Em novembro de 2019, o professor Marcial Passos, o Dr. Jaques Torres e eu próprio, visitámos as instalações da antiga fábrica CERAL, fundada em 1958 pelo industrial vianense Eugénio Pinheiro. Tivemos como cicerone o sr. Fernando Boucinha, de Forjães, e proprietário de grande parte da Quinta “Portelinha”, onde outrora esteve instalada a referida cerâmica.
A parte onde funcionou a fábrica está nitidamente em ruínas como pode ser visível mesmo do exterior, mas a visita serviu, sobretudo para verificar “in loco” os espaços referenciados à fabricação do tijolo, os antigos fornos de cozedura, as estufas onde o material arrefecia e secava, o escritório e até uma cantina que creio nunca terá funcionado como tal, e toda a envolvência que durante 35 anos foi palco de produção de muito tijolo e onde trabalharam centenas de operários, muitos deles de Alvarães.
A história faz-se de factos, acontecimentos, documentos e de pessoas, e por isso não faltaram referências a personalidades que ali trabalharam e que muito contribuíram para o sucesso daquela unidade fabril que tinha o barro de Alvarães como matéria- prima: Eugénio Pinheiro, industrial vianense, natural de Óis da Ribeira, concelho de Águeda.Eng.º Dias Coelho, que foi, por assim dizer, a alma desta fábrica. Gil Pinheiro (natural de Águeda) parente do fundador da fábrica e que ali desempenhou o cargo de encarregado geral por muitos anos e ainda Cesário Coutinho da Silva, que no dizer do nosso guia, foi o primeiro “guarda-livros”, digamos, escriturário da CERAL.
O sr. Boucinha depois de nos mostrar a fábrica, levou-nos ao exterior e junto à parede sul do edifício apontou-nos um montão de mato e silvas e disse-nos que naquele local se situava o marco divisório entre Alvarães e Forjães. Aquele padrão divisório, no meio do silvedo e do desleixo, caiu e ele (sr. Boucinha) levou-o para um lugar mais seguro, podendo a qualquer altura voltar ao lugar que lhe faz jus.
Não vamos falar deste marco, pois o Frei Rui Rodrigues, com o seu espírito de investigador e apaixonado pela História alvaranense, deve ter reparado onde estava este padrão sinalético quando fez uma investigação cuidada e aturada para a “Localização dos Marcos”, (Nova Monografia de Alvarães, página 95 e seguintes, marco 34).
O nosso guia, Sr. Fernando Boucinha referiu-se depois a um outro marco e que ele bem conhecia: o Marco da Rainha! (Ver Frei Rui Rodrigues in Nova Monografia de Alvarães, página 95, marco nº1) – “Este marco denominado no tombo da Comenda, marco da Lagoa ou da Rainha, situa-se a cerca de 100 metros a poente da Estrada nacional 103, detrás da antiga Garagem do Salgueiro”.
Mais tarde, a curiosidade aguçou-me a pesquisa: saber qual a rainha que deu o nome a este marco.
Sabendo eu que a rainha D. Maria II passou ali bem perto, na E.N. 103 – Barcelos – Viana, no ano de 1852 a caminho da vila de Viana da Foz do Lima, achei que poderia ser uma forte hipótese. Mais tarde, encontrei um artigo do Cónego Cepa, antigo pároco de Alvarães, no jornal a “Voz da Paróquia”, em maio de 1956, já lá vão quase 64 anos, onde o sacerdote na rubrica “Recordar é viver” abordava o problema dos quatro marcos da rainha e aventava uma possível paternidade do nome. Suposições, apenas suposições que vou deixar como leitura para gáudio dos leitores e como modo de recordar o que o sapiente Cónego Cepa, naquela época, já nos procurava elucidar.
Escreveu ele: “tão sensacional acontecimento – fala da passagem da Rainha D. Maria II, acompanhada por seu marido D. Fernando II e filhos a caminho de Viana – deu lugar a que se tenha dito e escrito que os quatro marcos que ainda hoje existem e se encontram um pouco ao sul da estrada nacional 103, conhecidos por Marcos da Rainha e que delimitam as freguesias de Alvarães, Forjães, S. Romão do Neiva e Castelo do Neiva só começaram a ter este nome depois da passagem de Sua Majestade e das festas que lhe fizeram junto deles”.
Isto não é verdade porque o nome de Marcos da Rainha vem de tempos imemoriais.
O tombo de Alvarães de 1681 e o de S. Romão do Neiva, que é anterior, chamaram-lhe Marcos da Lagoa os quais antigamente se chamavam Marcos da Rainha.
A passagem da Rainha D. Maria II apenas veio restituir o nome e não dar-lhe porque já vinha de tempos recuados. Ocorre perguntar: qual seria a (Rainha ou factos da sua vida) que deu o nome aos referidos marcos?
Seria a Rainha D. Teresa que em 1112, segundo Gaspar Alves de Lousada deu carta de Couto ao Mosteiro de São Romão do Neiva?
Seria a Rainha D. Dulce que com o rei D. Sancho I, em 1187, fez a doação ao referido Mosteiro dos Coutos do dito Mosteiro e lhe determinou os seus limites?
É da tradição constante desta Freguesia (Alvarães) que por aqui passou a Rainha Santa Isabel em direção a Santiago de Compostela e que na sua passagem através de Alvarães, foi saudada com toque festivo dos sinos da igreja Paroquial. Terá a denominação dos marcos alguma relação com qualquer facto ou benemerência da Rainha Santa nesta viagem?
Eis uma pergunta a que é difícil dar resposta segura.
Do que fica exposto podemos concluir somente que a passagem por Alvarães da rainha D. Maria II, em 1852, veio restituir aos referidos marcos o primitivo nome, há muito perdido, e que, desde essa data, o ficaram devendo a duas Rainhas das quais apenas é conhecido o nome duma (Miranda Pinto)”.