Os críticos não hesitam em afirmar que se trata de uma das mais bem conseguidas obras de Carlo Goldoni (1703-1793), estreada em Veneza em 1753, numa altura em que o mundo estava em transformação e o teatro precisava igualmente de ser parte desta mudança das sociedades.
Jorge Silva Melo, esse homem multifacetado do teatro e responsável pela tradução da Estalajadeira, em entrevista que deu aquando da estreia da peça no Teatro Nacional de São João, no Porto, em 2013, dizia que Goldoni, no século XIX, era considerado um escritor vulgar, por falta de pompa no que escrevia, já que o fazia de forma simples e a roçar o coloquial. No entanto, considerava que é aí que residem os encantos deste trabalho, uma vez que cada personagem em cena tem presença nítida e intervenção constante.
A peça conta a história de uma jovem que, na estalagem que herdou dos pais, mostra como lidar com os homens que por lá se vão hospedando e por ela apaixonando, mantendo-se firmemente senhora de si e do seu destino. Jorge Silva Melo, depois de a traduzir, esperou pacientemente durante 40 anos para a apresentar publicamente.
Pretendia encontrar a atriz certa para dar corpo a Mirandolina, a Estalajadeira, só o tendo conseguido nessa data, entregando a representação a Catarina Wallenstein.
Também o Teatro do Noroeste, por escassez de meios financeiros, esperou resignadamente até ser subsidiado, conseguindo-o agora muito justamente, já que na base de muito esforço e trabalho, para brindar os vianenses com esta bonita comédia, que se desenrola em clima de intimidade com o público, levando a que também este esteja permanentemente presente. Não esperou 40 anos, até porque considerou que tinha a sua Mirandolina bem presente. O desempenho foi atribuído à Elisabete Pinto, atriz suficientemente traquejada para grandes desempenhos, e o resultado não podia ser melhor. Mas o elenco, todo ele, mostra brilho neste desempenho exigente e trabalhoso.
Como diz a Mirandolina, perdão a Elisabete, foi um trabalho duro e intenso, já que não é fácil estar à altura de um clássico, como é o caso. Mas aí está, e de representação bem conseguida, a peça que qualquer companhia desejaria representar.
Acaba já no próximo dia 22, este espetáculo alegre e tocante. Quem não o viu não o deve perder, porque ainda tem dois dias para o fazer: sexta às 21h30 e sábado às 16 horas.
GFM