“Manter uma casa histórica não é um privilégio mas sim um sacrifício”
Dom Duarte de Bragança esteve em Ponte de Lima, no dia 25 de maio, como convidado de honra e também presidente de mérito da Associação de Turismo de Habitação. Falou com a Aurora do Lima onde deu a sua visão sobre o turismo de habitação elogiando o Alto Minho.
Valeu a pena a recuperação dos solares e casas históricas?
Claro! Houve várias vantagens e o país tem que estar agradecido com a existência do turismo de habitação. Antigamente, eu lembro-me que os aviões da TAP passavam um pequeno vídeo sobre o turismo de Portugal com grande destaque aos solares de Portugal. Embora do ponto de vista numérico era um alcance muito pequeno, mas do ponto de vista de imagem marcava muito. Ao contrário de algumas entidades de turismo de hotel que se queixavam que havia concorrência desleal porque o estado dava mais facilidade. Só que eles não percebiam de que a atração pelo turismo histórico, acaba por criar e melhorar o mercado turístico em geral.
A beleza desses espaços é um cartão de visita?
Há muita gente que vem a Portugal porque ficou com uma imagem muito bonita do turismo de habitação e rural. Embora depois nem fiquem lá hospedados, porque muitas vezes preferem o turismo de praia, de hotéis ou um estilo mais comercial.
Manter uma casa histórica é fácil?
Ora bem, não é. Alias, antigamente muitas casas estavam a ficar abandonadas, porque os proprietários, nomeadamente, a parte agrícola já não sustentava a casa. E também, os proprietários e os filhos iam trabalhar para o Porto, Lisboa ou para outras cidade, e outros empregos. Não tinham grande tempo para as suas casas, e por vezes eram compradas por pessoas que não tinham aquele gosto ou interesse. Hoje, manter uma casa histórica não é um privilégio mas sim um sacrifício. Claro que é um privilégio, porque de um modo é muito bonito viver numa casa que tem um contexto histórico, mas é sobretudo um sacrifício. Quantas famílias na Europa e no mundo sacrificam a sua economia. Podiam ficar muito ricos a trabalhar num banco, mas preferem ficar a trabalhar na sua terra/aldeia onde estão a contribuir para o bem da comunidade toda.
Acha que este tipo de turismo é valorizado?
O Estado dá muita importância ao que eu chamo os “Arquitontos”. São sujeitos que fizeram o curso de arquitetura mas não percebem o que é arquitetura. Acham que o importante é serem os homens da moda. E quanto mais deram nas vistas, quanto mais espetáculo, melhor é. Dizem que são muito inovadores, e recebem prémios, mas na verdade o que fazem é sempre a mesma coisa. No fundo isto chama-se Marxismo Cultural. E hoje, quando entidades ligadas a arquitetura autorizam um caixote horrível numa zona histórica, ou por exemplo, ao lado da Torre de Belém ter a Fundação Champalimaud, que é um edifício muito bonito e funcional, certamente, mas eu pergunto, porque é que tinha que estar ao lado da Torre de Belém. Ou em frente aos Jerónimos, onde está o Centro Cultural de Belém, podia estar em qualquer outro sítio. É por isso que eu chamo de mentalidade de Marxismo Cultural, é preciso destruir a memória de um povo para criar um povo sem memória. E um povo sem memória é facilmente controlável. Qualquer político habilidoso que fale bem, consegue controlar. Enquanto que o povo do Minho, Transmontano e Alentejano é diferente. Tem memória e identidade, não são facilmente enganáveis.
O Alto Minho é um bom exemplo?
É no Alto Minho que há mais casas de turismo de habitação, e onde se tem desenvolvido mais esta atividade. Claro que há outras zonas do país onde se podia desenvolver mais. O Alentejo tem uma arquitetura muito bonita mas não tem tantas casas históricas e em geral as casas históricas no Alentejo continuaram bem preservadas porque tem uma agricultura rentável, por isso não precisavam de recorrer muito ao turismo. Mas o Alto Minho está muito bem representado a nível de casas históricas, com valor cultural e do património.