Depois de dois anos de condicionamentos, Ponte da Barca volta a ser a capital da música no fim de semana de 29 a 31 de julho, com o regresso do Festival Folk Celta ao seu formato habitual O Choupal, nas margens do rio Lima, volta a ser palco deste evento de entrada gratuita em todos os espetáculos que conta, nesta edição, com nomes vindos de Cabo Verde, República do Níger, Espanha, Itália e Portugal.
O primeiro dia é oficialmente aberto com “prata da casa”, com o palco a ser entregue aos Gaiteiros de Bravães (19h), coletivo empenhado na recuperação dos ofícios de construir e tocar gaita de fole de Bravães, com uma escola-oficina em funcionamento desde 2019.
A componente performativa do grupo resulta da vontade que os alunos têm em partilhar o entusiasmo de ter resgatado do arquivo do museu nacional de etnologia um instrumento matricial da cultura minhota.
Logo de seguida Maria Mazzotta (20h30), cuja versatilidade única a torna numa das vozes mais importantes da cena músical da região italiana de Apulia e também das músicas do mundo à qual ela tem uma abordagem extremamente respeitosa, apoiada por uma meticulosa pesquisa nas características vocais das diferentes áreas e culturas cantadas pela artista, movendo-se entre os sons típicos do Sul do país e as influências da música Balcã, cativando a audiência com as suas sinceras interpretações. Depois é a vez de Celina da Piedade (22h), compositora, acordeonista e cantora que tem levado a sua criatividade aos mais variados contextos, da música de tradição a um sentir mais contemporâneo e universalista, passando por toda a riqueza do Cante Alentejano mas também pela energia do folk e da música pop.
O palco é depois entregue a Bombino (23h30), internacionalmente aclamado guitarrista e compositor tuaregue da região de Agadez, no Níger. A temática de suas canções remete frequentemente às questões geopolíticas do seu país e de seu povo, e são cantadas no dialeto tuaregue de Tamasheq. Nasceu na Nigéria, viveu na Argélia e na Líbia numa adolescência nómada e a guitarra tornou-se grande companhia.
O reconhecimento internacional cresceu à medida que o seu som ultrapassava fronteiras. Hoje, pela mensagem das suas canções, Bombino é um herói do povo tuaregue. E sê-lo-á também para o público do Festival Folk Celta.
O segundo dia do festival começa com Maria Monda (19h), projeto de três cantoras que aliam as suas vozes ao ritmo da percussão, para reinterpretar o cancioneiro lusófono e cantar a poesia de língua portuguesa. Sofia Adriana Portugal, Susana Quaresma e Tânia Cardoso partilham o gosto pela pesquisa vocal, sonora e cénica.
Estas são as três mulheres que mondam canções e saberes antigos de forma contemporânea, através do canto polifónico e dos ritmos da percussão.
A partir das 20h30 sobe ao palco Raízes, grupo que surgiu em Vila Verde, Braga no dia 25 de Abril de 1980, com o propósito de participar nas comemorações desta histórica data.
Esta experiência criou raízes, as motivações ganharam força e a partir daí o grupo não mais parou, tendo vindo a desenvolver ao longo de mais de 40 anos um profícuo trabalho de pesquisa, recolha e divulgação da música tradicional portuguesa.
Oscar Ibañez & Tribo (22h), são os senhores que se seguem. Gaiteiro e flautista galego, fascinante e de grande reconhecimento, Oscar Ibañez realiza uma fusão musical sem limites a partir das raízes, conciliando a investigação com a criação musical, o que se traduz numa sonoridade nova e única.
Atualmente apresenta-se com a sua nova proposta musical – “Oscar Ibáñez & Tribo” -, banda de música folk composta por músicos galegos de renome como Fernando Fraga, Harry Price, Carlos Calviño, Paco Dicenta ou Andrés Vilán. A fechar a segunda noite de festival, chega a vez de ouvir Mario Lucio & Os Kriols (23h45). Mario Lucio é uma figura incontornável das artes em Cabo Verde. Cantor e compositor, mas também romancista, poeta e dramaturgo, foi ministro da Cultura do seu país, entre 2011 e 2016.
É também um dos mais proeminentes pensadores do seu país, destacando-se o livro “Manifesto A Crioulização”, que tem motivado debates em vários pontos do mundo.
Mas é a música que o traz a Ponte da Barca. Em 2021, numa experiência de estúdio, Mario Lucio encontra casualmente 5 músicos portugueses, que lhe proporcionaram a sonoridade crioula que procurava, dá-lhes o nome “Os Kriols”, e cria com eles um espetáculo com um repertório dançante, toado de ritmos cabo-verdianos e africanos, repleto de Morabeza e de Sodade, que enquadra dentro da sua filosofia da Crioulização, de Irmandade identitária, e que está a surpreender o público.
O festival encerra no domingo, com o Colectivo Ciranda (17h), constituído pelas vozes e pelos sons antigos recolhidos por Michel Giacometti, Fernando Lopes Graça, Ernesto Veiga de Oliveira, José Alberto Sardinha, entre outros etnomusicólogos que percorreram o país de norte a sul, continente e ilhas, à procura de salvaguardar uma parte tão valiosa da nossa memória coletiva.
Feira Celta ao longo dos três dias de festival
Em simultâneo com os concertos decorre a habitual Feira Celta que além dos mais diversos expositores de comércio de cerveja artesanal, licores, vinho, queijo, enchidos, sabonetes artesanais entre outros produtos manufaturados, inclui também uma área de restauração, permitindo aos visitantes jantar e/ou petiscar. Este Festival, que cruza as sonoridades musicais folk e celta de tradição popular, tem vindo a atrair cada vez mais apreciadores deste estilo musical, pelo que promete colocar Ponte da Barca no centro dos acontecimentos desse fim de semana, no que ao norte de Portugal e à região espanhola da Galiza diz respeito.