A feira de Barroselas

A Feira de Barroselas, que se realiza todas as quartas-feiras, não tem hoje a importância de outrora. Há 50 e 60 anos atrás, era, no dizer de alguém, um hipermercado dos nossos dias onde as pessoas se abasteciam para toda a semana. Umas compravam, outras vendiam e para outras (os) era um dia de festa a meio da semana.

As aldeias circunvizinhas, como Alvarães, viviam esta feira de um modo especial, sobretudo as mulheres que com os cestos à cabeça (o cesto da feira coberto com toalha branca) levavam sementes, ovos, hortícolas e pequenos animais como galinhas e coelhos.

Alvarães dedicou-lhe uma rua e a toponímia consagrou-a como a Rua da Feira. Era por ali que transitavam centenas de pessoas que vinham do Castelo, de São Romão de Neiva e de Anha.

Recordo um tamanqueiro de Fragoso que, todas as quartas-feiras, montava banca na berma da estrada, na zona da Fábrica Campos, para fazer e entachar socos e chancas. As pessoas, logo de manhã, deixavam o calçado e no regresso da feira já o levavam consertado.

Vem isto a propósito de um “Episódio da Vida Real” de Porfírio Fernandes Miranda (nascido a 03 de março de 1917 e falecido há alguns anos), morador que foi no lugar das Alvas, Barroselas, e que nos dá conta do movimento de pessoas que à sua porta passavam para a feira. Não vamos transcrever o texto na íntegra, mas apenas um excerto que referencia o movimento colorido daqueles dias de feira: “Daquele movimento de pessoas da estrada nacional, e da estradinha de Alvarães (… )

Era enorme e bonito aquele desfile de homens a pé ou montados em jumentos ou de carro de burro, tangendo gado de cornos limpos e enfeitados com flores, a caminho da feira; e das mulheres, descalças, caminhando a pé e carregando à cabeça os cestos que embora cobertos com toalhas brancas, se adivinhava transportando produtos da terra e animais de capoeira. Isto, mas muito mais enflorado do que consigo descrever, o proveniente da estrada nacional: Marinhas, S. Paio, Forjães, Aldreu, Fragoso. Quanto à estradinha poente que converge com a nacional, era o desfile de homens e mulheres, normalmente descalços, mas a maioria das mulheres, sentadas à amazona sobre jericos.

Era gente proveniente de Gândara, Anha, Castelo do Neiva e Alvarães. Embora este desfile também fosse digno de imagens para a história, registo o que mais me encantou: o chapelinho de coco e abas curtas que as amazonas do Castelo do Neiva usavam na cabeça, com o enfeite à frente de um espelhinho oval com fundo vermelho e doirado que me parecia uma custódia. As mulheres com estes chapelinhos lindos configuravam em graciosidade as mulheres peruanas que conhecemos hoje, a oitenta anos de distância.

Feita esta vaga referência ao encanto das quartas-feiras em frente da minha janela…”
Aqui fica o registo.
(Miranda Pinto)

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