“Impressionante estrutura” posta a descoberto

Fernando Ricardo Silva, arqueólogo, investigador do CITCEM/FLUP (Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), faz um balanço “altamento positivo” da 2ª campanha de escavações arqueológicas no Forno de Cal do Cabedelo, Darque, que decorreram no passado mês de julho.

Conforme refere em informação que lhe solicitamos, “foi colocada a descoberto uma impressionante estrutura, com uma porta magnífica, de excelente construção e que nos remete parcialmente para a arquitetura militar, enquadrada por um muito interessante lajeado fronteiro, em semicírculo, que apresenta ainda inúmeros vestígios de cal, importantes testemunhos da atividade ali exercida, no mínimo, no decorrer do séc. XIX”.

Adianta, ainda, que em “toda a estrutura ainda existente, parcialmente escavada, surgem numerosos vestígios de rochas que estarão, por certo, relacionadas com a dinâmica do antigo porto comercial de Viana do Castelo e com os veleiros que ali acostavam no Cais do Cabedelo, originárias de longínquas paragens que, por si só, merecem um aprofundado estudo no âmbito da Geologia”.

MAIS TRÊS FORNOS DE CAL
Cruzando os dados ali obtidos com a informação recolhida em diversas fontes, o arqueológo nota “que ali existiam outras cinco estruturas semelhantes, que incorporavam mais três fornos de cal. Até ao momento, temos confirmada a existência de, pelo menos, um forno em 1820, sendo certo que, em 1847, já existiriam mais. Curiosamente, um desses fornos era propriedade da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que o vendeu em 1866”.

Por ali, em 1913, foi implantada a “Seca do Bacalhau” pertencente à firma Bensaúde & Cª, com sede no Barreiro – acrescenta. Adianta, ainda, que “também existiu um Casino e três marcas verticais, tendo estas a função de servirem como auxiliares na navegação das embarcações que pretendiam entrar no porto de Viana”.

Informa, também, que, para além de funcionarem como armazéns, algumas daquelas estruturas foram utilizadas, mais recentemente, como habitações, até aos anos 80 do século XX. No decorrer dos trabalhos, fomos visitados por diversas pessoas que nasceram, foram criadas, casaram e ali constituíram família, e que partilharam connosco, por vezes de um modo emocionado, histórias e memórias de vida, ligadas àqueles espaços.

“A estrutura que ainda ali resta e o forno de cal, por nós escavado, são os últimos testemunhos e elementos patrimoniais relacionados com a história do Cabedelo nos últimos séculos, razões suficientes para a sua preservação, valorização, divulgação e usufruto público”, acentua.

A terminar, dá conta de que “está em curso um processo de expropriação relativo a todo aquele conjunto estrutural, por iniciativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Sabemos também que estão previstas obras para aquele local. Temos esperança que o respetivo projeto respeite e preserve aqueles elementos patrimoniais, importantes para Darque, para Viana do Castelo e mesmo para todo o Concelho.”

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