Noite dos tapetes “é uma romaria dentro da Romaria”

João Chavarria, 66 anos, nasceu em Angola, mas desde 1975 que escolheu viver na zona da Ribeira, mais propriamente, na rua Monsenhor Daniel Machado. Desde essa altura que participa na confeção do tapete daquela rua. Este ano voltam a contar com a colaboração dos elementos da AISCA (Associação de Intervenção Social, Cultural e Artística) e vão adotar o tema da Louça de Viana.

“Sempre gostei de bricolage e a partir daí comecei a trabalhar na execução dos tapetes. Gosto de agarrar tudo o que está relacionado com Viana. Eu fui bem adotado e dou o meu contributo a Viana”, assinala João Chavarria.

Com 66 anos e com algum tempo livre dedica-se à confeção dos tapetes de sal quer em Viana quer em outros locais, como foi o mais recente caso, da elaboração do tapete no parque Eduardo VII por altura da Jornada Mundial da Juventude. “O tapete na Jornada Mundial da Juventude foi muito importante, porque levamos Viana e as nossas tradições àquele evento mundial”, disse.

Se no passado, a Ribeira não se sentia presença na festa da Senhora d’Agonia, João Chavarria reconhece que atualmente a Noite dos Tapetes é um dos quadros mais aguardados. “É uma romaria dentro da Romaria”, porque “centenas de pessoas passam a noite naquela zona da cidade e gostam de ajudar na confeção. Às vezes temos de fechar a nossa rua [Monsenhor Daniel Machado], porque é muito estreita e não podemos estar sempre a levantar-nos para as pessoas passarem”, confessa.

No passado, a execução dos tapetes era em exclusivo feito pelos moradores da Ribeira. Atualmente, a maioria dos executantes já não mora na Ribeira, mas tem ligações familiares ou afetivas àquela zona da cidade. A logística também é assegurada pela VianaFestas e o pólo de Monserrate da União de Freguesias de Viana do Castelo, Santa Maria Maior e Meadela. “Em termos logísticos a VianaFestas e a Junta de Freguesia proporcionam-nos todos os materiais”, frisa João Chavarria.

Duas centenas de pessoas será o número apontado de pessoas envolvidas na execução dos tapetes que cobrem as ruas e o largo. Contudo, aquele responsável conta que no planeamento estão envolvidas mais pessoas. “Antes da execução temos de pensar no desenho, desenvolver os moldes, pensar no material a usar e pintar o sal”, refere.

A opção pela utilização do sal terá, segundo aquele, cerca de 10/12 anos. Anteriormente, a opção recaia nas flores e utensílios de pesca. Este material continua a ser utilizado pelaos moradores do Largo Infante D. Henriques. “O sal começou a ser usado há 10/12 anos. Na altura, fizemos uma caravela de serrim e queríamos fazer as velas em branco. Alguém lembrou-se de ir buscar o sal refinado da cozinha para usar. A partir daí usamos o sal pintado para alguns apontamentos”, revela João Chavarria.

Na Ribeira já todos aguardam a noite de 19 de agosto. Algumas janelas já estão decoradas com motivos de festas e as ruas já receberam as ornamentações.

Celeste Gavinho, de 80 anos,  sempre morou na Ribeira e tem “muita devoção” à Senhora da Agonia e Frei Bartolomeu dos Mártires.

Apesar da idade, Celeste Gavinho gosta de passar a Note dos Tapetes na rua Monsenhor Daniel Machado. “Agora, devido à idade, não consigo ajudar. Mas tenho as minhas filhas e uma neta que me substitui”, refere. Adiantando que “os estrangeiros, que ficam nos espaços de Alojamento Local, podem participar. São todos bem-vindos. Quem ama bem, quem gosta fica”.

A “maior noite do ano” na Ribeira é, para Celeste Gavinho, um dos momentos de convívio e de estreitamentos dos laços.

Leonor Moreira, 79 anos, escolheu a Ribeira para viver. “Agora vejo com muita alegria, apesar de não conseguir ajudar. quando era nova ninguém me parava. Gosto muito da alegria dessa noite”, salienta.

34 toneladas de sal

Para a execução das seis ruas são necessárias 34 toneladas de sal. João Chavarria manifesta que essa quantidade é gasta em cerca de um quilómetro de extensão e cada rua tem de tingir o mesmo com as cores que pretende. E também para esta tarefa são necessárias pessoas. Segundo aquele, a pintura do material é feita dias antes. A rua do Loureiro escolhe o feriado do dia 15 de agosto para a execução dessa tarefa. E também para esta tarefa há vários métodos. “Há duas maneiras de pintar o sal. A rua dos poveiro pinta através de bacias grandes. É colocada a cor e envolvido. Mas houve alguém que se lembrou em pintar através de uma betoneira. Chamo eu de pintar industrial”, salienta. 

Oferta à Senhora d’Agonia

Cada rua escolhe o tema para tratar. “Este ano o tema é a louça. A rua Monsenhor Daniel Machado vai fazer uma homenagem à louça de Viana, mas o tema nunca é obrigatório. Cada rua tem o seu ADN e tem as suas ideias”, revela João Chavarria.

Para o morador da Ribeira, este é um dos quadros mais significativos da Romaria, que este ano iniciou-se no dia 14 e prolonga-se até dia 22 de agosto. “Este quadro tem a finalidade de ofertar aqueles tapetes à Senhora d’ Agonia, que é a padroeira dos pescadores. Para cumprir essa finalidade tem de haver voluntariado. Isso é básico”, salienta. Adiantando que só com a ajuda de muitas mãos é possível cumprir a tarefa.

Os jovens da rua Monsenhor Daniel Machado, segundo João Chavarria, sempre foram desafiados a participar na confeção dos tapetes. “Quisemos sempre que as crianças participassem e hoje isso nota-se, porque vem eles e trazem os amigos. Na nossa rua costuma participar uma jovem de Braga”.

A colaboração da AISCA foi, para João Chavarria, a “sorte grande”. Esta parceria surgiu, porque um elemento daquela Associação mora na rua e decidiu desafiar os colegas artistas a pensra num tapete para aquela rua. Este ano, o desafio foi a Louça de Viana.  

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