O “Sinal das Igrejas Vazias”, como título desta crónica, não é mais que o idêntico título de um pequeno livro da autoria de TOMÁS HALÍK, um sacerdote checo, e também teólogo, escritor e professor universitário. Tem uma particularidade: converteu-se ao catolicismo já como adulto e sob a influência do escritor inglês Gilbert Chesterton (1874-1936). Eu considero isso uma vantagem intelectual, porque, ao contrário da grande maioria dos adeptos de uma religião (incluo-me neste grupo), não sofreu qualquer influência familiar ou social para a sua escolha religiosa. O Padre Malik estudou, leu, refletiu e, depois, tomou a decisão de conversão. Há que acrescentar que os checos são maioritariamente ateus, ao contrário dos seus vizinhos, a sul, os eslovacos, que são católicos romanos.
Esta pequena obra foi-me sugerida por um amigo pessoal, que é assíduo leitor e também colaborador do “nosso” jornal. Aconteceu que, quando procurava dados dessa obra na net, descobri que a Editora “Paulinas” permitia o descarregamento (download) gratuito (são 19 páginas, no total). Portanto, quem tiver curiosidade em lê-la – e aconselho vivamente a fazê-lo – é fácil o seu entendimento. Não vou, pois, substituir-me ao seu conteúdo.
Em todas as áreas da vida e do conhecimento é preciso parar para pensar. Para colher outros conhecimentos, para interrogarmos outos companheiros de jornada e a nós próprios. Quando, ainda jovem, comecei a integrar-me em grupos de trabalho, em grupos de ação, comecei a perceber que esses grupos eram, normalmente, dominados pelos hiperativos, o estilo de pessoas que só se sentem bem…fazendo, fazendo, fazendo, mesmo que continuadamente mal, dispensando as úteis autoavaliações.
As Igrejas estão vazias. No caso português, esse facto verifica-se, muito claramente, desde há três décadas. Nos países de língua portuguesa, o Brasil mantém-se o campeão do cristianismo, mas o catolicismo vem dando lugar, cada vez mais, às igrejas evangélicas, algumas das quais nem se preocupam em disfarçar o seu insaciável objetivo: dinheiro, dinheiro, dinheiro.
No caso português, a Igreja Católica ainda é dominada por um clero excessivamente idoso, conservador, submisso para com a hierarquia nacional e romana. Mas pior que tudo é o seu toque clerical. O escritor Austen Ivereigh – autor do livro citado na minha crónica anterior – “O Pastor Ferido”, não é nada meigo, ao definir o clericalismo da seguinte maneira: “ O clericalismo é a ideia perversa de que clérigos de qualquer tipo – bispos, padres, pessoas consagradas – são superiores aos não clérigos (ditos leigos), que são tratados como inferiores ou como crianças, e cuja tarefa é rezar, pagar e obedecer, e não questionar o clérigo”. E acrescenta: “É uma perversão porque a ordenação confere poderes para administrar sacramentos (…) mas não confere superioridade – moral, espiritual ou intelectual – sobre os não ordenados”.
Acontece que a fome e sede de conhecimento, de infinito, de justiça, de paz e de amor, não são saciáveis e o ser humano procura incansavelmente a solução, de qualquer jeito. A antropologia social pode explicar isso. O nascente movimento internacional “Alpha”, que congrega pequenos grupos domésticos no estudo dos Evangelhos e outras práticas religiosas, sejam católicas ou protestantes, leigos ou padres ou pastores, reúnem-se, semanalmente, à volta de um computador com Net, e todos debatem, desde várias cidades portuguesas e até estrangeiras, sem haver lugar a superioridades ou inferioridades. Consta-me que o ambiente é fraterno e respira-se humildade, tal e qual o dos primitivos cristãos.
Ora, sem qualquer intenção proselitista nesta matéria, posso afirmar que, na minha interpretação, o movimento Alpha está no seguimento do ecumenismo religioso, tendo em conta que o Papa Francisco e a Santa Sé vêm trabalhando na concretização de uma união de todas as religiões monoteístas. Haja Deus!
MJR