Desmazelo, esquecimento ou efeitos da Covid-19

No abrandamento do confinamento, o povo começou a sair à rua. O povo calcorreia os caminhos da freguesia, seja para irem para os seus campos, seja para fazerem as suas caminhadas e esquecerem a dor e o medo que percorre toda a nossa sociedade.

Foi numa dessas caminhadas que se começou a aperceber o estado em que se encontra o nosso património. Há um estado de desmazelo, esquecido, e não será a desculpa da Covid-19 que fará entender todo o estado de degradação a que os edifícios estão deixados. Por esta altura, o monte de São João, a chamada sala de visitas da freguesia, dada a proximidade da festa que todos os anos se realiza neste espaço, estaria limpo, com ar arejado.

Os participantes das marchas populares estariam a ensaiar, e ouvir-se-ia as vozes dos atores do Auto de São João, que ensaiavam para na festa representarem o nascimento do menino João. Hoje, o monte de São João está repleto de erva e em alguns locais galhos de árvores que ficaram por ali esquecidos. Em frente à capela alguém se esqueceu de arrumar o lixo de alguma “festa” particular, e encontram-se umas quantas garrafas de cerveja… O escadório mal se distingue de tanta folha que se acumula.

Mas não é só o Monte de São João que está esquecido, na realidade esse será até o menos esquecido. Muito outro património está esquecido, de tão esquecido que muitos dos populares já perderam a memória de ver os espaços arrumados, de ver o espaço localizado, protegido. Não passaram muitos anos que Subportela tinha em funcionamento fontanários, usados pela população para consumo da sua água, hoje estão perdidos. Já mal se veem com as silvas que os cobrem, relembremos alguns, como a fonte dos Castinheiros ou a fonte da Boavista. Se uma ainda teve tentativa de recuperação o outro já poucos sabem onde fica. Os canais de rega, obras de engenharia popular que levavam a água aos locais mais esquecidos da freguesia estão em ruína total. Já ninguém lhes liga, dizem que não fazem falta, podem ser descartados como tanta coisa que descartamos na nossa vida, que mais tarde nos fere com saudade.

E a escola das raparigas, lugar onde muitos da nossa terra aprenderam as primeiras letras, fizeram amigos, lançaram as raízes académicas ….

Os canteiros que muitos ajudaram a cuidar ainda têm roseiras e pequenos arbustos que foram resistindo ao abandono, tal como o apelo ao voto das primeiras eleições livres daquela terra escrito numa das traves que sustentam a cobertura do pátio. As janelas estão partidas, as portas com as fechaduras rebentadas. É o desfecho de um local que já trouxe alegria.

Este abandono poderá buscar algumas desculpas à Covid-19, mas não as pode ir buscar todas. O resto é desmazelo, é abandono, é esquecimento.

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