O “Repositório Genealógico do Concelho de Caminha” dá a conhecer mais de 127 mil pessoas, reconstituindo as comunidades históricas do concelho, freguesia a freguesia, ao longo de três séculos. São 10 anos de um trabalho de investigação hercúleo, que agora partilhamos com o mundo e que está à distância de um clique. A vastíssima informação, reunida numa plataforma digital, permite conhecer com bastante profundidade a evolução do concelho, entre outros, ao nível das famílias, ofícios, relações transfronteiriças, papel da mulher, aspetos sanitários e mesmo impacto de acontecimentos internacionais. O trabalho foi ontem apresentado ao fim da tarde, nos Paços do Concelho.
Na cerimónia de apresentação do “Repositório Genealógico do Concelho de Caminha” estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages; Aurora Botão Rego, coordenadora do Repositório do Concelho de Caminha; João Azevedo, membro do Repositório do Concelho de Caminha; Norberta Amorim – autora da metodologia e do projeto do Repositório Nacional e membro da Casa de Sarmento (Unidade Diferenciada da Universidade do Minho); Antero Ferreira, diretor da Casa de Sarmento (Unidade Diferenciada da Universidade do Minho) e Filipe Salgado, programador informático da Casa de Sarmento (Unidade Diferenciada da Universidade do Minho), entre outras entidades.
“Hoje é um dia muito feliz para o concelho de Caminha. Ao mesmo tempo em que inauguramos a obra de requalificação dos Paços do Concelho, apresentamos também um trabalho de maior dignidade e importância para o concelho de Caminha. Falo-vos do Repositório Genealógico do Concelho de Caminha”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages.
A tese de doutoramento da investigadora e funcionária da Câmara Municipal, Aurora Rego, concluída em 2013, foi o ponto de partida para a construção deste Repositório. O tema foi, na altura, a evolução demográfica da freguesia de Gontinhães (atual Vila Praia de Âncora). A ideia de replicar a investigação nas outras freguesias do concelho surgiu nessa sequência e foi lançado o desafio ao Presidente da Câmara de então, que o aceitou. Começou assim o processo que demorou uma década e contou com o entusiasmo de diversas pessoas, muitas do concelho, sendo a investigação coordenada por Aurora Rego.
Em 2014, a Câmara Municipal de Caminha celebrou um protocolo de investigação com a Universidade do Minho e Casa de Sarmento (Guimarães) que visava a reconstituição de todas as comunidades históricas do concelho, através da construção de uma base de dados genealógica por cada freguesia, desde o início da existência dos assentos paroquiais (normalmente nas primeiras décadas do século XVII).
Em 2015 realizou-se a apresentação do projeto “Repositório Genealógico do Concelho de Caminha”, incluindo a assinatura de um protocolo de colaboração com alguns investigadores locais que cederam as bases de dados já construídas de algumas paróquias.
“Fez-se um trabalho maturado, minucioso, atento, de filigrana, nas 14 freguesias do nosso concelho”, disse o presidente da Câmara.
Sobre o Repositório, Rui Lages sublinhou: “este é um projeto de elevado valor cultural, histórico e humano. A criação de um repositório genealógico vai muito além de arquivar documentos ou de se reunir dados sobre uma determinada pessoa ou família. Trata-se, sobretudo, de um ato de preservação da nossa história”, acrescentando “a partir deste estudo, cada pessoa, poderá conhecer um pouco mais de si, descobrir os seus antepassados e compreender as trajetórias que moldaram a sua própria existência. A implementação de um repositório genealógico é um legado que deixaremos para as gerações futuras. Este é um tesouro que transcende o tempo e as fronteiras, conectando pessoas e gerações num elo contínuo de história e humanidade”.
O autarca agradeceu a todos os investigadores, a todos os anónimos que de uma forma ou de outra contribuíram para alcançarmos este resultado. Às diversas Instituições que dedicaram o seu tempo e saber para que o concelho de Caminha se tornasse mais rico e mais sabedor de si mesmo.
Este projeto contou com o apoio da Academia Sénior de Caminha que, no âmbito da aula de História do Concelho, lecionada por Aurora Botão Rego, que envolveu os alunos na investigação.
A investigação desenvolveu-se, como referimos, a partir dos registos paroquiais (casamentos, batizados e óbitos), nem sempre a partir da mesma data nas várias freguesias, sendo a Caminha onde mais se recuou no tempo, com registos desde sensivelmente 1612.
A metodologia da investigação é da autoria de Norberta Amorim, professora Jubilada da Universidade do Minho e orientadora da tese de Aurora Rego.
Problemas pessoais de saúde em 2019, a que se seguiu a Covid-19, trouxeram alguns contratempos, mas não impediram a evolução da investigação, a que se tinham juntado outras pessoas, como os venadenses João Azevedo (professor Jubilado) e Lúcio Mourão (médico, entretanto aposentado).
Por parte da Casa de Sarmento (Unidade Diferenciada da Universidade do Minho) são de realçar os contributos decisivos do Professor Antero Ferreira (diretor) e do Engenheiro Filipe Salgado, na parte informática: aplicações e gestão da plataforma.
Agora, uma década depois do desafio inicial, o resultado de milhares de horas de trabalho de uma equipa é pautado pelo sucesso e é partilhado online com todos os que quiserem conhecer melhor o concelho de Caminha. Como referimos, a informação está disponível freguesia a freguesia, resgatando a identidade das gerações passadas desde o início dos lançamentos dos registos paroquiais, identificando todas as famílias que participaram na evolução das freguesias do território, bem como atribuindo um nome a todos os indivíduos que integraram as várias camadas geracionais anónimas das nossas terras. Permite, não só aos residentes, mas a todos os indivíduos que têm ligações ao concelho de Caminha, em qualquer parte do mundo, aceder às suas raízes familiares e genealógicas, desde o início do século XVII.
A genealogia das freguesias do concelho de Caminha poderá ser consultada na plataforma digital da Casa de Sarmento (Unidade Diferenciada da Universidade do Minho), onde se encontra alocado o Repositório Nacional.
Através do website do Município de Caminha, na área “Viver”, acede-se também a uma ligação ao Repositório Genealógico do Concelho de Caminha.