Vou contar-vos uma pequena história para aliviar a mente, ocorrida no Médio-Oriente entre beduínos que cruzavam largo e árido deserto. Este caso explica perfeitamente o curioso fenómeno psicológico que nos ilude, pensando, erradamente, que estamos naufragados em complicado labirinto ou cativos em fortes grilhetas que, na realidade, nunca existiram:
Uma imponente caravana de beduínos atravessava extenso deserto, levando numerosa cáfila carregada de tendas e mercadorias. Pelo declinar do sol abrasador, abrigaram-se num aprazível oásis. Os criados apressaram-se a prender os quadrúpedes, mas verificaram que perderam uma estaca. Eram trinta camelos e só havia vinte e nove varas. Pensaram prender dois animais na mesma estaca, mas recearam que brigassem. Não sabendo como resolver o problema, dirigiram-se ao senhor da caravana, para pedir-lhe conselho. Este, após aturada ponderação, recomendou-lhes: – espetem as 19 estacas, e prendam os camelos. O que sobrou, levem-no, mansamente, e executem os mesmos gestos como se realmente o tivessem prendido.
Assim fizeram. O camelo, pacientemente, a tudo assistiu. De seguida, deitou-se, permanecendo quieto e tranquilo. Ao romper da alva, levantaram o acampamento, desmontaram as tendas e foram libertar os animais. Ao chegarem junto do camelo que permaneceu solto, verificaram, atónitos, que continuava sossegado, aguardando a hora de o soltarem. Pontapearam-no, brandamente, para que se erguesse, mas o animal não obedecia. Foram contar ao amo o sucedido, estupefactos pelo que viram.
Este apenas lhes disse: – Ide! Façam todos os gestos como se ele tivesse sido aferrado, e verão que, prontamente, obedecerá às vossas ordens. Assim fizeram. O animal levantou-se, aguardando calmamente que o carregassem.
Esta inocente historieta é uma, entre outras, que o conhecido psiquiatra e psicólogo Platanov narra no interessante livro “Psicologia Recreativa”, recordando que “existem” amarras, que nos dominam, que não passam de ilusões criadas pelo nosso cérebro.