À conversa com Bernardo Barbosa

Nasceu e viveu em casas onde o “A Aurora do Lima” se editou, particularmente nesta em que se situa desde 28/09/1951. A este jornal deu boa parte da sua vida. Os últimos 16 anos na condição de Diretor. Agora está com alguns problemas de saúde, mas continua a ser um dos administradores da empresa e a viver com a mesma paixão a sua querida Aurora. Uma visita para o saudar e rever algo do passado impunha-se. Foi o que fizemos.

Aconteceu no penúltimo dia do ano que findou. Combinado o encontro, foi só dar uma saltada à casa onde mora, na Urbanização do Moinho, na Freguesia de Areosa, já integrada no perímetro de Viana, por isso bem perto e de acesso fácil. Mas mais fácil foi estabelecer um diálogo animado com ele. Quem o conhece sabe que é homem de longas conversas, porque de memória prodigiosa. Há aspetos de menor mobilidade que tem que ultrapassar, mas aí impõe-se-lhe alguma paciência e o não descuido de práticas recomendadas. Para quem detesta a inatividade não é fácil, mas na vida temos que estar preparados para momentos menos bons, particularmente quando estes têm a ver com saúde.

E o Jornal?

Saber como vai o jornal, como se estão a ultrapassar os problemas, as dificuldades com que se depara em cada dia, as tendências para o crescimento do número de leitores e assinantes, a procura da publicidade por parte dos anunciantes, as melhorias no arranjo gráfico e tantas outras coisas que vão acontecendo na vida de uma publicação, seja ele de que ordem for, são questões que interessam a quem passou uma vida inteira em vivência permanente com este mundo comunicacional, apesar da conversa telefónica regular que vai tendo com todos os que constituímos a equipa redatorial. Pois, dizemos-lhe, debatemo-nos com as dificuldades de sempre. Aquelas que bem conhece. Olha-nos com alguma tristeza, já que gostava de saber de coisas mais animadoras. Mas o jornal vai continuar por muitos anos a ser a “Velha Aurora”, como lhe chamava e a retratava o nosso querido Juvenal Ramos. Talvez ele esteja lá de cima a acenar-nos e a dizer-nos que nos vai honrar com mais um dos seus brilhantes cartoons.

Sim, Juvenal Ramos

Olhando-nos atentamente, diz-nos: “vejam aquela pasta encostada aquele sofá. Contém boa parte dos trabalhos que do Brasil nos foi enviando. Foi durante anos um animador das primeiras páginas do nosso Aurora. Alguns estão na redação, na receção e na sala de visitas, emoldurados, como sabem. Estes, aqui os fui guardando para que a humidade não tomasse conta deles. Todos juntos, e outros que sabemos bem onde os encontrar, poderão, qualquer dia, proporcionar uma boa exposição, em homenagem a este Cartoonista talentoso, a quem Viana ainda não prestou a devida homenagem. Artista de grande criatividade. Sem desprimor para tantos outros que, graciosamente, fizeram trabalhos para ilustrar as nossas edições, o Juvenal era o maior”. Sorri, quando lhe perguntámos como é que ele, há tantos anos radicado em São Paulo, nos seus cartoons retratava com rigor a evolução da cidade, citando pessoas e descrevendo acontecimentos. “Ora, então ele não recebia o jornal todas as semanas. Dizia-me que o lia avidamente. Caricaturou boa parte das obras realizadas na cidade, particularmente a construção do parque subterrâneo na Avenida dos Combatentes.

Mas nós tivemos muitos outros bons ilustradores. O próprio Filipe Fernandes, que foi diretor do jornal ao longo de 43 anos (1949/1992), sem esquecer que a sua colaboração já vinha desde 1924, tinha muito jeito para o desenho. Muitos dos seus textos eram por ele ilustrados. Estou a lembrar-me da crónica do Zé, onde zurzia no que entendia como menos bem conseguido ou mesmo mau na cidade. Elegante como personagem e jornalista de educação esmerada, mas acutilante quando tinha que o ser. A Aurora do Lima muito lhe deve. Mas sempre honramos a sua memória. O seu retrato sempre figurou na nossa galeria dos notáveis.

Extraordinárias, foram as já referidas crónicas do Zé, que começou a escrever em princípios de 1990, para só terminar na hora da morte, em outubro de 1992, naquele fatídico acidente da avenida 25 de Abril. Foram cerca de 120 crónicas, que fazem o retrato da Viana daquele tempo. Tanto livro se edita nesta cidade e bem poder-se-ia deitar mão destes escritos para os dar a conhecer de novo, particularmente aos vianenses, até porque esquecidos já estão. 

E o futuro?

Não sou profeta, mas quero continuar a ser útil ao jornal. Lembro-me da cronologia que com recurso à coleção do jornal produzi, desde o ano de 1855, data em que viemos ao mundo Alto Minhoto. São cerca de 40 páginas de boa informação por datas. Foi um trabalho ciclópico, que agora se torna necessário ir atualizando. 

Quando a coleção do jornal estiver digitalizada, esperamos por si, dissemos-lhe. Não disse que não. E nós vamos mesmo esperar. Despedimo-nos com um grande abraço, sem esquecer a Pilar, que lhe dá todos os mimos de que necessita.  

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