“A sede da Felicidade que foge às pessoas”

No sábado de manhã, dia 18 de setembro, será apresentada publicamente uma reedição do livro Angústias, do escritor vianense João da Rocha (1868-1921), na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. Publicado originalmente no distante ano de 1901, nunca tinha sido reeditado. No contexto da evocação dos 100 anos da morte do escritor, este trabalho disponibiliza a primeira edição crítica de uma obra do “Frei”, como é conhecido o escritor pelos vianenses. Além disso, oferece um estudo introdutório com dados que ainda não se conheciam da evolução literária do escritor, nomeadamente a descoberta do manuscrito de um livro de poesia que o escritor decidiu não publicar: Fugidias, de 1892. Em complemento à edição crítica, foram encomendadas de propósito ilustrações para assinalar os momentos decisivos das narrativas do volume. Estas três interpretações (edição crítica, estudo introdutório e ilustrações) procuram honrar uma obra única das letras portuguesas.

João da Rocha define as Angústias como “a sede do que nos foge”. E o que foge às pessoas é a felicidade durante a vida. É disso que as pessoas têm sede intensa e, por vezes, dolorosa. O escritor repete muitas vezes “Mais alta vai a ventura!”, querendo com isso dizer que, do seu ponto de vista, é talvez impossível ser realmente feliz. Para transmitir este pensamento inquietante, o escritor constrói narrativas que tocam o fantástico, mas que captam com profundidade a vida humana nos seus momentos mais negros (acidentes, incompreensão, prepotência dos outros, solidão, morte). O escritor não desistiu de saciar a sede, incluindo no volume um texto de sabedoria que recomenda a virtude da paciência como o melhor modo de orientar a vida, porque é o único apoio que os seres humanos têm contra a adversidade. Dois textos, em particular, mostram situações em que as pessoas se sentem verdadeiramente felizes, sem que a angústia as ensombre. “Evocações” recorda a infância do escritor na Meadela, e o conto sobre a Velhinha representa uma mulher que consegue ser feliz, porque aceita com resignação o que a vida lhe oferece.

A sessão contará com a presença do editor crítico da obra, Manuel Curado, e da ilustradora, Patrícia Ferreira, sendo enriquecida com uma reflexão de Joaquim Domingues sobre o livro de João da Rocha.
M.C.

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