A nova e algo insólita embarcação idealizada e concretizada pelo lanhesense popularmente conhecido pela alcunha de Caninhas está já operacional há algum tempo, tendo feito várias incursões pelo rio Lima a passear amigos, participado na Romaria da Senhora d’ Agonia, em Viana do Castelo, e mais recentemente em exposição ao ar livre em Ponte de Lima junto ao passeio da margem esquerda do Lima, à entrada da Alameda dos Plátanos.
Os barcos construídos pelo Caninhas (possui vários) têm nome; à réplica do água-arriba desaparecido da atividade do Lima nos anos cinquenta, reconhecido oficialmente, foi batizado com o nome de “LANHEZES” fiel à grafia antiga do nome da freguesia; ao que pelas 15h do dia 02 de setembro o pároco residente da paróquia de Santa Eulália de Lanheses, Daniel da Silva Rodrigues abençoou, em cerimónia própria. Ao novo barco foi dado o nome de BICANINHAS, sendo “bi” porque são duas as pirogas monóxilas da composição unidas para formar uma única peça diferente,
composta com o epíteto por que responde o autor e ainda por ser a segunda por ele construída que mereceu festa especial e água benta sem poupança.
Talvez uma centena, quiçá mais, de curiosos presenciaram as operações do lançamento à água da embarcação no cais da Passagem onde está acostado, solitário, o velho “LANHEZES”. Fizeram-se fotografias, ouviram-se comentários avulsos matizados de mensagens algo enigmáticas, uma breve intervenção verbal de ocasião de um espontâneo cidadão lanhesense, mas o que a todos mais sensibilizou e foi escutado com atenção especial foram as palavras simples, mas claras do Caninhas, declarando oferecer a curiosa embarcação à gente da sua terra e se disponibilizou a pilotá-la em passeios que lhe venham a ser pessoalmente propostos, apenas condicionados à disponibilidade para os atender, sem que representem qualquer retribuição a quem os solicitar. Não se esqueceu de agradecer e elogiar publicamente o amigo Isidoro Cunha (Doro) pela contribuição em trabalho que prestou na concretização da singular obra.
“Hip, hip, hurra”, e o champanhe não faltou aos presentes para o brinde da praxe.
Bicaninhas nas Feiras Novas
Na manhã de sábado do dia 08 de setembro passava mais gente na ponte romana de Ponte de Lima do que água no rio que lhe deu o nome a correr pelos arcos visíveis que a formam. A montante e a jusante, as tendas brancas da sua procurada e celebérrima feira quinzenal, tendo uma, enorme, semelhança com um grosso caudal de inverno prestes a invadir a zona pedonal pejada de festeiros fiéis e de turistas deslumbrados.
São assim as Feiras Novas tão velhinhas que fazem da “vila mais antiga de Portugal” “rebentar pelas costuras”. O invulgar fato justinho secular do tecido urbano em que ela acolhe a mole incomensurável dos seus admiradores visitantes em tempo de festa anual e não só. A areia que o passar do tempo vai condicionando a vontade do andar, por recusa das pernas em suportarem andanças desordenadas, faz esmorecer a vontade a quem a carga está perto do limite. Só uma boa e convincente razão me levaria a arriscar envolver-me, ainda que no início da manhã, no fervor da multidão com que me deparei na medieval ponte ex-libris da Vila cujo foral a Rainha D. Teresa outorgou, e escolheu manter rejeitando converter-se em cidade: a pretensão de juntar a histórica ponte e o novo “Bicaninhas”, o barco original construído pelo nosso conterrâneo Caninhas a partir de duas pirogas monóxilas, recentemente formalmente batizado, fundeado junto dela em retrato para a posteridade.