“Salto” de João Gigante em exposição no Museu de Artes Decorativas

João Gigante é um artista multifacetado de que Perre muito se orgulha. A sua última abordagem utiliza a fotografia para revisitar a jornada épica de seu pai, quando partiu para França “a salto”. Este é um termo que, para quem ainda viveu os tempos conturbados do Estado Novo, tem um significado especial. O João não viveu esses tempos mas reteve a narrativa de seu pai, narrativa essa que “o obrigou” a conhecer o espaço amplo que testemunhou angústias e sofrimento de quem protagonizou tais aventuras. Trata-se de “um relato” construído pelas memórias de quem o viveu e de quem as escutou com a atenção de um filho e a sensibilidade dos poetas. Porque eivadas de sentimento e porque são elucidativas sobre a fundamentação do seu projeto, ficam as palavras do artista para melhor conhecimento: “O projeto Salto assenta num conjunto de conceitos que abordam uma relação entre a revisitação a um passado familiar, através das fotografias de família, e a construção documental fotográfica tendo o território e a fronteira como resposta. As fotografias de família são a alavanca e é nestas que encontro o ponto de partida. Numa leitura exaustiva sobre as mesmas, entendo que existe uma relação importante com aquilo que foi a viagem clandestina de meu pai, em 1971, para França. Nestas mesmas fotografias existe uma falha: não existem fotografias que documentem a viagem que realizou. É a partir destes conceitos, entre o que é um momento e a ausência de parte desta memória, que pretendo metaforizar  a sua viagem a salto. A partir das fotografias de família (e depois de encontrar o ponto de partida), é criada uma relação com o conceito de território e fronteira. A utilização destes conceitos sustenta a construção de uma viagem realizada no presente, por mim enquanto autor. Utilizo o território e aquilo que o identifica visualmente (estradas, trilhos, sinalética…) como proposta de reconstrução do percurso até à fronteira. As imagens e sons realizados descrevem uma possível viagem na atualidade, sobre um território que teria sido o que o meu pai atravessou. O facto do meu pai apenas se lembrar que teria sido em Melgaço o lugar de passagem, fez com que a construção fosse ampla e plasticamente polissémica. Assim, existe a revisitação a um passado familiar, inscrevendo um assunto global (a emigração clandestina em Portugal), ou seja, este projeto formaliza conceptualmente a construção de uma viagem visual pelo território, sustentada naquilo que é a história pessoal do meu pai. O território e aquilo que o identifica visualmente como metáfora de uma viagem: da memória ao território”.

A exposição está patente até domingo, 17 de junho, no Museu de Artes Decorativas, em Viana do Castelo.

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