Casa Abrigo para jovens mães é o principal foco

Andreia Ferreira lidera a delegação diocesana de Viana do Castelo da Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina (ACISJF) há já um ano.

Esta jovem médica cumpre um mandato de quatro anos numa Direção constituída, exclusivamente,  por jovens mulheres empenhadas em tornar a instituição mais visível no meio local e onde a abertura de uma Casa Abrigo para mães solteiras é o principal foco.

Desde sempre que a ACISF foi uma organização de cariz social, acolhendo  jovens e mulheres que, por algum motivo, precisassem de um local para estar!

A casa acolhia jovens que vinham das suas terras para a escola e chegavam muito cedo. Estava aberta para, ao chegarem, tomarem o pequeno almoço e até trocarem a roupa quando estavam molhadas pela chuva. Jovens carenciadas que precisavam ali de um apoio. Depois, desde há alguns anos para cá, ficou só ligada à resposta social do CATL (Tempos Livres) para crianças  e jovens (dos 6 aos 18 anos) que não têm meios para pagar ATL. Sobretudo alunos do 1.º e 2.º ciclo.

Também têm vindo a aumentar o número de crianças  filhas de imigrantes…

Além disso, temos agora connosco duas mulheres com alguma deficiência que não conseguem integrar o mercado de trabalho e não têm outra resposta em Viana. Acabam por passar algum do seu tempo na produção dos palmitos.Isto é um bocadinho do que é tradição, bem como fonte de rendimento para podermos dar resposta  na parte social.

Neste momento temos também, como respostas não protocolizadas com a segurança social, a famílias necessitadas. Tanto na ajuda de bens essenciais, como obter trabalho, tratar de alguma coisa que precisam. As nossas funcionarias têm os contactos e agilizamos esse procedimento com as entidades.

Quais são os grandes objetivos para este mandato?

A criação de uma Casa Abrigo para jovens mães. É uma resposta que não existe em Viana do Castelo. Apenas há para mulheres vítimas de violência doméstica – que o GAF tem muito bem organizada. Surgiu esta necessidade devido às jovens mães solteiras, viúvas ou divorcidas que estejam afastadas do seu ambiente familiar.

Com o aumento das imigrações, muitas vezes, há mães que precisam de apoio e que nem sempre o conseguem. A Casa Abrigo será, inicialmente, na nossa sede, na Casa do Capelão no Santuário da Senhora d’Agonia. Estamos a remodelá-la para acolher quatro jovens mães. Temos a esperança de que funcione em pequenos moldes para, depois, ser transportado para um local maior e acolher mais mães, caso seja necessário. Vamos começar naquilo que temos à nossa disposição.

Já pintamos a casa e estamos a aguardar o projeto de arquitetura (oferecido) para poder remodelar algumas partes e reestruturar a casa. Nesta fase precisaremos de 40 a 50 mil euros. 

Já estiveram com rntidades locais, como Câmara Municipal, Segurança Social e União de Freguesias. Qual a recetividade?

Todos nos apoiaram, principalmente a Câmara  Já nos têm dado algum dinheiro para começarmos a obra e está a aguardar só o projeto (por escrito) para nos financiar com aquilo que puderem.  Com a Segurança Social é um bocadinho mais difícil porque os protocolos implicam que haja condições que não temos na nossa casa. Mas queremos ter parceria. 

As jovens mães já estão identificadas?

Ainda não, mas o GAF já disse que tem algumas mulheres que necessitam desta resposta. Será sempre temporária, só quando tivermos as condições necessárias é que as iremos identificar. Entretanto, estão a ser acolhidas de outras formas. A Câmara Municipal tem alguns apartamentos que cede para algumas mães. Claro que, agora, com tudo o que se está a passar no mundo, com o acolher dos refugiados, estas jovens mães até poderão ser as refugiadas.

                                                                      

Mas há jovens mães a frequentar a instituição?

Sim. Mas não trazem os filhos com elas. Temos algumas mães que, por algum motivo, não estão a trabalhar e frequentam a nossa instituição. Têm a acompanhá-las as nossas funcionarias Elisabete (durante a manhã) e Ester (à tarde). 

Quantas pessoas frequentam, de forma regular, a instituição?

A verdade é que as pessoas aparecem umas semanas, depois não aparecem nas seguintes. Não há nada que seja constante. No ATL temos seis meninos que vêm de forma frequente, todas as semanas, e as duas jovens que vão todo os dias (a Raquel e a Rita). Depois temos estas mulheres que recebemos e, muitas vezes, só sabemos o nome e aquilo que querem partilhar connosco, mas que não exigimos mais nada delas.

