Era sabido que esta guerra, resultante da invasão da Ucrânia pela Rússia, fosse ela mais ou menos longa, teria vultuosos custos, particularmente para a Europa, que, a seu tempo, poderão criar insatisfações, traduzidas em agitação social. Vai haver gastos bem superiores para o invasor, mas a falta de liberdade aí existente e a ausência de uma oposição forte sufocarão qualquer pretensão de protesto. Mas deve ser claro que, até ver, nenhuns custos, sejam eles maiores ou menores, se poderão comparar com os que tem o povo ucraniano. E se olharmos para os horrores de qualquer conflito – e este, na era moderna, é aquele que mais visibilidade tem – nunca deveremos contabilizar os males que nos tocam por força da desarticulação das economias, mas estarmos mais ao lado dos que sofrem impiedosamente no espaço invadido.
Sabemos, e já aqui foi dito, que as guerras, sejam do lado de lá ou de cá do mundo, são geradoras de todo o tipo de danos e constituem a maior das tragédias que aos povos podem acontecer. E não vale a pena especificar os horrores que delas advém, porque eles todos os dias, minuto a minuto, nos entram em casa. Por essa razão, já que os governantes não estão à altura de as evitar, ou porque não querem mesmo contorná-las, só nos resta trabalhar para nos mantermos em sociedades livres, que se tornem coesas, cultas e críticas, de forma a podermos influir para gerir os conflitos civilizadamente. Sim, porque a guerra a que assistimos, na sua origem, demonstra bem o quanto o Ser Humano facilmente desce à condição de besta.
Regressando à questão dos custos financeiros e outros que tantos irão suportar (uns quantos irão enriquecer, como já acontece), já os sentimos, mas continuarão a agravar-se, tanto mais que, em todos os domínios, não estamos preparados para sofrer abalos, por mais pequenos que sejam. Temos a terceira maior dívida da Europa, e a décima maior do mundo, estamos mal estruturalmente, importamos muito e exportamos menos, somos pouco eficazes produtivamente, e temos outros males que não vale a pena elencar, de forma que preparamos o caldo ideal para não conseguir aliviar os efeitos da tragédia que temos pela frente. Se bem que não devamos esmorecer.
Ora, em defesa de todos os povos, particularmente daqueles que assistem à destruição do seu país e à morte dos seus melhores filhos, numa guerra própria de loucos, só nos resta exigir a paz. O quadro é sombrio, mas, por vezes, as sociedades conseguem o milagre de isolar e manietar os déspotas, chamando a si o entendimento.