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stão a iniciar-se as obras do futuro Axis Avenida, um hotel de quatro estrelas que vai nascer num edifício do séc. XIX, o da estação ferroviária. Deverá ser inaugurado nos primeiros meses de 2025, com 50 quartos, oito camas duplas e 84 individuais, e capacidade para uma centena de clientes.
O investimento pertence ao grupo TuriLima que já detém outro hotel em Viana do Castelo, bem como em Ponte de Lima, Póvoa de Varzim, Braga, Ofir e Porto.
O vianense Rui Costa é administrador do grupo e esteve à conversa com A AURORA DO LIMA.
Como surgiu esta ideia de criar um hotel no edifício da estação?
A entidade responsável por este edifício da estação, emblemático aqui na cidade, é a Infraestruturas de Portugal (IP). Temos relações com esta, até porque já em Braga exploramos um hotel em que é o concessionário. Numa reunião por causa de um outro assunto, fomos desafiados sobre a possibilidade de dar àquele espaço um novo destino.
Nas várias infraestruturas que eles têm no país, algumas até de maior dimensão, como na Estação de Sta. Apolónia (Lisboa) ou S. Bento (Porto), de há uns anos para cá, houve uma necessidade de revalorização desse património que, de alguma forma, estava pouco explorado e muito degradado, semi-desocupado, foi-lhes dado pela tutela a possibilidade de puderem rentabilizar, mas, acima de tudo, valorizar todos esses edifícios.
Nessa sequência, e porque também conhecia essa realidade, surge a possibilidade de se fazer uma intervenção em Viana. A primeira vez que visitei o edifício fiquei bastante surpreendido. Quem o vê por fora não tem essa noção, mas o imóvel está absolutamente devoluto e completamente degradado no interior. A utilização é residual e, unicamente, ao nível do piso 0 que, inclusivamente, para aquilo que são as necessidades da própria IP e da CP, está sobredimensionado. A recente modernização da linha e a eletrificação levou a que o número de pessoas que ali trabalha seja bastante residual, mesmo só para ocupação do piso 0, e quase tudo remotamente verificado.
Embora percebendo, desde logo, que tínhamos ali um grande desafio, não deixava de haver condicionantes que são importantes neste edifício. Nomeadamente pela sua localização, pela manutenção, operação ferroviária, e a ideia de se fazer ali um hotel. Na altura equacionamos não aceitar o desafio e estudar outro tipo de valências. Pensamos que poderia ser uma dificuldade futura a coexistência destas duas realidades. Estudando um bocado o assunto e seduzidos pela imponência do edifício e a localização acabamos por, com alguns estudos, aceitar esse desafio.
De alguma forma, aquilo que tem protelado de forma a atrasar o desenvolvimento do projeto, é, justamente, não se tratar de um projeto tradicional no sentido de que há uma obra que começa e acaba, existindo um conjunto de situações que, neste momento, funcionam no edifício, que continuarão a funcionar e que, inclusivamente, funcionarão durante o decurso da obra.
Para salvaguardarmos tudo isso, inclusivamente ligações em termos de infraestruturas que são absolutamente necessárias, e continuar a ter o fim que tem neste momento, é preciso um grande cuidado e um estudo de acompanhamento. Este início vem sendo preparado há muito tempo e sofrendo alguns atrasos por essa dificuldade.
Em setembro, iniciamos definitivamente o projeto. Em termos de planeamento, é para estar concluído em finais de 2024. Estimamos que a abertura se realize no primeiro trimestre de 2025. Numa fase posterior, as pessoas vão perceber que não haverá apenas manutenção daquelas que são as funções do edifício, como uma nova função que ocupará a generalidade do mesmo. De referir que as bilheteiras existentes serão deslocalizadas. Essa é a 1.ª fase que já foi iniciada. Ficarão no extremo poente (na lateral do edifício junto ao shopping). Será uma nova bilheteira, com um projeto de arquitetura acordado com o concessionário (IP Portugal) e que, inclusivamente, será dotado de uma pérgula coberta que, no fundo, encaminhará os utentes da estação até à plataforma rodoviária.
Os utentes dos caminhos de ferro poderão utilizar, livremente, o bar e o restaurante que ali se vão situar?
No fundo, do que estamos a falar, é uma reabilitação do edifício essencialmente no interior. Relativamente ao espaço exterior, manter-se-ão todas as características do edifício, quer, em termos de alçada, quer em termos de fachadas frontais, e coberturas. Estamos a falar de uma intervenção manifestamente interior que terá, concerteza, uma linguagem contemporânea e moderna, afetando aquilo que são a realidade e necessidades de hoje em dia. Não deixaremos de ter apontamentos que, no fundo, nos levarão para aquilo que é a história do próprio edifício e da ferrovia.
