Na passada sexta-feira foram retomados os ensaios do Auto da Floripes, com o propósito de, não obstante a conjuntura vivida atualmente, também este ano se cumpra a tradição. Com efeito, dada a longevidade secular do Auto da Floripes no Largo das Neves, mais o facto de ser representado ininterruptamente, desde 1962, entendemos que, apesar das circunstâncias associadas ao momento pandémico que vivemos, deveríamos pensar numa solução alternativa, de forma a evitar um triste hiato na tradição.
Deste modo, conscientes de que a representação não poderá ser executada nos moldes habituais, da forma como todos desejaríamos, e como manda a tradição, depois de muita ponderação, da mobilização dos comediantes e da necessária articulação com a Comissão de Festas da Senhora das Neves, decidiu-se que o Auto da Floripes subirá, mesmo assim, ao palco num espaço verde do Vale do Neiva e será exibido nas redes sociais no dia 05 de agosto a partir das 17 horas. A vontade dos comediantes era a mesma da de todas as gentes da terra… que o palco privilegiado fosse naturalmente o Largo das Neves, no entanto, a imperiosa necessidade de cumprir as regras sanitárias, de forma a garantir a segurança de todos, não o permite.
Com o propósito de garantir a segurança necessária de todos os envolvidos, não haverá público, o local de gravação manter-se-á no anonimato e o enredo será adaptado, nomeadamente mais curto e com a adequação ao contexto das partes que exigem maior contacto entre os comediantes.
Ao assumirmos uma vez mais o compromisso de apresentar o Auto da Floripes, entendemos que damos continuidade à tradição, embora noutros moldes.
Assim, alimentamos a alma das gentes da nossa terra e promovemos a mobilização e a renovação do elenco. Mais… deixamos o sinal de que a nossa comunidade, mesmo perante situações adversas, sabe adaptar-se e reinventar-se. Em paralelo a esta solução, serão desenvolvidas pequenas iniciativas simbólicas, de cariz artístico, associadas ao Auto da Floripes.
Esta manifestação popular, também conhecida por “Comédias das Neves” distingue-se como um dos poucos sobreviventes do velho teatro popular e afirma-se como uma das referências do teatro popular português.
Assume-se, também, como património e parte integrante da identidade das comunidades que partilham o lugar das Neves – Barroselas, Mujães e Vila de Punhe – e manifesta dimensão nacional e internacional no panorama do património cultural imaterial.