciado bem ao centro do cartaz, cuja arte e polissémica inspiração saudamos. ‘Ouro’ esse que nos dá o alimento do corpo que permite não só ‘viver o momento’, mas também as ‘loucuras’ da véspera e, porque dele se fez pão, o alimento da alma, que nos permite interiorizar e por em prática os mistérios do dia seguinte. Bom ritmo e muita cor, em mais um excelente trabalho de realização do Ricardo Afonso.
No dia seguinte, caminhando com Maria, que sempre acompanhou Jesus, Santa Marta foi honrada com uma procissão plena de oportunidade e sentido “Maria levantou-se e partiu apressadamente”. A “Padroeira dos jovens” viu-os a partilhar com muitos devotos, entre outras passagens bíblicas, a Anunciação, a Visitação e o reencontro de Jesus no templo. Eles tinham acabado de viver uma JMJ. Sentem-na próxima, Ela que sempre acompanha e nunca é protagonista, como disse Francisco em Fátima. Cheios de entusiasmo, não desperdiçaram esta oportunidade. Segundo o cardeal Van Thuan, em ‘Compromisso de Esperança’, no livro de oração dos muçulmanos, está escrito: “Quando é noite, não esperes a manhã, e quando é manhã, não esperes a noite.» Em conclusão: alegremente “viver o dom do momento presente” é terapia sábia do citado cardeal, que os nossos jovens puseram em prática e que se espera seja para prosseguir.
Na igreja paroquial, a decoração apresentou-se como mais uma obra de excelência da arte floral das nossas decoradoras onde o tema “A ALIANÇA DE DEUS COM OS HOMENS” sobressai a instituição da Eucaristia, o que só valoriza o tema assumido para o cortejo. A inspiração está na 1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios. As flores vermelhas representam o Sangue de Cristo e as brancas a pureza do seu Corpo. As “16 espigas representam os 12 apóstolos, os 3 irmãos de Betânia (Lázaro, Maria Madalena e Marta) e a última espiga, a comunidade de Santa Marta. A espiga vermelha, em ousada e dupla significação, poderá representar (lado negativo) a traição de Judas, mas também (positivo) a bênção e perdão de Cristo pela sua crucificação por nós” (em próxima edição voltaremos ao assunto, pois a riqueza do trabalho assim o exige).
Na exposição “Entre o Cavalete e o Altar” está plasmada a veia plástica do presidente da comissão de festas e pároco, P.e Christopher Sousa, ainda aluno de artes plásticas na Escola de Belas Artes. A apreciação de um leigo não passa de boa vontade, mas dá para perceber que o autor é dotado, pela forma como pinta as expressões do rosto das figuras eleitas. Sempre ouvimos dizer que o elemento humano, nas suas diferentes expressões, são o grande problema para quem manobra os pincéis. Mas se dúvidas houvesse quanto ao mérito, o facto de ter ganho o concurso nacional para a decoração das figuras dos patronos, incluídas no livro das JMJ, elas desvanecer-se-iam de imediato. Porém, a escolha do título da exposição, só por si, justificaria o evento: ele é rico em diferentes interpretações, desconhecendo nós a do autor. Permite, desde logo, relevar o testemunho de alguém que, depois do altar, louva a Deus usando o seu talento; permite pensar que o seu espírito criativo se alimenta do que vê e sente à sua volta, como obra do Criador e na qual O redescobre. Não sabemos, mas gostamos.
O que vimos, agradou e, do que não pudemos apreciar, a opinião que nos chega é de satisfação e que a Romaria de Santa Marta esteve em nível elevado.