Miguel Sousa Tavares (Expresso de 18.03.2022) está certíssimo em todas as observações que faz. Hoje em dia é perigoso pensar. Existe de facto uma ditadura do pensamento único, auto-apelidada de “liberal”, e quem se atreva a questionar a verdade oficial, quem pretenda dar uma contextualização a este conflito, é logo acusado de anti-americanismo, de iliberal, de pró-Putin, de pró-Russia ou até de pró-guerra. “(…)Não há lugar para a História” disse a propósito Carmo Afonso (Público de 04.03.2022). Correndo o risco de me chamarem isso tudo, aqui transcrevo um excerto da entrevista dada por George Keenan a Thomas L. Friedman (New York Times de 21.02.2022), logo após o Senado ter em 1998 aprovado o alargamento da NATO, que Ana Cristina Leonardo revelou. (Público de 11.03.2022) GK foi o grande arquitecto da política de contenção da União Soviética durante a Guerra Fria. Eis o que GK disse a propósito daquele alargamento: “Acho que é o início de uma nova Guerra Fria. Os russos irão reagir gradualmente de forma bastante negativa e isso afectará as suas políticas. Penso que é um erro trágico. Não havia razão nenhuma para o fazer. Ninguém estava a ameaçar ninguém. (…) [A expansão da NATO] foi apenas uma acção irresponsável de um Senado que na verdade não se interessa por política externa. (…) Fiquei particularmente incomodado com as referências à Russia como um país que morre de vontade de atacar a Europa Ocidental. (…) As nossas diferenças durante a Guerra Fria eram com o regime comunista soviético. Estamos agora a virar as costas às mesmas pessoas que fizeram a maior revolução sem derramamento de sangue da história (…).
Além de GK, outros estadistas americanos como Henry Kissinger, William Perry ou John Mearsheimer, também se pronunciaram contra o alargamento da NATO. Fernando Rosas observou e bem: “Uma das coisas que são óbvias é que se o México um dia pertencesse a uma aliança militar com a China, e pusesse mísseis no seu território, pode ter a certeza de que os Estados Unidos não ficavam a olhar para aquilo, como não ficaram a olhar em Cuba em 1962.” (Público de 26.03.2022)
As preocupações da Russia quanto à sua segurança, foram continuamente ignoradas pela NATO que, contrariamente ao que tinha prometido em 1990 (não se expandir aos países do leste), desde 1999 expandiu-se a 13 países, todos do leste. “(…)
A única explicação que vejo para o alargamento da NATO, essa grande orquestra regida pela batuta dos EUA, é garantir à indústria de armamento dos EUA chorudos contratos de armas. A Russia nunca poderia ser considerada uma ameaça estratégica. Um país com um PIB inferior ao do Texas jamais poderia aspirar a recriar a União Soviética ou uma Grande Russia, como por aí se diz.(…)
É difícil acusar Eisenhower, Keenan, Kissinger, Perry ou Mearsheimer de anti-americanismo. E, como disse Edgar Morin a propósito deste conflito: “Antes de nos indignarmos, é preciso pensar”.
Ronald Silley