Faleceu no passado dia 19 de dezembro, no Hospital das Descobertas da Cuf, nos Olivais, o Coronel Alexandre da Costa Coutinho e Lima, com 87 anos de idade, nascido em Vila Fria, no lugar de Padeiro em 21 de setembro de 1935, casado com Maria Isabel Fernandes Ribeiro Coutinho e Lima, foi a sepultar em Vila Fria após cerimónias religiosas.
Trata-se do nosso conterrâneo que atingiu o maior posto na hierarquia militar.
O exército fez-se representar por um grupo de militares. Junto à urna estavam expostas as condecorações militares e a espada.
Após a conclusão da instrução primária em Vila Fria e o secundário em Viana do Castelo, concluiu o sexto e sétimo ano em Lisboa, ingressando na Academia Militar onde concluiu o curso de oficiais com a especialidade de observador aéreo.
Com o início da guerra em Angola, Guiné e Moçambique é mobilizado três vezes e todas para a Guiné. Como Capitão fez duas comissões de serviço na Guiné, a primeira em 1963/1965 como comandante de uma companhia operacional em Gadamael, a segunda entre 1968/1970 como Adjunto da Repartição de Operações do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, sendo Governador e comandante-chefe das Forças Armadas o General António Spínola.
Promovido a Major iniciou a terceira comissão em setembro de 1972.
Em janeiro de 1973, foi nomeado pelo General Spínola Comandante do Comando Operacional n.º 5, com sede em Guileje.
Local de potencial estratégico quer para as tropas portuguesas, quer para o PAIGC (Grupo Armado que combatia as tropas portuguesas) porquanto a sua logística circulava maioritariamente por este corredor. Amílcar Cabral afirmara um dia que quando Guileje caísse toda a Guiné cairia.
A Guerra na Guiné mudou de rumo quando PAIGC obteve mísseis terra-ar Strella e abateu aviões da força aérea, deixando as tropas portuguesas sem possibilidade de evacuar os feridos e deixar de contar com aquele importante meio de defesa aéreo.
Com o objetivo de libertar o corredor Guileje – Gadamael, por motivos logísticos e políticos, associados a uma cimeira Africana, o PAIGC em maio de 1973 concentrou um elevado número de efetivos e potencial de fogo, tendo bombardeado o quartel durante três dias consecutivos, a fim de destruir o aquartelamento de Guileje e consequentemente a rendição das tropas portuguesas, conseguiram-no em parte. O aquartelamento ficou sem comunicações, sem água, sem cozinha. Diversas instalações destruídas, tendo um Furriel Miliciano morrido, apesar de ter solicitado ao Comando Chefe reforços, mas estes nunca lhe foram concedidos ou por erro estratégico ou por subestimar o adversário.
O então Major Coutinho e Lima, comandante do COP 5, entidade máxima do aquartelamento, face ao não envio de reforços, falta de comunicação e de logística, toma a iniciativa de evacuar o quartel com as tropas e população civil que viviam junto ao aquartelamento, em coluna apeada para o Quartel de Gadamael.
No Livro Guerra Colonial da autoria de dois conceituados analistas militares este episódio foi tratado com bastante detalhe referindo Guileje a outra ponta da tenaz e Gadamael o verdadeiro inferno. Referem que entre 31 de maio e 02 de junho de 1973, o PAIGC bombardeou o Quartel de Gadamael com 700 granadas provocando cinco mortos e 14 feridos para além de elevadíssimos prejuízos materiais. Em 03 e 04 de junho caíram mais de 200 granadas, provocando mais dois mortos e quatro feridos.
Em 04 de junho, perto do Quartel uma emboscada provoca mais quatro mortos e quatro feridos.
As tropas portuguesas para segurar Gadamael até 12 de junho sofreram 24 mortos e 147 feridos.
Soube-se no final da guerra qua a disparidade de equipamento, munições e efetivos era muitíssimo favorável ao PAIGC.
Quando o comandante-chefe General António Spínola tem conhecimento, instaura um auto de corpo delito e a prisão preventiva do Major Coutinho e Lima.
Na sequência do 25 de Abril, o auto foi arquivado por decisão da Junta de Salvação Nacional da qual fazia parte o General Spínola e o major foi libertado e integrado no exército. Por se tratar de um acontecimento que marcou fortemente a evolução da guerra na Guiné este episódio tem sido escalpelizado em diversos jornais, revistas, e televisão.
Em 2008, Coutinho e Lima agora com o posto de Coronel voltou à Guiné e a Guileje a convite das autoridades locais para participar no Simpósio Internacional de Guileje onde estiveram presentes diversas personalidades guineenses, portuguesas e estrangeiras e ex-combatentes dos dois lados do conflito.
O último comandante de Guileje é recebido como um herói e engolido por uma multidão de guineenses que lhe querem prestar o seu apreço, a coragem e o bom senso da sua decisão em defesa de inúmeras vidas humanas, sendo investido com a túnica dos Velhos Sábios pelo Régulo (líder tradicional) de Guileje.
Com o objetivo de divulgar os factos históricos ocorridos em 1973 na Guiné publicou o livro A RETIRADA DE GUILEJE, em 22 de maio de 1973, a verdade dos factos, com diversas edições, onde são relatados exaustivamente os momentos dramáticos vividos por si e todos os subordinados. A primeira edição foi apresentada em dezembro de 2005, no auditório da Academia Militar estando presentes o General Ramalho Eanes, o embaixador da Guiné e muitos militares que pertenciam ao aquartelamento de Guileje e Gadamael.
À esposa, aos dois filhos e dois netos, sentidas condolências.