Trata-se de uma original recriação de uma embarcação utilizada em tempos idos por indonésios e malaios no Pacífico e no Índico. Construída a partir de um centenário pinheiro-do-brasil que existia no logradouro da residência do agora artesão de Lanheses Manuel João Rocha, o Caninhas, e que se deteriorara a ponto de secar e obrigar ao abate.
Inspirando-se nas célebres canoas monóxilas descobertas no rio Lima no sítio de Passagem, em Lanheses (Viana do Castelo) o mestre Caninhas, alcunha
por ele bem aceite e popularizada no meio sem que ele se recorde da origem do curioso epíteto por que é conhecido e usualmente tratado, congeminou uma forma de concretizar o sonho que tivera depois de ter visto fotografias numa revista, que o incentivou e levou a construir uma embarcação inspirada nos históricos catamaran usados na atividade piscatória e de transporte nos mares Pacífico e Índico, em tempos remotos.
Seccionou o tronco com algumas dezenas de metros e separou duas partes em bom estado de diferente tamanho, montando um estaleiro para o efeito no seu quintal. Com ferramentas artesanais que construiu, escavou à enchó e ao formão o bojo dos troncos remendando os nós e os vestígios da deterioração do tronco com a própria madeira dele. Só excecionalmente recorreu à serra mecânica elétrica e ao disco esmerilador. Preparou estopa para calafetar e uma mistura de ingredientes usados pelos pescadores artesanais na conservação dos barcos de pesca para pincelar as canoas e as imunizar à osmose da água. Concebeu um estrado amovível em ripas da madeira sobrante para acoplar às duas canoas monóxilas e uni-las. Levantou três mastros para aplicar velas do tipo veleiros de regatas. Dotou a construção de uma caixa em madeira para “esconder” o motor fora de borda. Com remos. E o leme. E todo o cordame, argolas e ganchos. As bandeiras portuguesa, da Freguesia e Câmara Municipal concelhia.
Ele, e dois colaboradores, prestáveis amigos nas tarefas especiais mais exigentes, também lanhesenses e igualmente ex-emigrantes: Isidoro Cunha (Doro) e David Pereira.Centenas de horas decorridas, meses atarefados ao sol, ao frio e outros incómodos, trabalhos difíceis e complexos, viagens, consultas técnicas, telefonemas, viaturas próprias utilizadas, gastos, contrariedades, tempo. Disponibilidade incondicional.
Gravou à proa a marca de autor: Caninhas; assim, no “Lanhezes”, a réplica certificada do típico barco água-arriba desaparecido em meados do século passado da navegação do Lima, que também construiu.
O catamaran foi sujeito a testes, está preparado para navegar. Com nove ocupantes.
Manuel João Castro Franco da Rocha, o Caninhas, natural de Lanheses donde se ausentou durante muitos anos para exercer o seu trabalho em França, pescador de lampreias, campeão de petanca, mestre licenciado na categoria, construtor artesanal de barcos e canoas monóxilas, possui vários, exerce agora por conta própria atividade na pesca e dedica-se com paixão ao seu hobby de navegante no rio Lima nos tempos desocupados. Deve-se-lhe a construção da réplica certificada oficialmente do barco de vela quadrangular redonda, o água-arriba “Lanhezes”, ancorado no cais do Parque Verde, sendo até há dois anos atrás o seu cuidador e timoneiro, tendo com ele realizado cruzeiros turísticos entre Lanheses e Viana e Ponte de Lima, com participação nas Festas d’Agonia na procissão ao mar, nas Feiras Novas em Ponte de Lima, em colaboração voluntária e sem compensação monetária ao serviço de freguesia e dos amigos próximos.
No fim de semana entre sábado e o domingo, dias 09 e 10 de agosto, o Caninhas teve em exposição na placa central do Largo Capitão Gaspar de Castro a sua original, inédita e atrativa embarcação. Abundaram os curiosos, os telemóveis descarregaram as baterias para “meter” as fotos no face, as felicitações, honra ao mérito. Que seja exemplo inspirador, já agora…
Ainda não está estabelecida a data e o programa do lançamento à água do modelo catamaran (não terá nome ainda escolhido e desconhece-se se o virá a ter) está a ser combinado. Tal como o água-arriba “Lanhezes”, a embarcação está autorizada a navegar e deverá ser ocupada preferencialmente em digressões turísticas no leito navegável do rio Lima sob a confiante pilotagem do mestre Caninhas. Será, sem dúvida, uma atrativa e meritória curiosidade de inegável interesse turístico à semelhança da que ele promoveu com o água-arriba.