O caso foi-nos contado, na primeira pessoa, por Joaquim Ribeiro e é paradigmático do espírito e da importância da Romaria d’ Agonia para as gentes das freguesias do concelho.
“Entre os finais dos anos 70, início dos 80.Trabalhava num banco na Praça da República. Um dia, uma jovem alta, do lado de fora do balcão, viu-me e exclamou: ‘é aquele é aquele’. Ficou expectante. Fui ter com ela. Estava com, os pais. Pessoas de idade, lavradores.
Os pais vinham agradecer-me o que eu tinha feito pela filha na Romaria. Que não foi nada. Servi-me da filha para um quadro do cortejo que precisava.
Foi no sábado do cortejo, estávamos a organizá-lo à beira do Limia Parque (junto à ponte Eiffel). Encontrei a rapariga de Geraz do Lima, trajada com o fato verde, rigoroso, correto, com uma outra ao lado que me disse ser a irmã.Viu-me, perguntou-me se era da comissão e interroguei-a porque não ia para o cortejo. Disse-me que não porque o novo presidente da Junta incompatibilizou-se com a sua família. De modo que a excluiu da representação da freguesia. Mas que queria ir. Eu precisava de lavradeiras para levar dísticos e perguntei-lhe se não se importava de ir com um nas mãos. Claro que não. Disse-lhe, então, que dali a um bocado a vinha chamar.
Entretanto, ela disse à irmã que as chinelas lhe estavam a apertar. Esta era casada com um Guarda Fiscal, tinha de ir ia falar com ele (posto ali à entrada do Jardim) e, enquanto ia, lhe levava as chinelas para ver se alargavam um bocadinho porque tinha o pé mais cheio. Não demorava. Enquanto esperava, calçou umas alpercatas de plástico. Entretanto, passa o Amadeu Costa. Olha, pergunta-lhe o que estava a fazer e não ia no cortejo assim calçada. Arrasou-a, não lhe dando tempo para se explicar. Depois, quando voltei já estava a irmã com ela, tinha as chinelas, mas lavada em lágrimas contou-me o que se passou. Disse-lhe que não havia problema e viesse comigo. Meti-a no cortejo. Foi toda contente.
Não sabia o nome dela, nem nunca mais a vi até ao dia em que me apareceu no banco com os pais. Foram-me agradecer a ter posto no cortejo porque, desde os tempos da avó da rapariga, o traje tinha vindo sempre à parada (cortejo). As filhas tinham já desfilado, só faltava esta que era a mais nova. Podia-se quebrar a tradição.
O pai voltou na semana seguinte e trouxe-me couves, um coelho, uma série de dádivas. A gratidão daqueles senhores. Era o que sentiam as freguesias.
A determinada altura, chega a aparecer com os pais para me convidar para o casamento. Disse-lhe que só os conhecia a eles. Insistiu muito, mas eu tinha um compromisso na manhã desse dia que era um sábado. Disse-me que, quando acabasse, fosse lá ter. Assim sucedeu. Cheguei já passavam das duas horas da tarde. Foi só para o repasto. Mandaram-me sentar à beira do senhor abade e pararam a refeição para eu começar do princípio. Estivemos a comer até às nove da noite. Sete ou oito pratos. O bolo foi cortado às 11 da noite.”