Foi inaugurada na última sexta-feira, dia 08, uma grande exposição bibliográfica na Biblioteca Nacional, em Lisboa sobre a obra do escritor vianense João da Rocha (1868-1921).
No âmbito da evocação do centenário da sua morte, que incluiu um colóquio científico, uma mostra bibliográfica na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, a publicação de uma antologia (A Sabedoria da Paciência), da edição crítica do livro Angústias e de um dossiê temático da revista Cadernos Vianenses, a exposição da Biblioteca Nacional contribui para dar projeção universal à obra de um escritor que se destaca pela originalidade da sua obra literária.
Na vitrina n.º 1destaca-se um dos primeiros poemas que publicou, “Invocação”, no jornal portuense A Província, em abril de 1891. Não sendo o primeiro texto publicado pelo escritor, já que se conhecem poemas assinados pelo pseudónimo Alexandre Pitre no jornal Diário Ilustrado (outubro e dezembro de 1886), foi a primeira vez que o jovem poeta foi reconhecido como simbolista e muságeta, isto é, condutor ou cultor das Musas. Outros títulos marcam presença, como o que é talvez o livro mais surpreendente do escritor, as Memórias de um “Médium” (Excertos de um Diário), de 1900.
A vitrina n.º 2 é dedicada ao pseudónimo João Ninguém, que, juntamente com Alexandre Pitre, foi um dos que velou a identidade do escritor. No jornal Folha de Viana há páginas impressionantes em que, de um lado, os artigos são assinados por João da Rocha e, de outro lado, são assinados por João Ninguém, o que mostra a vastidão da produção escrita do vianense. .
Outra vitrina recolhe a colaboração literária avulsa, dispersa por um elevado número de revistas literárias e jornais, de que se destacam Os Novos, A Geração Nova, A Arte, Miosótis e Brasil-Portugal. Um dos textos mais notáveis de João da Rocha foi dedicado à mulher minhota, em que o escritor se deixou encantar pela alegada malandrice das raparigas de Afife.
São também apresentadas as obras dos escritores que conviveram com João da Rocha, como Raul Brandão, Cláudio Basto, Justino de Montalvão, António Nobre e Alberto de Oliveira. Há também textos que assinalam o gosto do escritor pela história das Descobertas.
As vitrinas 6 e 7 dedicam-se aos periódicos fundados ou dirigidos pelo escritor, como as revistas Límia, Boletim da Liga de Instrução de Viana do Castelo e Revista de Hoje, e o jornal Folha de Viana, e a última, n.º 8, recolhe as homenagens, estudos e referências que o escritor e a sua obra mereceram ao longo dos anos.
A exposição é acompanhada por uma folha de sala de distribuição gratuita. Sendo comissariada por Manuel Curado (UMinho) e António José Barroso (AE Abelheira), contou com o auxílio de Gina Guedes Rafael, coordenadora do Serviço de Atividades Culturais e Comunicação da Biblioteca Nacional de Portugal, e de Rui Faria Viana (BMVC).
O prestígio da instituição que acolhe esta mostra, aberta até 17 de dezembro, contribuirá decerto para promover um renovado interesse pela obra profunda, pelas muitas áreas da intervenção cívica e pela personalidade misteriosa de um grande vianense.
Para além de Lisboa e de Viana do Castelo, seria importante que outras cidades importantes na vida do beletrista, como Coimbra, onde estudou, Barcelos, onde viveu, e Famalicão, onde publicou as obras mais importantes, se associassem à evocação da memória de um escritor que, parecendo regional, tem um alcance universal.