“Um livro, uma Conversa e às vezes um filme” traz este sábado à Biblioteca Municipal de Caminha, pelas 18h, a obra “50 Anos de Políticas Ambientais em Portugal – da Conferência de Estocolmo à Atualidade”, com a presença da autora, Luísa Schmidt, e apresentação a cargo de Alexandre Quintanilha. A participação do público é gratuita. A organização é da responsabilidade do Município de Caminha e dos Amigos da Rede das Bibliotecas de Caminha.
Na síntese de “50 Anos de Políticas Ambientais em Portugal – da Conferência de Estocolmo à Atualidade” ficamos a saber: “Em Portugal o arranque das políticas ambientais está ligado à criação da Comissão Nacional do Ambiente quando o país, até então arredado das organizações internacionais, foi convidado pela ONU para participar na Conferência de Estocolmo em 1972. Vivia-se uma época de cautelosa abertura política que ficou conhecida como ‘Primavera Marcelista’ e nas vésperas da mudança histórica do 25 de Abril de 1974.
Para além de uma Introdução que situa as raízes da problemática ambiental em Portugal, este livro abre com um conjunto de testemunhos de personalidades que, direta ou indiretamente, se destacaram nesse arranque pré-Abril de 1974 – uma fase de modernização do país na qual se pode situar o arranque das questões ambientais e ecológicas”.
“Um segundo conjunto de textos integra reflexões de protagonistas que assumiram funções importantes já em plena democracia e sobretudo pós-adesão à Comunidade Europeia na área do ambiente, fosse nos movimentos cívicos, na educação ambiental, na ciência, na cultura, no ordenamento do território ou na economia.
A terceira parte do livro dedica-se às principais dimensões que constituem hoje as Políticas Ambientais em Portugal – Água e Saneamento Básico; Resíduos Urbanos; Áreas Protegidas e Conservação da Natureza; Florestas; Alterações Climáticas e Energias; Educação e Cidadania Ambiental. Cada um destes temas corresponde a um capítulo onde se apresenta a sua evolução, marcos fundamentais, estado atual, avanços e retrocessos e também os desafios futuros que se colocam. Cada capítulo inclui úteis cronogramas destacando as principais leis e instituições; acontecimentos nacionais e internacionais e os momentos-chave do lançamento e implementação destas políticas”.
Em suma, a intenção deste livro, que convoca testemunhos, reflexões, vivências e conhecimentos de pessoas de diferentes gerações, é ser um contributo para a memória e também uma síntese de informação útil à ação e à intervenção. Um livro que ajude a esclarecer a dinâmica e o processo do ambientalismo em Portugal ao longo de 50 anos, e constitua também um instrumento de trabalho no qual se possa consultar por capítulos temáticos e tabelas organizadas, tanto as políticas como as leis e instituições que foram sendo criadas, ou os acontecimentos mais marcantes de escala nacional e internacional, com os protagonistas, os conflitos, os avanços e os retrocessos, as ações e as inércias.
Algumas notas soltas sobre a evolução, estagnação e mudanças – De um modo geral podemos dizer que: “a questão da água para consumo humano foi das que mais evoluiu positivamente nas últimas décadas. O saneamento básico também evoluiu positivamente. Tal como a educação ambiental que as escolas integraram nos seus programas e a intervenção da cidadania ambiental, sobretudo entre os mais jovens; novos problemas que há 50 anos não se colocavam de forma tão aguda, tornaram-se entretanto mais visíveis e agravados – como é o caso da erosão costeira e subida do nível do mar, entre os inúmeros impactos das alterações climáticas que surgiram e têm vindo a agravar-se: secas extremas, ondas de calor que afetam a saúde pública; incêndios e desordenamento florestal; há problemas que se agravam devido à inação das políticas públicas, como é o caso das Áreas Protegidas e conservação da natureza, nas quais se tem investido pouco, deixando degradar os ecossistemas e biodiversidade. Também as áreas protegidas marinhas praticamente não avançaram; há problemas que têm tido altos e baixos como é o caso dos resíduos urbanos – que passaram de lixeiras a céu aberto a processos de recolha seletiva iniciados em 1999/2000 (aquando da instalação dos ecopontos e sistemas de recolha). Contudo, atualmente estamos longe das metas europeias estabelecidas para a recolha e reciclagem de embalagens e de resíduos orgânicos; outros problemas que se foram sempre agravando como é o caso do desordenamento do território no que respeita ao alastramento dos subúrbios, a par da falta de transportes públicos eficientes (comboio e metro) criando uma enorme dependência rodoviária e consequente problema de poluição do ar e emissões de GEE, além dos problemas de ruído”.
Luísa Schmidt, socióloga, é investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, coordenadora do Observa e membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS).
Alexandre Quintanilha viveu os primeiros 25 anos na África Austral, onde se formou, os 20 anos seguintes na Bay Area da Califórnia e os últimos 30 anos em Portugal. “Teve a sorte” de liderar inúmeros grupos de investigação e de conviver com pessoas imensamente inspiradoras. Doutorou-se em física teórica, estudou o stress oxidativo nos seres vivos e a forma como lidamos com o risco. Criou e ajudou a criar centros e institutos de investigação e diferentes cursos de estudo nas Universidades de Berkeley e do Porto e no LBNL, sempre multidisciplinares. Como parlamentar, contribuiu para uma política baseada no conhecimento.