Caro leitor, sei seguramente que, após esta reflexão, me vou colocar numa possível posição de ser alvo de várias críticas, caras feias e olhares desconfiados. Ainda assim, sinto ser o meu dever cívico, do mesmo modo que a minha consciência não ficaria tranquila enquanto não partilhasse este pensar.
Das várias desculpas que o ser humano é capaz de usar e recriar, a desculpa do “não tenho tempo” é a que mais me surpreende. Infelizmente, não me surpreende pela positiva. Se vamos usar desculpas com alguma frequência na nossa vida, que ao menos possamos fazer uso da nossa genialidade e criatividade para tal, uma vez que esta está, claramente, gasta.
O que é não ter tempo? Qual a minha noção de tempo? E a sua? Aliás, o que é o tempo?
Esta poderá ser, talvez, das questões mais difíceis para o Homem compreender e, quiçá, definir, em termos concretos.
Eu não tenho nenhuma definição absoluta do que é o tempo, nem tão pouco pretendo. Tenho, sim, a minha compreensão de tempo, que entendo como o espaço existente entre o momento do nascimento e o momento da partida do nosso corpo físico para uma outra dimensão. Durante este intervalo, é-nos dado tempo para viver. Para uns, é percecionado como muito curto. Para outros, como suficiente. Já para alguns, o tempo parece não passar.
Chego à conclusão que o tempo terá tantas definições quantas vidas existem. Seja como for, o objetivo desta reflexão não é identificar o tempo, mas sim perceber a forma como o usamos e como o percecionamos. Quando alguém me diz “não tenho tempo”, por norma, sorrio. E sorrio por duas razões: primeira, porque sei que, no fundo, não é bem aquilo que a pessoa quer dizer ou experimentar; segundo, porque quando penso no que realmente é não ter tempo, de algum modo, fico feliz que a pessoa o possa dizer.
Muito recentemente estive bastante doente e, ao entrar pelas portas do hospital, creio que na mente de muita gente deverá passar uma ideia em comum – se vive para ver o amanhã. Eu, não fui diferente. Quando finalmente regressei a casa e me compus, fui invadida por uma força que me mandou assistir a documentários da nossa história, e dei por mim a rever coisas sobre a II Guerra Mundial, a antiga União Soviética e, mais recentemente, o atentado às torres gémeas.
Para qualquer pessoa sensível, como eu, é natural que estas memórias choquem e nos façam pensar naquilo que foi e naquilo que é. Todavia, ao terminar os documentários daquilo que aconteceu a 11 de setembro em Nova Iorque, um flash repentino veio-me à mente: “o que estas pessoas precisavam era de um pouco mais de tempo.” Porque digo isto? Porque gostaria que o leitor, quando da próxima vez pretender usar a desculpa do “não tenho tempo”, se lembre destas pessoas. Estas pessoas que ficaram presas no andar onde o avião aterrou e nos andares superiores, tiveram tudo, menos tempo. Lutaram pela vida o melhor que puderam no tempo que lhes foi dado, todavia, quando as torres colapsaram e desapareceram no espaço, o seu tempo cessou.
Não, esta não é uma tentativa minha de querer ser mórbida ou sentimentalista, pese, à primeira vista, que o possa parecer. Contudo, gostaria de convidar o leitor a assistir a estes trechos de história e, quando terminar, se sente em silêncio por 5 minutos para fazer as seguintes perguntas: para que é que eu não tenho tempo? Ou pior, para quem é que eu não tenho tempo?
Às vezes, não temos tempo para cuidar e estar junto daqueles que mais gostámos. Outras vezes, não temos tempo para cuidar de nós mesmos. Grave, é quando essas vezes são demasiadas vezes, como uma espécie de crença ou ideal que vivemos rotineiramente.
Não sei quanto a si, mas continuo a achar que saúde e tempo é, e sempre será, o ouro mais valioso que nos foi dado. Cabe, assim, a cada um de nós, fazer o melhor uso do tempo que nos resta, porque algo é deveras evidente: o tempo não volta para trás, e um dia, quando olharmos sobre o ombro, já foi tempo… E se tiver de fazer uma escolha, escolha viver, com aquilo que tem, no tempo em que está.
Um bem hajam!