Em Portugal, dizia-se, e ainda hoje se diz, que de Espanha… “nem bom vento, nem bom casamento”. Nado e criado a poucos quilómetros da Galiza/Espanha, ainda hoje tenho saudade dos ventos que de lá sopravam. E, como a maioria dos alto-minhotos, tendo familiares descendentes de galegos/espanhóis, talvez também por isso, nunca tenha concordado com este ditado popular.
Quando, nos dois primeiros anos deste século, residi em Ourense, aprofundei o conhecimento da história da Galiza e de Espanha. Além da nossa tradicional ignorância acerca da história dos outros povos ibéricos, verifiquei que, apesar desta ignorância, imitamos, embora com algum atraso, quase tudo o que vinha de Espanha, tanto quanto a política, como a cultura e a costumes.
Para perscrutar o que se passará em Portugal, lanço sempre um olhar sobre o que se passa no Mundo, especialmente na Europa e em particular na Espanha. No Parlamento de Madrid, há poucas semanas, debateu-se uma moção de censura ao Governo de coligação espanhol (socialistas, bloquistas e comunistas), apresentada pela extrema-direita, que, como se esperava, foi rejeitada, com a abstenção dos conservadores. O que não se esperava da extrema-direita espanhola era que ela apresentasse como candidato a presidente do Governo um economista, ex-militante comunista, bem conhecido nas escolas de economia pelos seus livros, editados em várias línguas, incluindo o português.
No último domingo, realizaram-se eleições regionais e municipais em Espanha, cujos resultados coloriram de azul (centro-direita) o mapa político do país vizinho. E, assumindo a derrota eleitoral, o líder socialista e presidente do Governo solicitou ao Rei a dissolução das Cortes e a convocação de eleições gerais para 23 de julho próximo, antecipando as que estavam previstas para o fim do ano.
Os ventos que sopram de Espanha sempre se sentirão em Portugal. Por isso, estará na hora de começar a preparar a navegação, a favor ou contra eles, consoante o quadrante político-ideológico em que nos posicionarmos!