Doenças reumáticas e a dimensão individual, familiar e social

No dia 12 de outubro celebra-se o dia mundial das doenças reumáticas, uma antiga denominação nosológica que engloba mais de 100 doenças. Todos conhecem a magnitude do problema, os números podem ser consultados em várias fontes na net. O peso social e económico destas doenças é muito grande, justificando bem que se celebre este dia para estimular o pensamento sobre o problema e o sobre o que podemos fazer, individual e coletivamente,  para o minorar.

 

As doenças reumáticas constituem um grupo enorme de patologias, das puramente funcionais às claramente estruturais (como a artrose), das imensamente mais comuns não inflamatórias às mais raras inflamatórias com caráter sistémico, mas com maior morbi-mortalidade.

 

São vários os fatores com importância no desencadear das doenças reumáticas não inflamatórias, desde fatores genéticos, mecânicos, individuais e/ou decorrentes da profissão, até fatores psicológicos, com grandes implicações na vida das pessoas e na sua atividade laboral. O papel do médico de família é essencial para diagnosticar o problema e tranquilizar o doente ao afastar hipóteses mais problemáticas,  assim como na orientação do tratamento – aspetos em que a ajuda do reumatologista e ortopedista podem ser muito contributórios. O médico fisiatra é muito importante para ajudar o doente a compreender as medidas corretivas necessárias no seu dia-a-dia. Importância podem ter também as chamadas medicinas alternativas, como massagens, shiatsu, acupuntura, entre outras, como medidas complementares ao tratamento global. Uma palavra de caução sobre os ditos medicamentos não convencionais sem estudos de eficácia e segurança comprovados. É certo que a natureza está cheia de plantas e árvores que os antigos utilizavam regularmente e de onde sabemos se poderem extrair produtos químicos para a farmacopeia, mas devemos ter cuidado em saber onde é produzido aquilo que compramos e se é produto certificado na UE. Devemos lembrar que as interações entre os medicamentos é um problema sério hoje em dia e até chás como o de hipericão podem influenciar o efeito de alguns medicamentos.

 

Quanto às doenças reumáticas inflamatórias é um conjunto bastante heterogéneo envolvendo as doenças autoimunes, muitas incluídas nas doenças raras (menos de 5 casos por 10.000 habitantes). Entre as mais raras temos várias das doenças do grupo das  vasculites, enquanto das mais frequentes se destacam a artrite psoriática e a artrite reumatoide (cerca de 1 % da população). O lúpus eritematoso sistémico por vezes é incluída nas doenças raras, outras vezes não, dependendo dos estudos. Estas doenças têm essencialmente um carater sistémico com manifestações em outros órgãos para além das articulações. O papel do médico de família é o de reconhecer estes quadros clínicos e orientar para as consultas dedicadas a esta área: medicina interna – doenças autoimunes, reumatologia e, de acordo com os achados clínicos, nefrologia, neurologia, dermatologia, entre outras. O tratamento global destes doentes obriga a uma atuação interdisciplinar entre especialidades médicas e também com muitas outra profissões da área da saúde, enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas, etc. A evolução do armamentário terapêutico nesta área tem sido extraordinária com eficácia demonstrada, mas com custos elevados e necessidade de vigilância do perfil de segurança. Por todas estas razões, estes doentes devem ser acompanhados em centros dedicados e com competência para estas doenças – evidentemente nunca deixando o seu médico de família.

 

E não nos podemos esquecer, tal como cantava Variações “quando a cabeça não está bem (…não tem juízo…) o corpo é que paga”. E é bem verdade a dor “dói mais” se a nossa mente não está tranquila, se não está bem elucidada sobre o que passa no nosso corpo. Claro que também “dói mais” se as preocupações sociais, económicas e familiares nos preenchem a mente e não sabemos como as resolver. Percebemos assim que as doenças reumáticas têm uma dimensão individual, familiar e a nível da sociedade. Um plano orientador para diminuir a importância deste grande problema deve indubitavelmente ser abrangente.

Foto: SNS

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