Artur Maciel continua a narrar factos, agora mais intensamente relacionados com a história da fundação da “A Aurora do Lima”, e com o seu primeiro Diretor. Emocionado dizia o conferencista: “Dá orgulho e saudade recordar os homens que quiseram e souberam fazer com que “A Aurora do Lima” se publicasse. Mas os homens que ocultamente faziam o jornal, os tipógrafos, particularmente, não eram esquecidos por Artur Maciel.
Luis Xavier Barbosa diz-nos, no livro “Cem Cartas de Camilo, que o fundador da “Aurora do Lima” foi José Barbosa e Silva, um dos irmãos Barbosas. Lançara a público, nesse mesmo ano de 1855, o romance “Viver para sofrer”, que Camilo prefaciou com tanto entusiasmo como extensão, mas que ele nunca pôs à venda, limitando-se a oferecer exemplares a pessoas das suas relações. Dadas as qualidades literárias que lhe assistiam, deve ter sido o melhor animador da ideia.
No entanto, quem pontificava nesse cenáculo de amigos era o Major João Maria Baptista de Oliveira, que, por isso mesmo, foi escolhido para director do Jornal. Muito erudito, escrevia livros didáticos, um dos quais “Corografia Moderna do Reino de Portugal”, em 7 volumes, veio a conquistar medalha e diploma de honra no Congresso Internacional de Geografia, reunido em Paris em 1875. Mas votava-se também à literatura dramática. Uma das suas peças, “O Cego da Praça Nova”, foi representada com êxito e mereceu franco aplauso crítico nada mais nada menos do que de Almeida Garrett.
Outro dos amigos que constituíam esta roda era o 3.º Conde de Almada, D. Lourenço.
José Maria de Almada de Abreu Pereira Cirne Peixoto. Tendo direito a suceder no pariato a seu pai, nunca tomou assento na Câmara, por ser legitimista. Muitos dos que aqui estão ainda conheceram o sobrinho que lhe sucedeu no título – essa esbelta e gentil figura de D. Miguel Vaz de Almada, – e que só o usou, sendo lugar-tenente de D. Miguel II, depois da queda da Monarquia constitucional.
Insisto neste aspecto porque dele se depreende como na sociedade vianense desse tempo a divergência de ideias políticas não impedia os seus homens mais representativos de se ligarem em bom e útil convívio, uma vez que o mesmo amor à terra os conduzia a ocuparem-se igualmente do seu bom nome e do seu incremento.
Tanto assim acontecia que ainda outro miguelista, e dos de antes quebrar que torcer, enfileirava com singular evidência entre os fundadores. Refiro-me a D. António Pereira da Cunha. Além do prestígio do seu nome, oferecia a autoridade da sua experiência. Vindo do “Trovador” de Coimbra, acompanhou Garrett na acção deste a favor da renovação do nosso teatro. Tinha já as peças “Duas Filhas” e “Brásia Parda”, representadas no Teatro da Rua dos Condes, e a “Herança do Barbadão”, levada à cena no D. Maria II. Era redactor de “A Nação” e companheiro, ali, de Silva Bruschy e de João de Lemos.
Em plano menos saliente, mas não menos eficaz para a incipiente urdidura do jornal juntava-se-lhes Sebastião Maria d’Andrade, e Sousa, o professor de francês no Liceu, e que Camilo Castelo Branco viria a considerar o braço direito de José Barbosa e Silva, o único capaz de o substituir.
Dá orgulho e saudade recordar os homens que quiseram e souberam fazer com que “A Aurora do Lima” se publicasse.
Se esta noite, à distância de um século, aqui nos encontramos a evocá-los como preito de gratidão, não serei eu quem esqueça, a par deles e desde já, a memória de quantos, numa labuta de cem anos, não tiveram nome para ser impresso nas colunas do velho jornal, mas sentiram a nobreza desse trabalho humilde e obscuro que é a composição tipográfica, a paginação e a impressão de um periódico. Entre os mais dedicados ao jornal em que trabalham, nunca vi outros que os excedessem em carinho e interesse pela forma como jornal se apresenta e conduz! Seja para todos esses soldados desconhecidos da velha “Aurora” esta comovida palavra de lembrança e homenagem.