Crédito Agrícola: a evolução na continuidade

A Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Noroeste continua a sua “evolução na continuidade”. Deixa de haver Conselho de Administração Executivo e Correia da Silva – até agora, presidente deste – passou, em março, a presidente não executivo de um Conselho de Administração composto por executivos e não executivos.

Assim, Correia da Silva e José Costa passam a elementos não executivos, enquanto Júlio Soares, José Carlos Alves e Judite Labandeiro (vogais) são os executivos.

MUDANÇA NOS ESTATUTOS

“Fizemos uma alteração estatutária em 2018. Até então, os estatutos consagravam um Conselho Geral e de Supervisão (órgão que supervisionava e fiscalizava o Conselho de Administração) e um Conselho de Administração Executivo. Todavia, a crise de 2008 – 2010 fez com que os reguladores fizessem bastantes alterações ao modelo regulamentar das instituições financeiras. Uma das mais importantes foi a política interna de seleção e avaliação de adequação dos membros dos órgãos de administração e fiscalização, que entre muitas outras alterações introduziu a necessária diversidade de género e também ao nível da formação necessária nos órgãos sociais das Instituições. Alteramos os nossos estatutos para os adequar a estas alterações regulamentares. Deixamos de ter o Conselho de Administração Executivo e o Conselho Geral e de Supervisão e passamos a ter o Conselho de Administração (integrando executivos e não executivos) e o Conselho Fiscal.

Até aí, o Conselho de Administração Executivo e o Conselho Geral de Supervisão eram constituídos só por homens. Agora, no Conselho de Administração somos cinco (quatro homens e uma mulher) e três no Conselho Fiscal (duas mulheres e um homem)” – refere Correia de Silva, observando que, para os clientes, não se alterou nada, apenas os “não executivos é que têm agora uma função fiscalizadora, alterando a sua forma de trabalhar”.

Júlio Soares, por sua vez, enfatiza: “É uma evolução na continuidade. As alterações referidas – ditadas também, para além das indicações e orientações do Banco de Portugal, pela necessidade de harmonizar a adequar os estatutos da Caixa ao Código Cooperativo, ao Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, ao Regime Jurídico do Crédito Agrícola Mútuo e ao Regulamento Europeu de Proteção de Dados -, não mudaram substancialmente o nosso código de ética e conduta, os nossos valores e as prioridades estratégicas. Portanto, a nossa vontade de servir os clientes e a proximidade que nos distinguem manter-se-ão. Não obstante a emissão de cada vez mais normas e regulamentos quer pelo Banco de Portugal quer pela Caixa Central, não prevemos solavancos na nossa qualidade de serviço aos clientes. Anteriormente, eu era administrador com o pelouro da área comercial. Agora, circunstancialmente, sou o coordenador de um Conselho Executivo e fizemos uma divisão interna de áreas. Continuo com a área comercial, o José Carlos Alves com a área de crédito e a Judite Labandeiro com a administrativa e financeira”.

BANCA COMERCIAL
Correia da Silva dá conta do que diferencia o Crédito Agrícola da banca comercial
“Não temos como objetivo maximizar o lucro. Os nossos sócios não são sócios da Caixa à espera que o seu capital tenha alguma retribuição em especial. Aquilo que pretendem é o serviço que ela presta. A Caixa tem assim um duplo objetivo: em 1º, satisfazer as necessidades dos seus associados e clientes na área financeira (incluindo seguradora) e, em 2º, satisfazer esta necessidade, precisa de ter uma estrutura com meios humanos, técnicos e financeiros capaz disso, não registando prejuízos e sendo criterioso na utilização do dinheiro.

Apesar das crises, o Crédito Agrícola tem registado sempre resultados positivos com uma gestão conservadora. “O nosso modelo de negócio é a captação de recursos dos clientes e financiamento de atividades ligadas às pequenas e médias empresas, aos particulares, financiamento esses enraizados nos locais onde as caixas agrícolas estão a operar. Não aplicamos o dinheiro dos clientes em ativos especulativos. Mas sim em empréstimos com as devidas garantias. Somos muito mais sensíveis à evolução das taxas de juro que agora registam valores muito baixos e isso reflete-se nos nossos resultados, que têm decaído, mas continuam a ser positivos”, observa Correia da Silva.

Reconhece que as comissões ajudam, mas o volume destas, em função dos ativos, é muito menor que nos outros bancos comerciais. “Por isso, os nossos resultados têm decaído. Fechamos (Caixa do Noroeste) 2020 com 2,5 milhões de euros de resultados positivos. Por outro lado, no âmbito social, a Caixa de Crédito Agrícola do Noroeste instituiu uma Fundação e canaliza para lá alguns meios para que também tenha um efeito na ajuda aos jovens e aos idosos, à cultura e ao mutualismo na nossa região”.

AGÊNCIAS
Júlio Soares complementa: “Para ver o quão conservadores somos, por cada 100 euros que temos de depósitos dos nossos Clientes apenas emprestamos 65. O que fazemos ao excesso de liquidez é depositá-lo na Caixa Central, o órgão que agrega o grupo, e as rentabilidades não são negativas mas são quase nulas. Somos um banco de refúgio, as pessoas continuam a depositar as suas poupanças na Caixa porque as pessoas confiam no Grupo”.

