Espetáculo grandioso para público pouco numeroso

Sem dúvida que era um espetáculo que deveria fazer lotar o Centro Cultural da cidade. Provavelmente falhou a divulgação da iniciativa, mas bem sabemos que em Viana se não falta isto há-de faltar aquilo e que as pessoas só se deixam mobilizar por razões muito especiais.

O espetáculo que aconteceu na sexta-feira passada, dia 26, às 21h45, precisamente no Centro Cultural, foi grandioso, não só porque envolveu dezena e meia de organizações e centenas de atores, mas porque tinha dimensão na reposição do passado, sem esquecer o presente. Ali havia enquadramento e ação, recriação e reposição de factos, práticas e costumes. Em suma, representava-se, por vezes de forma comovente, a vida das nossas gentes, especialmente das aldeias. Era a vida do campo e do mar, intensa e participada, que se alegrava com a música, os cantos e os bailaricos, a participação divertida nas festividades, atenta e respeitosa perante os atos religiosos, uma vida autêntica, que irmanava as populações, que reforçava solidariedades, que incentivava e praticava o trabalho comunitário.

E tudo isto foi superiormente representado, com acompanhamentos musicais, cantos, e declamações, obedecendo a um guião que teve a preocupação de dar fidelidade genuína a uma realidade que tende, muita dela, a desaparecer. Foram cerca de duas horas que nos transportaram a um mundo que foi e continua em parte a ser o nosso mundo, especialmente no Norte de Portugal. De salientar a participação do canto cigano, porque também esta etnia fez sempre parte da sociedade que fomos tendo ao longo dos tempos, e uma representação de Rap, que, tratando-se de um discurso rimado e cadenciado, ainda relativamente novo, faz já parte da nossa identidade, embora de forma mais alargada ao todo nacional. Referência, ainda, para o excelente trabalho do artista Hugo Soares, que, numa demonstração evidente de segurança e destreza artística, foi desenhando ao longo de todo o espetáculo representações deste, com projeção em simultâneo no palco. Uma variante que enriqueceu muito o trabalho realizado.

Estão de parabéns a Associação de Grupos folclóricos do Alto Minho, que chamou à participação quase todos os seus Grupos associados e o Teatro do Noroeste, que, com muitos colaboradores voluntários perderam horas incontáveis para recriar e mostrar o que não pode ser olvidado. Se falhas houve, poderá ter sido apenas na menor divulgação do evento. Nós que vamos vendo meses seguidos outdoors espalhados um pouco por toda a parte a anunciar os espetáculos dos artistas que se vão contratando por outras bandas, não podemos deixar de deplorar que se esqueça por completo o que representa a alma do povo que somos. Má cultura.

GFM
Fotos de José Maria Barroso

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