Dormir descansado

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Não sei se ainda hoje sucede o mesmo mas, quando prestei serviço em Viana do Castelo, a população da cidade aumentava grandemente no período das festas da Senhora da Agonia.

Tal aumento, para além de outros de diversa natureza, reflectia -se de forma muito significativa no trânsito, no estacionamento de viaturas e no alojamento. 

Recordo -me de, no largo fronteiro à Capitania do Porto, ver pessoas a tomarem as refeições trazidas de casa, frequentemente utilizando mesas e cadeiras portáteis e outros a dormir em colchões instalados no tejadilho das camionetes de excursão, alguns destes últimos com o requinte em usar pijama. Até os próprios passeios eram usados como local para colocação de colchões ou, em sua substituição, de mantas como locais para pernoitar

Como é sabido o edifício da Capitania tem duas portas de acesso, uma usada para os serviços e a outra, embora dando acesso ao mesmo local do que a primeira, indicada para acesso à residência do Capitão do Porto, porta essa normalmente só utilizada fora das horas normais de serviço. 

Num qualquer dia que não recordo qual fosse, durante o período das festas, sucedeu que, já bem depois da hora de jantar, tive necessidade de sair de casa utilizando, como aliás sempre o fazia, a porta da Capitania correspondente à residência.

Ainda mal aberta a porta, não sei quem terá ficado mais surpreendido, se eu, que ia pisando uma pessoa, ou qualquer dos membros do casal que, utilizando o degrau da porta como cabeceira, ali se encontrava a dormir; o que sei é que após um sonoro palavrão ouvi, com a característica pronúncia do Norte, a seguinte frase :

“ Já nem aqui se pode dormir descansado ? !!! “

Carlos A. E. Gomes

 

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