No meu tempo de menino e moço, asseverava-se: a maioria dos problemas que afligem as nações eram causados pela falta de cultura dos povos. Os políticos, em geral, afirmavam: quando toda a juventude fosse à escola, instruída e diplomada, pensaria e agiria ainda melhor.
Envelheci, a cabeça cobriu-se de finos fios de prata, mas ao dar a minha voltinha dos tristes, estupefacto, verifico: os jovens, apesar de estarem mais instruídos, comportam-se, tal e qual, como os semianalfabetos do meu tempo: berram estridentemente nos transportes públicos, penduram-se nos varões do metro, usam vocabulário ignóbil, são violentos, desrespeitadores e perversos, igual ou pior à geração boçal de outrora.
Portanto, a instrução nada muda, nos modos, comportamentos e no carácter. Pode, e ainda consegue, embora cada vez menos, melhorar o nível de vida das populações, mas não as educa.
Digo: cada vez menos, devido à abundância de licenciados. A lei da oferta e procura começa a trabalhar.
Em férias que passei em casa de meus sogros, em São Paulo, encontrei electricista que consertava o chuveiro elétrico. Reparou o operário no meu sotaque e estabeleceu conversa. Confessou-me que era engenheiro eletrotécnico, mas como não encontrou melhor emprego, trabalhava numa oficina.
Em sapataria, nas cercanias do Viaduto do Chá, fui atendido por jurista!…
Em Portugal, não é raro deparar com licenciados a trabalharem em supermercados ou como balconistas.
Há anos, o lixeiro que recolhia o lixo da minha residência, dizia-se engenheiro!… Assim como o carpinteiro, de origem estrangeira, que reformou a minha cozinha.
Uma tarde, conversando com jovem universitário, este declarou-me, dolorosamente, que muitas vezes é necessário omitir habilitações, para encontrar trabalho.
Se outrora bastava estudar para singrar, agora, se não for de família influente ou excecional, o único recurso é envolver-se em política.
O antigo ministro Manuel Carrilho, em 2001, disse ao “Diário de Notícias”: “É difícil encontrar áreas onde os jovens estejam melhor instalados do que na política? Aos vinte têm emprego, aos 30 já estão aposentados”.
Dei tantas asas ao pensamento, que me esqueci de abordar o tema que pretendia expor: a razão dos jovens comportarem-se como os antigos analfabetos. A razão é simples: não é a instrução que molda o caráter e o comportamento, mas sim a educação.
A escola ensina, mas não educa. Pode – o que não devia – inculcar ideologias.
Quem educa são: os pais, os avós e restante família, algumas vezes a Igreja, mas principalmente as mães.
Como as mães, em regra, já não foram educadas, como podem saber o que é educar?
Antigamente conhecia-se, pela educação, as classes sociais. Agora encontram-se, infelizmente, quase todas niveladas, não por cima, mas pela ralé. São os sinais dos tempos.