Algas invasoras à deriva no rio Lima e a resiliência da Feira quinzenal

Ocorrem por estes dias a deslizar no rio Lima ao sabor do vazante da maré, mantos de maior ou menor dimensão de cor verde. À distância, poder-se-ia dizer que é material de origem vegetal, e na realidade trata-se de uma espécie de alga com origem na barragem de Touvedo, que se vem expandindo rapidamente noutras zonas a jusante do rio.

Em conversa com o nosso bem conhecido e conterrâneo amigo, Caninhas, que pela experiência adquirida muito bem conhece a fauna e a flora do Lima entre a Ponte da Barca e a foz, aprendi que aquelas algas são formadas por um caule oco que pode crescer dois metros até à flor da água, e que, por ação da corrente são “sugadas” para a superfície dada a leveza da estrutura oca e o ar que o caule contém. Proliferam num ambiente de água estagnada.


Em aligeirada busca para obter informação sobre a planta considerada invasiva, constatei que há estudos detalhados e planos criados para impedir, ou se possível, eliminar a intrusa alga malévola, classificada como pinheirinha, milefólio aquático, pinheirinha de água, porque o crescimento da erva-pinheirinha “reduz a biodiversidade, altera o ecossistema aquático, ameaça a qualidade da água e diminui a luz disponível e o fluxo de água”, constituindo, ainda, um constrangimento à “prática da pesca desportiva”.

Não, não há lugar em rio de areia branca, água límpida, espécies de peixes raros de sabor e troféus ansiados pelos pescadores para tal planta, em rio ladeado por margens paradisíacas ao longo do formoso vale do Lima.

Feira
Decorreram mais de duas centenas de anos sobre a criação, na então Vila Nova de “Lanhezes”, da feira quinzenal, não sendo exagero considerar que a sua longevidade é um fenómeno de resiliência se se atender às profundas alterações da vida rural, designadamente na agricultura de economia familiar, na diversificação incomensurável operada na sociedade moderna no que respeita à cultura, mobilidade, hábitos de consumo e ao poder de compra da população em geral. Espantoso é constatar que a feira de Lanheses tenha sobrevivido tanto tempo a todas as vicissitudes de uma existência desvalida, desvalorizada e entregue às agruras da existência de um sem abrigo como membro espúrio nociva à comunidade que a criou.

A certificação da sua validade como bem económico e de valor relevante para o património cultural de Lanheses revela-se através da resistência, por si só, ao ostracismo a que vem sendo sujeita, à ausência de atenção e de medidas que pudessem ajudá-la a crescer, à negação de acompanhamento tanto quanto possível para a sua total integração comunitária que a quer e onde pode ser, fielmente, útil.

Lanheses, sendo uma freguesia com aspirações a prosseguir na era do progresso em curso que acontece desde meados do século passado devido em grande parte à participação da numerosa diáspora dispersa por tudo que é mundo habitável, não pode perder o que a outros mais diligentes e atentos daria muito gozo possuir. Bem avisado andará quem não confie. Venham a ser as fábricas dos grandes parques, por muitas e importantes que sejam, que melhor ilustrarão a identidade e a grandeza do seu povo e o seu bem estar social e económico.

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