Dia 07 de abril é a data da estreia, no Teatro Municipal Sá de Miranda, da peça teatral “A Noite”, com adaptação e encenação de Ricardo Simões. Escrita por José Saramago em 1979, “A Noite” é a primeira peça teatral deste.
A ação passa-se na redação de um jornal, em Lisboa, na noite de 24 para 25 de abril de 1974. Para Ricardo Simões, “esta peça tem um carácter documental. Ou seja, há da parte do Saramago uma intenção de mostrar e denunciar como é que ocorreu, porque passados cinco anos da revolução ainda não havia assim tantos documentos como há hoje, tantas palavras escritas. Sobre o que era a censura, o que era ser jornalista antes do 25 de Abril. E ele faz um retrato muito bem característico das camadas da sociedade até ao 25 de abril de 1974”.
Numa peça onde a censura é o tema predominante, o encenador elogia Saramago afirmando: “É uma peça brilhante escrita pelo Saramago. É brilhante na forma realista como ele vai ao detalhe. De como era uma redação, e também na caracterização das personagens. Ou seja, obstinado, metódico e rigoroso como Saramago era, ele vai a um rigor, até das relações hierarquias, do chefe de redação, do diretor do jornal. Esta peça fala essencialmente do que era a censura, mas de uma forma quase documental”.
Com personagens tão diferentes, e consequentemente com idades tão distintas, juntar o desconhecido com memórias em palco foi uma mistura de diversos sentimentos. “É um privilégio fazer esta peça, e de a dirigir com um elenco que mistura precisamente pessoas que viveram o 25 de Abril e pessoas que temos que intuir através das fontes de como foi. É dos elencos mais difíceis que eu tive de selecionar porque há uma relação de idades muito interdependente. E há aqui nesta distribuição papéis que são atribuídos que não tem nada haver com a qualidade dos atores, mas sim com as características físicas por causa da idade. Há aqui três gerações e isso tem que ser credível para o público. Depois era essencial para mim ter na equipa pessoas que viveram o 25 de Abril e isso revelou-se uma escolha acertada, porque eu tenho aprendido todos os dias não só com os mais novos, mas com aqueles que viveram”, afirma o encenador e também ator.
Para o ator Mário Moutinho interpretar uma peça escrita por Saramago é um privilégio e ao mesmo tempo um desafio: “é algo importante para a carreira de um ator e é fascinante fazer este papel numa peça que retrata uma das noites mais importantes da nossa história contemporânea e que é por outro lado um grande desafio para um ator. É um texto que requer um trabalho de construção de personagem. E eu estou muito honrado por ter sido convidado e muito satisfeito com este convite”, conta.
“Para além de ser importante lembrar o dia e estas datas, acho que é importante transportar os seus valores para o nosso quotidiano. E aproveitar obviamente o facto de se comemorar o centenário de José Saramago, e assim pegar numa peça que tem um significado político especial e trazê-lo a cena. É algo muito importante e significativo”, confessa o ator, acentuando a importância de comemorar certas datas que fazem parte da nossa história.
A peça vai estar em cena de 07 a 24 de abril em vários horários na sala principal do Teatro Municipal Sá de Miranda. E precisamente na noite do dia 24 de abril, véspera do 25 de abril, a ideia do encenador é fazer algo inesperado de acordo com o sucedido e representativo deste momento grandioso.
O preço dos bilhetes varia entre os 4€ e os 10€ e podem ser adquiridos na Bilheteira do Teatro Municipal Sá de Miranda e na BOL – Bilheteira Online.