Mulheres bonitas e interessantes

Coloco-me na época alta, que durou vários anos, do famoso conjunto musical que encantou o mundo, “The Beatles”, grupo “pop” britânico, expoente máximo do som de Liverpool, que emergiu nos anos sessenta. A imprensa escrita e falada reproduziu o fenómeno daqueles quatro rapazes, que arrastavam multidões e punham a mocidade, principalmente a feminina, em estado de histeria. São luzes, que brilham no firmamento da memória, aliado ao imaginário colectivo.
Vamos situar-nos no ano de 1969, na figura de John Lennon, que além de executar num instrumento o prelúdio de uma composição musical, deu em simultâneo, outro rumo à voz, através dos êxitos a solo. Cara famosa, um dos mais importantes músicos do século vinte. Mais do que músico, ele era “pop star”. Sim, porque a estrela, só por ser músico, não tinha muito de atraente. Era a voz que o tornava sexualmente excitante. Só como músico podia significar ser tocador de címbalo numa orquestra, o que, convenhamos, não era assim tão sedutor. Tolo famoso! Perdoem-me a expressão. Podia ter qualquer mulher do mundo no seu leito – afirmo – sem qualquer esforço. O mais famoso da terra, naquela época, coisa e tal, vai, finalmente, casar com a… Yoko.

Nada tenho contra esta japonesa, antes pelo contrário, imensa simpatia. Carregou o fardo de ser viúva de Lennon com galhardia e elegância, como deve ser. Mas o meu ponto de vista – perdoem-me o dito – é machista. Podendo, por exemplo, optar por uma moça alta, elegante, toda vistosa e bem torneada escolheu uma nipónica baixa, mais velha do que ele e de estética duvidosa. Burrice? Cegueira? Não! Entendo que, na verdade, a Yoko devia ser uma pessoa interessantíssima… daquelas que, quando se conhece bem, pensa-se logo – esta é para casar. Se o Lennon escolheu aquela – mesmo com todas as discussões, na altura, a respeito, sendo até uma das razões para o grupo se ter separado em 1970 – é porque a “japa” devia ser um fenómeno, uma volúpia arrasadora.
Lennon, na verdade, não se encontra sozinho nesta situação de viver. Como ele, a maioria dos homens – poderei afirmar? – gosta de mulheres interessantes. Se for bonita, ajuda. Mas do que se faz questão é que tenha presença, humor, cultura, saiba estar e mostrar-se atenta, mais flexível, portanto, aos obstáculos que, no dia a dia, possam aparecer. Que mostre aparente preguiça e indecisão na vontade de tomar algumas resoluções, aliada a um fingimento de resistência, a fim de tornar o sabor da vida mais excitante. Que aprecie ver filmes, sentada, à noite, no sofá, para abrir as mentes, modificar hábitos, rompendo, então, a prática da rotina. Que se dê bem com a família, mas que se dê melhor com os amigos, a fim de evitar a criação de pântanos humanos. A Yoko era muito forte nesse aspecto. Que goste de tomar bebidas, mas que não fique bêbada por qualquer coisa. Que dê apoio, a todos os níveis, quando ficamos doentes. Que entenda que o homem sofre por espirrar, porque gosta de valorizar um vírus imaginário. Que apareça com um edredon novo, assim que a previsão do tempo indicar a ocorrência de uma frente fria. Que se zangue quando ficamos a ver televisão, inutilmente, até tarde, a assistir a programas idiotas, sem lhe fazer companhia na cama. Que encarne que algo está errado, só porque um dia qualquer resolvemos dormir cedo. Que não enalteça a gente, em demasia, na frente dos colegas de trabalho, porque pode criar inveja e investidas sinuosas. Que nos coloque, na devida dimensão humana, toda as vezes que estivermos inflamados de vaidade.

As mulheres interessantes são perigosas. Muito mais do que as bonitas. As interessantes, nascem, desde logo, interessantes, ou fazem-se interessantes. Com o passar dos anos vão melhorando, cada vez mais. Aprendem a gostar de ler e de ir ao cinema, colocando a televisão em segundo plano. Adaptam-se a uma condução perfeita do automóvel. Desvendam os atalhos do sexo, essas coisas que se acumulam com a corrida desgovernada e inexorável da idade.
As mulheres bonitas, bem, são boas para figurarem no álbum de fotos. As mulheres bonitas dão-nos filhos lindos. Afinal, os nossos filhos são sempre lindos, não importando a origem do gâmeta. As interessantes abrem a boca, saindo flores. As só bonitas, abrem a boca e sai coca-cola. As interessantes ficam para sempre. As outras caem, amolecem, passam……
Com o aproximar do Verão, estas duas castas – interessantes e bonitas – embora de grupos sociais diferentes, o comportamento aproxima-as, ficando mais abertas, por exemplo, perante a excentricidade da moda, na praia. As palavras de ordem são glamour, glamour, cada vez mais encanto. Os dourados e metalizados, aparecem em bolsas, acessórios e biquínis ousados, que espantam mesmo aqueles que já estão cansados de ver coisas deste género. Usar um cinto largo, colorido, com arabescos, sobre uma saia de seda, ou outro tecido, muito curta, a mostrar a cuequinha biquíni, com uns óculos gigantes a tapar parte da face, prende a atenção do homem, mesmo de fraca visão, sendo referências adoráveis do saber estar em contacto directo com o sol e com as gentes, principalmente.

Como afirmou Nelson Ned – “e tudo passa, tudo passará” – aproveitando estas ironias, de Lennon a Nelson Ned, os homens, na sua maior parte, talvez prefiram as mulheres interessantes.

Nota: Este conto, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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