“Boa noite Mãe” sobe ao palco no Diogo Bernardes

Sexta-feira à noite, dia 18 de Janeiro, a partir das 21h30, o Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, apresenta o espectáculo de teatro Boa Noite Mãe, para maiores de 18 anos, da dramaturga norte-americana Marsha Norma, texto que venceu o Prémio Pulitzer, em 1983 e que, nesta encenação, a cargo de Hélder Gamboa, com interpretação de Ângela Pinto e Sylvie Dias, pela Tenda Produções, estreou na Sala Estúdio do Teatro da Trindade a 17 de Setembro. O valor da entrada é de quatro euros.

Numa casa de classe média no interior do país, mãe e filha enfrentam uma noite que parece igual a qualquer outra. Porém, ao longo do diálogo, as duas mulheres vão revelando a sua verdadeira natureza, pondo-nos a par do que foi a sua vida até aí. A filha, epiléptica, com um casamento falhado e um filho delinquente, está farta de viver. A sua relação com a mãe, viúva, mulher fria e pragmática, nunca foi a melhor. Diante do público vão desfilar ainda todos os outros membros da família, agora ausentes. A conversa entre as duas que traz à tona o ressentimento, a solidão e a incompreensão de toda uma sociedade, para desaguar, enfim, num libelo à vida, para o entendimento e o amor.

“Nós temos uma vida boa, as duas” diz Telma, mãe de Luísa.

Esta noite vai ser especial na vida destas duas mulheres que vivem juntas na mesma casa, mas em mundos diferentes, porque Luísa diz à mãe que vai terminar com a vida nas próximas duas horas. Desde o primeiro momento que acompanhamos os rituais tranquilos e ordeiros de Luísa, enquanto o sol se põe sobre uma pequena casa de classe média numa zona rural, onde toda a sua atenção vai para o cumprimento de uma lista que foi elaborada para não deixar nada por fazer neste seu último dia de vida. São tarefas monótonas e enervantes como encher frascos de doces, deixar o frigorífico com produtos dentro do prazo, cancelar jornais, mas sempre a controlar o tempo para não fugir ao seu objectivo. Ao completar cada tarefa, ela assinala na sua lista, a cada segundo que passa a sua determinação é admirável. A revelação de Luísa, chega sem raiva, confrontos, histerias ou lágrimas. Esta não é uma decisão precipitada, ela já pensa nisto há pelo menos dez anos. Num espectáculo com 90 minutos com um texto de Marsha Norman, vamos assistir à tentativa de persuasão da mãe para que a filha abandone esta sua intenção macabra, recorrendo a vários estratagemas que irão deixar quem vai ver este espectáculo preso a cada palavra dita. À medida que a noite avança, ela é forçada a perceber que, para Luísa, a sobrevivência está fora de questão. Mas é Luísa que controla a história. O retrato de uma mulher que calmamente planeia a sua própria morte, indo ao ponto de sugerir como a sua mãe deveria lidar com ela no funeral, é totalmente convincente. Seu exterior frio, ausente de arrependimento ou emoção de qualquer espécie, oblitera qualquer piedade que possamos sentir por ela. Nós não acabamos a desejar a morte dela, mas percebemos, como Luísa parece ter sabido o tempo todo, que a morte nada mais é do que um aspecto da vida que às vezes é atrasado por forças além do nosso controle. Tudo o que ela faz é acelerar um pouco as coisas.

“Não vamos ter mais conversas como esta, porque é precisamente o que vem a seguir que tornou esta conversa tão boa”, diz Luísa.

A autora não acreditava no início que este texto tivesse uma grande aceitação do público devido ao seu humor negro, mas logo nos ensaios e na primeira vez que subiu ao palco percebeu o seu potencial. O espectáculo teve quatro nomeações ao Tony, incluindo a melhor peça, um prémio Pulitzer em 1983 e uma versão cinematográfica adaptada pela autora em 1986. Hoje é um texto representado em todo o mundo e é apresentado pela terceira vez em Portugal, com as actrizes Ângela Pinto e Sylvie Dias e encenação de Hélder Gamboa, numa coprodução do Teatro da Trindade com a Tenda Produções.

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