Não será propriamente um hotel temático, mas terá uma franca ligação com aquilo que é a história da ferrovia e do próprio edifício. Será dotado de 50 unidades de alojamento que estarão distribuídas entre 35 horas no edifício principal e 15 no lateral (atual alojamento dos funcionários da CP). Além disso, haverá um restaurante e um bar que estarão abertos a todos os nossos clientes e ao público em geral.
Mas não será um bar idêntico ao anterior!
Haverá um bar cuja abertura será pública, mas que terá um acesso direto pelo exterior e pela fachada do edifício. Além disso, existirá, também, o projeto da IP de edificação do pequeno quiosque que estará localizado naquela praceta, que dá acesso ao shopping onde terá o serviço básico de café e águas. No fundo, um serviço mais franco para o passante.
Estamos ainda a definir o processo de interiores, sendo certo que a IP e a CP colocaram, à nossa disposição, um acervo de peças que dispõem para que, no fundo, a equipa de arquitetura possa daí tirar alguns elementos que ficarão expostos nas zonas de circulação do próprio edifício.
Posso dizer, a título de exemplo, que o balcão do bar da cafetaria que funcionava na estação, um balcão datado, será o da receção do hotel. Será reabilitado para o efeito.
Estamos, ainda, a ter algum cuidado e preocupação com um estudo luminotécnico do próprio edifício. Queremos que aquela fachada, no fundo, seja revalorizada e iluminada de uma forma monumental, ao contrário do que sucede hoje em dia. Estamos com grande expectativa para que o edifício se evidencie ali com uma iluminação técnica em condições.
Contratamos uma empresa especializada para que essa solução seja a mais digna possível em função do edifício.
Também será ativado um protocolo com o parque da Avenida, a fim dos nossos clientes puderem ali aparcar.
Por quanto anda o investimento?
Na ordem dos cinco milhões de euros, com projeto de planeamento de obra por 18 meses. Com abertura para o 1.º trimestre de 2025. É financiado por nós, enquanto promotores do hotel.
O edifício funcionará em regime de concessão por um prazo alargado com a IP, cujas condições refletem o investimento que estamos a fazer. Não obstante isso, poderá ser equacionado a utilização de algum instrumento de apoio que exista no âmbito do Portugal 2030.
Quantas pessoas empregará?
Ainda não temos isso fechado por causa do restaurante, mas, no mínimo, teremos 20 colaboradores diretos.
Numa altura em que tem surgido bastante oferta hoteleira, ainda há espaços para mais unidades em Viana do Castelo?
Em termos operacionais, foi também fundamental, na nossa decisão, o facto de já explorarmos, aqui na cidade, um hotel. Desta forma, conseguiremos encontrar sinergias. Achamos que este funcionamento, em paralelo, nos trará algumas vantagens competitivas. No fundo, com algumas ofertas diferentes em termos de solução, mas ambas com bastante dignidade e que poderá tirar partido desse funcionamento conjunto.
Por outro lado, é evidente que o excesso de oferta pode ser um elemento perturbador no funcionamento normal. Sendo certo que sou daqueles que defende que deve existir oferta, deve existir concorrência, porque só esse conjunto é que, de alguma forma, torna Viana ou outro sítio qualquer como um destino. Só sendo um destino, é que conseguiremos, cada vez mais, captar mais pessoas, mais interessados e mais investidores para a nossa cidade. Sou daqueles que defende não o excesso de oferta, mas uma oferta sustentada e capaz que, em nada prejudica o desenvolvimento de qualquer negócio.
A que tipo de público pretendem chegar?
Viana do Castelo é um mercado pouco sustentado no sentido de pudermos segmentar, de forma muito rigorosa, o tipo de clientes que temos. No Hotel Axis (na Av. Capitão Gaspar de Castro), de alguma forma, inclusive em fases diferentes do ano, temos o cliente mais turista ou mais empresarial, temos as empresas, os bancos, os peregrinos. Não diria que, de alguma forma, nestas coisas, vamos a todas. É evidente que, com o tempo e a maturidade dos projetos, os segmentos se vão identificando e, manifestamente, o Axis Avenida será uma unidade mais destinada a turistas; o que não quer dizer que seja esse o seu segmento exclusivo.
Nesta unidade (Hotel Axis) têm muitos peregrinos?
Temos muitos clientes que o são. De alguma forma, ser peregrino tornou-se também uma moda. Há cada vez mais esse tipo de procura e, realmente, assistimos a que, inclusivamente, também nesse mercado, se encontrem diferentes segmentos de turistas. Temos tido muita procura por parte de pessoas do norte da Europa, da Alemanha, da Suécia, da Suíça, que têm utilizado este hotel para pernoitar porque estão em circuitos do Caminho de Santiago. É algo que tem vindo a crescer substancialmente.