Teve apresentação a 27 de março, Dia Mundial do Teatro, com a plateia do Sá de Miranda lotada, em demonstração evidente de que o povo de Viana gosta do teatro e da sua companhia residente, sempre a melhorar em desempenho e brio profissional, agora, felizmente, a ser reconhecida pelos poderes governamentais. Do Município esse reconhecimento, felizmente, nunca lhe foi negado. Eporque o dia era inteiramente dedicado ao teatro, tal como aconteceu nas salas de teatro do mundo inteiro, foi lido pela atriz Elisabete Pinto, a mensagem alusiva ao dia, desta vez da responsabilidade de Carlos Celdrán, encenador, dramaturgo e formador cubano, e que foi traduzida para a língua portuguesa, honrosamente, por Tiago Fernandes, também ele um ator do CDV.
Do bonito e tocante texto se transcreve um curto parágrafo: “Omeu país teatral são esses momentos de encontro com os espetadores que cada noite chegam à nossa sala vindos dos mais variados recantos da minha cidade, para nos acompanhar e partilhar umas horas, uns minutos. Com esses momentos únicos construo a minha vida, deixo de ser eu, de sofrer por mim mesmo e renasço e percebo o significado do ofício de fazer teatro: viver instantes de pura verdade efémera, onde sabemos que o que dizemos e fazemos, ali, sob a luz da cena, é verdade e reflete o mais profundo e o mais pessoal de nós. Omeu país teatral, o meu e o dos meus atores, é um país tecido por estes momentos em que deixamos para trás as máscaras, a retórica, o medo de ser quem somos, e damos as mãos no escuro”.
Seguiu-se a peça, um texto de Guillermo Heras, com encenação de Ricardo Simões, interpretado por Alexandre Calçada e Tiago Fernandes, que procura confrontar o público com realidades que nos passam despercebidas, mas que comportam perigos para a manutenção das sociedades abertas e livres, tal com esta em que felizmente vivemos. As falsas notícias, ou as notícias com meias verdades, mas manipuladas para fazer descrer os cidadãos dos estados democráticos e apostar em caudilhismos e falsos defensores da segurança, da ordem e da moral estão em permanente crescendo, não sendo por acaso que em países livres a tirania se vai instalando, como constatamos regularmente.
Rottweiler assenta numa entrevista televisiva feita em local desconhecido a um extremista, defensor de sistemas musculados, que destila ódio a tudo o que uma sociedade democrática deve comportar. Negativista, mas agressivo, perturbado, contraditório, o entrevistado, num diálogo tenso, acaba por liquidar o entrevistador, apesar do sentido de moderação deste. Trata-se de um trabalho que nos prende e nos faz refletir, aliás foi criado para isso mesmo. Ninguém se arrependerá de o ver, comentar e divulgar.