Popularmente apodada de “asiática”, a invasora incómoda e altamente malévola vespa velutina está longe de ser derrotada nos propósitos de fazer do território português habitat natural.
Desde há cerca de meia dúzia de anos clandestina em Portugal, originária da China, mas chegou ao nosso país ao que tudo indica através do porto da cidade francesa de Marselha num cargueiro, oriundo da Ásia, que transportava madeira. O implacável e feroz inseto, predador das abelhas produtoras de mel, ocupou primeiro a parte norte do nosso país, principalmente no Alto Minho, estendendo-se, progressivamente, até às províncias do sul.
Começaram por construir os vespeiros no cimo das árvores próximas dos espaços urbanos para, posteriormente, aparecerem nas próprias habitações em chaminés e varandas, nos silvados e mesmo debaixo da terra. De acordo com estudos específicos versando o comportamento da espécie, a vespa velutina tem uma enorme capacidade de reprodução, podendo cada enxame multiplicar-se, por ano, entre duas a dez colónias.
O veneno que as suas ferroadas injetam no corpo humano e que em casos mais críticos pode provocar a morte da pessoa atingida, o maior e irreparável dano desta espécie predadora é, indiretamente, o efeito devastador que causa na natureza através do extermínio das abelhas produtoras do mel. As vespas são capazes de destruir colmeias inteiras e, colateralmente, as principais e insuperáveis polinizadoras do planeta Terra.
Lanheses conta já com um elevado rol de casulos da intrusa velutina, contudo, apenas uma parte pouco significativa deles é eliminado anualmente com recurso às brigadas especializados dos serviços camarários, sendo talvez mais os que escapam à destruição porque apenas são notados quando as folhas das árvores, onde se encontram, começam a cair.
Na zona do largo da Feira há pelo menos um enxame, no jardim da Casa do Paço, e outro a sul da Escola Secundária (na foto) com indícios de ter sido construído anteriormente.
Requalificação das margens
Iniciadas no final do ano de 2014, as obras de requalificação de um troço da margem direita do rio Lima entre o sítio do embarcadouro da Passagem até montante da ponte de Lanheses já estão concluídas. Realizadas de acordo com um plano inovador, concebido pelo engenheiro Pedro Teiga, continham um prazo mínimo de consolidação de cinco anos.
Em publicações anteriores neste semanário foram referidos, no decorrer dos trabalhos, alguns dos aspetos inovadores, nomeadamente a recuperação de antigos métodos empíricos dos lavradores e proprietários de terrenos confrontantes com cursos de água. Tais métodos assentavam no recurso à plantação de árvores e arbustos autóctones e balaustradas adequados à consolidação dos testeiros dos terrenos com rios e regatos, por ação das suas raízes.
Decorrido que está o período experimental, poder-se-á avaliar a eficácia do original projeto de Pedro Teiga, ele que é filho de guarda-rios e se apaixonou pela recuperação dos antigos costumes em detrimento de processos que usam técnicas a materiais agressivos ao ambiente e tem a visão futurista de poder vir a estender-se a outros rios do país com características e problemas idênticos ao rio Lima.
São notórias as diferenças que podem ser comprovadas visualmente pela imagem, e um leigo não terá dificuldade em reconhecer que o método escolhido obteve sucesso.
Sendo certo que no decorrer dos cinco anos, que passaram sobre o início dos trabalhos, a margem foi sujeita a reparações pontuais por ação da Junta de Freguesia que repôs e reforçou pequenos espaços que haviam cedido à força da corrente, nas chuvas de inverno.
Neste momento, e salvo numa das aberturas pedonais de acesso ao rio onde as marés vivas (e a navegação de barcos a motor) têm provocado danos de aparente fácil resolução, em toda a restante margem requalificada, a erosão parece, em condições normais, travada.
Aos poucos, a paisagem da margem direita do rio Lima está a mudar, para melhor. O Parque Verde, local paradisíaco, é cada vez mais procurado e ganhou um espaço mais perto da água que o tornará potencialmente aprazível e convidativo com um mínimo de dotações próprias para lazer e prática de atividades lúdicas.
“Caninhas“
Atracado junto à margem, aparentemente sem a regular e necessária manutenção periódica, o protótipo certificado da antiga embarcação do Lima água-arriba, denominado “LANHEZES”, corre risco de acelerada deterioração face aos sinais de apodrecimento que alguns pontos da estrutura em madeira nesta altura apresentam.
O barco de fundo liso e mastro com vela quadrangular redonda, com cerca de 13 metros de comprimento, construído pelo conhecido e popular artesão Caninhas, patrocinado pela Junta de Freguesia, a quem pertence, tornou-se uma excelente atração turística do Parque Verde e um sucesso na representação da freguesia em eventos de vulto, quer nas participações nas Festas d’ Agonia, em Viana do Castelo, como ancorado no “espelho de água” junto à ponte romana da vila de Ponte de Lima, no decorrer das celebradas Feiras Novas.
Frequentemente, porque é um dos locais da freguesia onde mais tenho prazer em estar para poder fruir do bucolismo e beleza natural do espaço, dou conta e entabulo conversação com amigos ou visitantes ocasionais que ali comparecem. Alguns são estrangeiros e o tema obrigatório da conversa é a história dos água-arriba tradicionais extintos e a cópia deles, batizada com o nome de “LANHEZES”.
É unânime a opinião colhida do préstimo relevante que o barco poderia ter no ramo turístico ao ser requisitado para realizar passeios organizados. Seria uma demonstração de outros tempos.
Vale a pena reavaliar a situação em que assenta o presente subaproveitamento da embarcação e restituir-lhe a dignidade de ícone em que ele se converteu para o convidativo Parque Verde.
Ala-arriba, água-arriba “LANHEZES”!