Queremos é aumentar mais esta resposta para que as pessoas nos conheçam e nos possam procurar quando necessitarem. Estamos a fazer os nossos workshops de palmitos para puder levar a associação a mais pessoas e trazer as mulheres à nossa casa.

Quais os meios que sustentam a instituição?

Neste momento, temos um apoio da Segurança Social, ligado ao protocolo que temos do CATL e é com esses fundos que vamos sobrevivendo. Com as dinâmicas que vamos organizando e workshops que vamos fazendo, vamos angariando outros meios.

Carências ou necessidades mais prementes das pessoas que pedem o vosso apoio?

Normalmente são pessoas que, apesar de terem uma vida organizada, família, por algum motivo não se sentem bem com elas próprias. Claro que já estão a ser seguidas pela parte médica/psicológica, mas ali naquela casa encontram um abrigo diferente. Acolhimento, amor, paz e uma atividade. É curioso que a criação dos palmitos permite um desenvolvimento da parte cerebral. Têm muita cor e isso acaba por ser uma terapia para estas mulheres. As crianças e os jovens, quando chegam, lancham e fazem os trabalhos de casa, que é a prioridade, e depois têm jogos para fazer, dinâmicas em conjunto que a Ester organiza todos os dias. Funcionamos de manhã (das 8h30 às 13h30) e de tarde (das 14h às 19h).

Como é que as pessoas vão ter à instituição?

Normalmente pelo passar da palavra. A porta, normalmente, está fechada, mas há uma campainha. As pessoas tocam e são acolhidas. O ATL implica mais algumas coisas. Existindo um protocolo com a Segurança Social há o preenchimento das informações do utente e as burocracias.

O que levou este grupo de jovens mulheres a candidatar-se?

Eu era a presidente da assembleia geral da ACISF e a professora Zulima, antiga presidente da Direção, fez-me o convite para ficar à frente da mesma. Aceitei essa desafio porque era preciso dar um ambiente jovem e recrear esta associação. Convidei para vir comigo a Elsa, vice-presidente, e ela trouxe mais pessoas: Ana, Milena e a Maria João. A Casa Abrigo é, agora, o nosso foco. Claro que as atividades vão aparecendo.

Há jovens doutros países a estudar cá e engravidam; vocês  pretendem ser uma retaguarda?

Ainda não. A ideia será ajudar um bocado essas mães. Porque percebemos que quando isso acontece, elas ficam sem resposta aqui na cidade de Viana. Também as jovens do Lar de Sta. Teresa, se engravidam, ficam sem resposta; têm de ser transferidas para Braga ou para o Porto. Queríamos criar uma resposta para essas jovens. Para já, a única coisa que estamos a fazer é acolher as jovens mães que vêm ter connosco porque precisam de carrinhos, banheiras, coisas de puericultura para os seus bebés, ou roupas para os seus filhos.

Temos de criar avançar com a obra (Casa Abrigo) para podermos ter a licença de habitabilidade da casa. Neste momento só existe autorização para funcionar durante o dia, não durante a noite e com a capacidade de criar refeições dentro da casa.

E com as jovens refugiadas da guerra?

Será muito semelhante. Por isso é que vamos entrar em contacto com a Câmara Municipal para perceber de que forma podemos estar presente neste acolhimento. O que será necessário na nossa cidade e o que podemos oferecer.

Pretendem também lançar uma marca!

A ACISJF é uma sílaba que, às vezes, difícil de pronunciar. Temos a ideia de lançar uma marca que será MAIS MULHER. Mais para todas as mulheres. Tanto as mulheres carenciadas, como as que não o são a nível económico, mas que, de alguma forma, podemos ajudar. Estamos a construí-la, a ver se, até final do ano, a conseguimos lançar. Ou no início do próximo.

Quais as maiores dificuldades que têm sentido?

No início foi complicado porque estava um bocadinho “desorganizada”. A pandemia veio condicionar a atividade da associação. Trabalhou sempre na sua sede e nunca foi reconhecida, estava um bocadinho “adormecida”. A nossa maior dificuldade foi começar a estruturar tudo naquela casa. 

Foi difícil. A dificuldade é que todas estamos a trabalhar em outros locais e não é fácil depois arranjar tempo para dedicar à associação. Mas juntas estamos a conseguir. 

Continuará a ser sempre uma associação de mulheres para mulheres?

É esse o objetivo. Não quer dizer que um dia não haja elementos masculinos na Direção! Vejo isso  como uma hipótese.  

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