A comunicação da Procuradoria-Geral da República, do passado dia 7, terça-feira, de que estava a investigar factos suscetíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção e de tráfico de influência em atos de governação, provocou um “sismo” na conturbada política nacional, centrada na aprovação do Orçamento do Estado para 2024 e nas suas consequências.
Seguiu-se a ele um “maremoto” que causou danos nos meios socialistas: a detenção e constituição de arguidos de elementos próximos do Primeiro-Ministro (PM) e o pedido de demissão, de este, ao Presidente da República (PR) que imediatamente declarou aceitá-la.
Na quinta-feira seguinte, o PR comunicou aos portugueses que ia dissolver a Assembleia da República, em dezembro, depois de aprovado o Orçamento, e marcar eleições para lá das “calendas” do próximo ano, em 10 de março. Na mesma comunicação, o PR, após reconhecer que esta é a primeira vez que um primeiro-ministro abandona o cargo por suspeitas de envolvimento em atividade criminal, elogia o PM, testemunha o seu “serviço à causa pública”, agradece a sua disponibilidade para continuar a assegurar as suas funções e formula votos de que, “mais depressa do que devagar”, se faça justiça. Nenhuma palavra do Alto Magistrado da Nação sobre a situação a que chegamos, sobretudo no que toca a corrupção e tráfico de influência no Estado e, também, nas Autarquias.
E, na noite de sábado, enquanto ainda decorria o interrogatório aos detidos, o PM demissionário, nessa qualidade, fez declarações de defesa pessoal, das quais se poderão inferir recados à Justiça e levantar dúvidas à imparcialidade do governador do Banco de Portugal.
Estes acontecimentos lesam o bom nome de Portugal na Europa e no Mundo e contribuem para que se possa sustentar que, a poucos meses da celebração do 50º aniversário do 25 de Abril, a democracia portuguesa esteja em crise.
Augura-se que as elites políticas partidárias, que forem referendadas nas eleições legislativas de março, não desiludam o povo e impeçam que a democracia entre em agonia!