Estudo sobre nematodes saiu na revista Nature e tem coautoria da portuguesa Sofia Costa, da UMinho
Uma equipa internacional, que inclui Sofia Costa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho, publicou esta quarta-feira na revista “Nature” um estudo inédito sobre a presença e a atividade dos nematodes, os animais mais abundantes do planeta. Estes pequeníssimos vermes do solo e da água são muito resistentes, alguns parasitam animais e plantas, ajudam a controlar populações e têm o “superpoder” de adaptar-se a todo o tipo de ambientes e habitats.
Esta investigação envolveu 70 cientistas de 57 países, sendo liderada pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça. O trabalho reuniu 6759 amostras de solo em todo o mundo. Concluiu-se que há mais nematodes do que se pensava: são 57 mil milhões de vezes mais do que os seres humanos e com uma biomassa estimada de 300 milhões de toneladas. Além disso, a distribuição terrestre daqueles animais é, ao contrário dos animais à superfície, mais frequente nas regiões subárticas (38%) – a sul do Ártico, cobrindo a maioria do Alasca, Canadá, Islândia, Sibéria e norte da Escandinávia – do que nas regiões temperadas (24%) e nas tropicais (21%).
Sofia Costa disponibilizou para este estudo dados sobre comunidades de nematodes do solo em vários pontos de Portugal. Essas amostras foram alvo de análise, identificação e classificação funcional em laboratório. A investigadora estuda nematodes há vários anos, incluindo o seu envolvimento como bioindicadores da fertilidade do solo e da resiliência a impactos em sistemas naturais e agrícolas. A sua equipa tem em curso dois projetos apoiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que visam explorar os parasitas do tomateiro e da batateira, com vista a desenvolver estratégias de gestão sustentável daqueles nematodes.
Bioindicadores ambientais ímpares
Estes animais microscópicos têm uma diversidade de funções e intervêm em processos-chave nos ecossistemas terrestres. A sua atividade determina a proporção de carbono sequestrada na matéria orgânica e nos organismos do solo, além da que é emitida como dióxido de carbono. “Este estudo à escala global na Nature acrescenta conhecimentos sobre o papel da atividade biológica no solo ao nível dos ciclos de carbono e nutrientes do planeta, permitindo definir melhor as previsões dos modelos de alterações globais”, diz Sofia Costa. Além disso, estes pequenos seres vivos convertem-se em bioindicadores ambientais ímpares. A análise das proporções de nematodes de vários tipos num dado local permite, por exemplo, perceber se este está poluído, adubado em demasia ou se, por outro lado, mantém boas condições para a atividade biológica e para o crescimento das plantas.
Sofia Costa nasceu há 43 anos em Coimbra e vive em Famalicão. É licenciada em Biologia, mestre em Ecologia, pós-graduada em Agricultura Biológica e doutorada em Ciências Biológicas pela Universidade de Lancaster (Reino Unido). Foi diretora do Laboratório de Fitossanidade do Instituto Pedro Nunes e investigadora no Rothamsted Research (Reino Unido), na Universidade de Coimbra, na Universidade Nacional da Austrália e na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Está atualmente no CBMA, da Escola de Ciências da UMinho. Tem três dezenas de publicações e livros, tendo já participado em conferências em dez países.
Artigo da Nature aqui.