Foi Administrador dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e Fundador do Grupo Desportivo e Cultural dos trabalhadores desta empresa. Jaime Lacerda era filho de Jacques Lacerda, o homem que em 1950, em momento particularmente difícil, salvou os ENVC do seu encerramento. Tal como o pai, Jaime Lacerda era um gestor com acentuadas preocupações sociais.
Na sua condição de vice-presidente do Conselho de Administração desta unidade industrial, em 1967, impulsionou a criação de uma coletividade para ocupação dos tempos livres dos trabalhadores, que, na condição de presidente da sua Direção, catapultou para uma dimensão destacada na vida desportiva e cultural de Viana. O Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos ENVC, decorridos poucos meses, já contava com 1350 associados e passou a levar a cabo, no domínio cultural e desportivo, iniciativas de grande impacto, das quais muito beneficiaram, não só aqueles que labutavam na empresa, como os vianenses em geral. Para a história ficam a criação do boletim informativo para os trabalhadores e as primeiras festas de Natal para os filhos destes, os torneios inter-serviços, o teatro, as exposições – a mostra “Viana e o Mar”, um grande marco na história das exposições em Viana do Castelo – e, com destaque maior, as célebres garraiadas, que enchiam a praça de touros de Viana. O enraizamento do Grupo Desportivo e Cultural fez-se a tal nível que, ainda hoje, este se apresenta como uma das maiores coletividades da cidade, apesar de decorrido mais de meio século.
Depois da revolução de abril de 1974, Jaime Lacerda procurou novos caminhos para a sua vida de empresário, mas nunca esqueceu a entidade que tinha fundado com empenho e entusiasmo. Esteve presente na inauguração da nova sede desta e, depois, disponibilizou-se para participar numa tertúlia integrada nas comemorações do seu cinquentenário, para falar dos seus tempos de glória na cidade e no concelho. Nesta tertúlia, tudo foi recordado, até com emoção, já que dificilmente alguém é forte para que não se deixe tocar com o reviver de um passado onde algo de bom aconteceu.
Jaime Lacerda, apesar de vir regularmente a Viana, onde tinha raízes profundas, continuava a ter vida ativa na capital. Frequentemente procurava saber da coletividade que tinha no coração e sempre se disponibilizou para em Lisboa fazer o que lhe fosse possível para ajudar a resolver problemas. No mundo lisboeta, presentemente, era o Diretor Geral do Fórum para a Competitividade. Este Fórum produziu um documento para dar a conhecer aos seus associados e amigos este triste acontecimento, no qual diz:
Jaime de Lacerda desempenhava desde 2004, o cargo de Diretor-geral do Fórum para a Competitividade, sem interrupção de responsabilidades, mesmo no longo período de doença, até duas semanas antes da sua morte, que se verificou a 25 de janeiro. Anteriormente, ocupou a vice-presidência da Associação Industrial Portuguesa (AIP) / Câmara de Comércio e Indústria, foi presidente do grupo CGM Moçambique, um dos maiores grupos mundiais na área de transporte de contentores e presidente e acionista da Lubritex – Sociedade Administradora de Compras em Grupo. “Foi um gestor exemplar, que dedicou a sua vida ao crescimento das empresas e da indústria. Deixa um legado de aprendizagem para as gerações futuras», frisa Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade. Jaime Lacerda era licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito de Lisboa, e frequentou o curso de finanças para não financeiros na Fundação Getúlio Vargas, no Brasil.
Aos 74 anos, voluntarioso, experiente e com disponibilidade para trabalhar e ser útil, Jaime Lacerda partiu imprevistamente. O Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos ENVC lamenta a morte do seu fundador, apresenta condolências à família e curva-se perante a sua memória.
P. J.