Histórias de vida

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Aníbal Alcino

Tal como acontece em tantas cidades do mundo, é usual na nossa Viana surgirem espaços pejados de horrorosas “pichagens”, de cores gritantes em túneis, caves e outros lugares mais escondidos… Esta aberração chega a conspurcar paredes e portas de qualquer entrada para a rua não respeitando a beleza de qualquer prédio arquitetónico bem concebido.

No meu querido Alentejo, morava perto de uma fonte de água para homens e animais, as casas todas pequeninas, só de um ou dois pisos no máximo, era um regalo vê-las constantemente caiadas a tinta azul, amarela ou ocre.  Todas eram frequentemente varridas e a limpeza era um costume ancestral. Não havia lixo no interior dos prédios e a cozinha estava sempre asseada com uma jarrinha de flores campestres por cima das mesas de jantar feitas de pinho tosco, com os vidros das janelas sempre impecáveis. 

Na periferia das povoações, os trigais alourados, tocados pelo vento, assemelhavam-se às ondas do mar que morriam na linha do horizonte.  Os sobreiros, as oliveiras, as azinheiras e os animais que se alimentavam da bolota, espalhadas pela imensa planície, tocando os tão característicos chocalhos, pendurados ao pescoço, davam-nos um sentimento de paz e uma musicalidade saudosa.  Viana do Alentejo não tem rio, nem mar. Não tem o monte de Santa Luzia, nem as belas praias que se estendem até Vila Praia de Âncora, Afife, Caminha, Valença, Monção, Melgaço.  Não tem toda a riqueza que o Minho Litoral possui mas contém uma gente bondosa, serena, vertical, de cantares dolentes (à capela), que nos recordam aqueles sons divinais e gregorianos de Bach ou de Haendel. 

Há muito pouco tempo, no mês de junho, fui visitado por uma Delegação da Câmara Municipal de Viana do Alentejo, composta pelo seu Presidente e colaboradores, entre eles o Vereador da Cultura, para registar o facto de ter sido professor de Desenho, Olaria e Cerâmica naquela povoação Alentejana. Recebi-os o melhor que pude e respondi a uma série de questões, o que demorou cerca de duas horas. A “conferência” foi filmada e, no fim, fomos todos almoçar à “Adega do Chico”, onde igualmente fomos bem recebidos.  Já no fim desta simpática visita, foi-me perguntado porque, gostando tanto de Viana do Alentejo, vim para Viana do Castelo? – Olha, disse eu, para acautelar o futuro dos meus filhos, já que em Viana do Alentejo não seria fácil para eles arranjar colocação e prosseguir os estudos secundários até ao décimo segundo ano e, daí, ao ensino universitário. No tempo em que eu lá estive, Viana do Alentejo só tinha essa escolinha de formação profissional (de três anos), e nem uma escola preparatória possuía. “A volta” só se deu alguns anos após a minha partida. Mas por lá, também lecionou um dos maiores artistas plásticos de todo o País, o mestre Júlio Resende, e alguns outros de menor relevância, como a minha própria pessoa, mas que veio a ser Diretor da Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, que chegou a ter cerca de dois mil alunos, mais cerca de duzentos funcionários, entre professores, mestres, pessoal da secretaria, contínuos, pessoal da limpeza, etc..

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