livro já estava há algum tempo no circuito livreiro, mas a sua apresentação aconteceu no sábado passado, dia 06, à tarde na Biblioteca Municipal. Em conversa e ambiente intimistas, a escritora Fernanda Santos encarregou-se de falar desta última obra de Orlando Barros (OB).
Fê-lo, porém, de forma longa, talvez excessiva, digamos, porque para os presentes o autor não é um ilustre desconhecido, nem como cidadão, nem como escritor. A sua prosa, plasmada em inúmeros livros, alguns deles premiados, em 40 anos de escrita (“40 anos de dedos escreventes”, slogan que adotou no ano transato) é bem conhecida, especialmente pelos seus fiéis leitores.
O Orlando não é muito de protocolos formais e é bem capaz de inverter todas as formalidades, não se coibindo de brincar com os netos, como aconteceu, quando lhe invadiram a mesa que presidia à cerimónia. Pois, e é esta informalidade que desanuvia ambientes e dá riqueza aos atos. Esta obra com que nos contempla, “Manuscritos de Leiria”, conta-nos a história da jovem Palmira João, que durante quinze anos e quatro meses sofreu a ausência forçada do seu companheiro, perseguido pela polícia política do regime. Dada a sua beleza, foi muito seduzida, mas soube bem resistir durante esse longo tempo, considerado de cativeiro. Findo esse extenso interregno de vida conjugal, porque abril aconteceu, ele voltou, mas velho e exausto, para, na antiga cama que já o estranhava, ainda poder afirmar: “este país vai continuar a ser uma merda, mas agora é o meu”. Este pequeno gole levanta tenuemente o véu de uma bonita e comovente narrativa.
Orlando Barros continua igual a si próprio, na boa escrita e na criação de histórias de suspense que prendem o leitor, obrigando, em mais este caso, a não se quedar e a evitar hiatos de leitura, antes devorando incessantemente capítulos e capítulos até saber o fim de um livro que chega a desassossegar. Muito bem, Orlando. Venha lá, então, o novo livro, já pronto, os “15 contos quilhados”. Mas sobre isso falaremos mais tarde.
GFM