Estudantes do Politécnico trocam “Letras com Afeto”

A iniciativa “Letras com Afeto”, que surge no âmbito do projeto “Janelas ConVida”, um desafio lançado por estudantes da licenciatura em Educação Social Gerontológica e do mestrado em Gerontologia Social, da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), “tem tudo para continuar” pelo “sucesso” que está a ter junto dos 27 estudantes e dos 71 utentes das cinco instituições envolvidas. Docentes, alunos, diretoras técnicas das instituições e utentes são unânimes: a correspondência por carta “traz benefícios enormes para todos”.

Trocar experiências intergeracionais e estimular as competências cognitivas e emocionais dos mais idosos foram o pretexto para lançar a iniciativa. Mas depressa, “Letras com Afeto” tocaram no coração de quem escreveu e leu as cartas que contavam histórias de vida.  As “Letras com Afeto” chegaram em tempos de pandemia e os idosos imediatamente retribuíram o gesto. Jorge, João, Eusebia e António são apenas quatro dos 71 utentes que abraçaram a iniciativa. Joana, Inês e Daniela são apenas três das 27 estudantes envolvidas de alma e coração nesta causa. A experiência não podia ter sido mais enriquecedora, por isso, estudantes e idosos esperam continuar a escrever “Letras com Afeto” e, quando a pandemia deixar, todos querem conhecer-se pessoalmente.

Sem a possibilidade de estagiar em tempos de pandemia, Joana Martins foi uma das alunas da licenciatura em Educação Social Gerontológica da ESE que trocou cartas com três idosos institucionalizados. “O feedback que recebemos dos idosos é que gostaram muito da experiência e até mostraram o desejo de nos conhecer pessoalmente, mas isso ainda não foi possível”, informou a jovem, confessando que foi uma “experiência enriquecedora”.

“Tenho 20 anos e nunca tinha escrito uma carta e, por isso, foi muito especial, foi diferente, foi algo muito pessoal e íntimo”, confidenciou Joana Martins, garantindo que esta iniciativa também a ajudou a desenvolver competências. Agora que vai ingressar no mestrado, Joana Martins gostava de ter a possibilidade de continuar a abraçar este projeto.

“EXPERIÊNCIA DIFERENTE
E ENRIQUECEDORA”
Do lado de lá estiveram 71 utentes de cinco instituições. O feedback não podia ser melhor. Jorge Ferreira que recebia muitas cartas de namoradas quando era mais novo, hoje, com 89 anos, já não se lembrava de ler uma carta e muito menos de retribuir.

“Para quem aprecia ter uma boa conversa, e como estamos confinados há muito tempo, sabe sempre bem receber uma carta e responder”, revelou o utente do Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque, agradecendo à jovem que lhe escreveu, “uma menina muita gentil”, que é da terra da sua mãe. “A menina tem cultura e isso para mim é muito importante e tenho trocado muitas experiências e histórias com ela”, contou o utente, admitindo que tem sido uma “experiência diferente e muito enriquecedora”.

Também João Sousa, de 72 anos, que é utente daquela instituição vianense, tinha acabado de Eusebia Correia tem 83 anos e também participou nesta “excelente” iniciativa. “É sinal de que alguém se lembra de nós, de que não fomos esquecidos”, aplaudiu a utente da Casa do Areal, em Braga. A idosa foi mais longe: “É muito bom trocar algumas palavras com gente mais jovem, partilhar histórias de vida e sentir o carinho de quem nos escreve”.
A passar por uma fase “muito complicada e até desconfortável”, Leonilde Martins, utente da Congregação da Caridade, confessou que receber a carta da estudante da ESE-IPVC “foi uma terapia e um bálsamo”. Leonilde recebeu a primeira carta logo após 20 dias de isolamento e estava “muito em baixo”. A carta “chegou na hora certa” e Leonilde fez questão de felicitar a jovem pela escolha do curso. “Faz muita falta. Com a idade vamos perdendo as faculdades e precisamos muito destes jovens para nos ajudar”, agradeceu a utente, que partilhou “várias histórias” com a aluna.

“Letras com Afeto” é uma ação de correspondência intergeracional com troca de cartas entre estudantes da licenciatura de Educação Social Gerontológica e idosos apoiados por instituições (ERPI/lares e Centros de Dia). Durante o ano letivo que terminou, estiveram envolvidos, para além de quatro docentes, 27 estudantes e 71 idosos participantes do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora; do Posto de Assistência Social de Alvarães; do Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque; da Casa do Areal e da Congregação Nossa Senhora da Caridade.

“Como o público-alvo é muito limitado e praticamente estava fechado nas instituições há mais de um ano, decidiu-se fazer esta iniciativa que tinha como objetivo trocar correspondência, criando um selo e envelope personalizados para cada idoso”, explicou uma das docentes envolvidas na iniciativa, Carla Faria. Inicialmente, não estava previsto haver retorno, até porque muitos dos utentes não sabem ler nem escrever. “Mas quase todos os participantes fizeram questão de o fazer”, aplaudiu a docente.

A iniciativa, continuou Carla Faria, para além dos resultados já esperados junto dos idosos “teve um impacto muito significativo nos estudantes em termos profissionais, mas também pessoais”.  Por isso, a iniciativa “tem tudo para se manter, tendo em conta os benefícios enormes que traz para todos”.

As diretoras técnicas de algumas das instituições envolvidas partilham da mesma opinião. Nomeadamente Marta Sousa, diretora técnica da Casa do Areal, em Braga; Susana Leitão, diretora técnica do Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque, e a diretora do lar da Congregação da Caridade, em Viana do Castelo,. Esta assegurou que os utentes “estão sempre recetivos” a novas atividades, referiu Andreia Ferreira, evidenciando “a importância da partilha de experiências intergeracionais”.

“Janelas ConVida” abraça novas iniciativas
De destacar que a iniciativa “Letras com Afeto” integra o projeto “Janelas ConVida”, que nasceu o ano passado em plena pandemia. Esta iniciativa, que surge no âmbito da formação superior de gerontólogos da ESE do IPVC, recuperou práticas comunitárias passadas, como o recurso às janelas ou varandas para interagir, comunicar e ajudar os vizinhos. O projeto começou no âmbito das comemorações do Dia do Gerontólogo, que se celebra a 24 de março, com o objetivo de “criar algum mecanismo de retaguarda para minimizar os efeitos negativos que sentiram logo no início da pandemia”, lembrou a docente da licenciatura, Carla Faria.

Entretanto, o projeto “Janelas ConVida” venceu o Prémio Santander Universitário UNI-COVID19, que tinha como objetivo distinguir e apoiar projetos e ideias que contribuíssem para responder à situação de emergência, promovidas por jovens universitários e restante comunidade académica.

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