Com a digitalização e a entrada de novos agentes (Fintechs e BigTechs), os bancos fecham agências, mas o Crédito Agrícola permanece com os mesmos balcões.

“É um tema que está em “cima da mesa”. Atualmente, a Caixa do Noroeste tem 22 agências. Está fora de questão deixar de ter pelo menos uma agência em cada concelho, mas estamos a equacionar, naqueles onde temos mais do que uma, eventualmente otimizar sem nunca pôr em causa os serviços aos clientes”, acrescenta.

Na área digital, Júlio Soares lembra que “temos o Moey, uma direção de banca digital. Somos inovadores e preparamos o futuro. Acerca destas tendências e dos que os outros estão a fazer, vejo com naturalidade”.

O presidente não executivo acrescenta: “Temos excesso de liquidez. Aquilo que captamos e não emprestamos, colocarmos obrigatoriamente na Caixa Central. Temos um regime de solidariedade entre as caixas. Aquilo que não acontece com os outros bancos. É que se uma Caixa tiver dificuldades, as outras, no seu conjunto, incluindo a Caixa Central, têm a obrigação de a ajudar”.

DESDE 1992
Correia da Silva está no Crédito Agrícola em Viana do Castelo desde 1992.
“Hoje a banca não tem nada a ver com o que era em 1992. Comecei a trabalhar nela em 1988, mas era muito mais simples, quase não era digitalizada, os riscos eram muito maiores, as margens eram muito maiores e as exigências por parte dos reguladores foram sendo cada vez maiores”.

Era mais simples, mas a informatização não agilizou os processos? “Veio dar outra dimensão. Nós tínhamos, em 1992, 10% dos clientes que temos hoje. A digitalização veio fazer com que expandíssemos a nossa gama de clientes e as margens diminuíssem. O facto de Portugal ter adotado o euro como moeda baixou as taxas de juro, nunca mais voltaram a ser as que eram no tempo do escudo. Isso teve reflexos na nossa forma de atuar. Os créditos estavam muito centrados no curto prazo, davam uma grande rotação, ou ligados à agricultura com prazo um pouco maior. Hoje, mais de 30 por cento da nossa carteira é crédito à habitação. Coisa que não existia”.

Agora, nas novas funções, Correia da Silva admite que, eventualmente, terá menos situações de stress. “Tenho de continuar a trabalhar. Como deixei de ter um contacto direto com os clientes, haverá menos stress, mas trabalharei para que a Caixa consiga atingir os objetivos que os clientes e os sócios nos colocam.”

Conforme dá conta o coordenador do conselho executivo, em clientes primeiros titulares (se duas pessoas abrirem uma conta, só conta o cliente 1º titular), no ano passado, registaram-se mais 3 400. “No total, são mais de 130 mil e cerca de 17 mil associados.”

Já quanto ao público-alvo, garante que “o Crédito Agrícola dá-se bem em qualquer terra e com qualquer cliente. Temos um carinho especial pela lavoura, pelas instituições de solidariedade social e também pelas edilidades em que fazemos um esforço adicional para que sejam nossos clientes. Transversalmente estamos interessados em todos os clientes. Acho que é muito importante a diversificação. Mas a lavoura, para nós, é um setor especial, que assume em Barcelos uma maior preponderância”.

PANDEMIA
Era inevitável falar da crise pandémica. Júlio Soares não se recusou: “Tivemos a linha de apoio à Covid, em que fizemos cerca de 20 milhões de euros, e há as moratórias, que públicas quer privadas. Temos uma carteira de crédito de cerca de 440 milhões de euros; cerca de 105 milhões estão em moratória. Não anda longe da média do país (perto de 25%). Portanto, estivemos desde o início no apoio aos nossos clientes, quer com essas linhas de apoio, quer com as moratórias. Agora, em março, terminou a moratória do crédito hipotecário da Associação Portuguesa de Bancos e fizemos os possíveis para migrá-los para a moratória pública que vigora até setembro. Contactamos todos os clientes, com valores de financiamentos de valor materialmente relevantes, que estão em moratória ou, não o estando, operam em sectores de atividade especialmente afetados pela pandemia, como restaurantes, alojamento, organização de espetáculos e atividades de saúde humana e bem estar. Falamos com eles e preparáramo-nos para os servir e ajudar já no pós-moratória.”

O coordenador executivo assevera que “podem continuar a contar connosco para os servir e apoiar nos projetos que nos apresentem e que reúnam condições para ser apoiados. Pretendemos que seja uma evolução na continuidade; já cá estávamos, embora noutras funções, mas continuamos imbuídos no espírito do Crédito Agrícola e dos seus valores. Os nossos clientes podem continuar a contar connosco com a mesma disponibilidade e proximidade”.

A terminar, quis ainda fazer uma referência aos colaboradores. “Tudo o que tem acontecido deve-se a eles. Estivemos sempre a funcionar, lembro o stress que foi no início da covid – 19 com os colegas que estavam na frente da batalha, mas nunca fechamos. Tudo o que foi feito até agora e no futuro tem o contributo dos 111 colegas da Caixa do Noroeste e do trabalho que têm desenvolvido.”

Correia da Silva aproveitou o ensejo para enfatizar também o apoio que os membros dos restantes órgãos estatutários e sociais da Caixa desempenharam, e continuam a desempenhar, ao longo dos anos, que são muitos, já que a instituição comemorou o seu centenário no ano de 2015.

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