“O cartaz tem de ter uma boa ideia”

Ricardo Ferreira, 49 anos, é o autor do cartaz vencedor. Designer de profissão concorre pelo segundo ano e apresenta o “cartaz da esperança”, que pretende ser uma transição do ano de 2020 para o ano de 2022, onde espera que a normalidade regresse.
Defensor da complementaridade, Ricardo Ferreira decidiu destacar, no cartaz, a mordoma, mas não esqueceu os diferentes momentos da festa, como os bombos, procissão ao mar, os tapetes e as cerimónias religiosas. O vencedor do concurso deste ano presta homenagem a quatro pessoas que o influenciaram e lança o desafio à VianaFestas para que no próximo ano, no Desfile da Mordomia, participem as três mordomas: a de 2020; 2021 e a de 2022.

Fale-me um pouco do cartaz da romaria. Como surgiu?
O cartaz surgiu como uma homenagem a algumas pessoas. Ao meu pai, que faleceu no ano passado e que trabalhou muitos anos na Região de Turismo do Alto Minho, mas também ao Dr. Francisco Sampaio, lembrar ainda o Dr. Freitas, da Ourivesaria Freitas e o meu sogro, com quem vivia a Romaria d`Agonia. Foram estas pessoas que me deram força para participar no concurso. Eu estava sempre a dizer que queria participar, mas depois também não tinha tempo.

Foi a primeira vez que participou?
Não, foi a segunda. Já tinha participado há uns anos. O cartaz tem de ter uma boa ideia, não é só a imagem da mordoma. A Covid-19, o confinamento e o evento que a ArtMatriz [R.F. é o presidente da Associação] iniciou no ano passado de homenagem às festas “Des-romaria” e o facto de querer homenagear aquelas pessoas foi a conjugação para a elaboração do cartaz.

E qual a ideia que pretende transmitir no cartaz?
A ideia tem a ver com o tempo. No cartaz temos o tempo passado, que está a preto e branco, e que são os momentos que as pessoas associam às festas, os bombos, os cabeçudos, os tapetes, a procissão ao mar, os tapetes…

São alguns momentos da festa.
Sim, e esses estão a preto e branco, porque já aconteceram e no ano passado e este ano não acontecem. E depois aparece a mordoma, que é a parte que tem cor e mais luz e simboliza o presente e o futuro. Esta mordoma não está a rir. Está mais pensativa, porque queria que este cartaz fosse uma passagem do cartaz do ano passado, de uma não romaria, a um cartaz que mostrasse que vão realizar-se algumas coisas presenciais e muitas outras online, e ainda a pensar no próximo ano, que esperemos regressar ao formato tradicional das festas.

Na memória descritiva falam também que é um “cartaz da esperança”. Em que sentido?
O cartaz tem a ver com a memória, com o passado, mas com a esperança no futuro. Este cartaz é de passagem. No ano passado, quase nada aconteceu presencialmente, este ano já está previsto acontecer mais alguma coisa e no próximo ano a esperança de que tudo volte ao normal. Na abertura da exposição dos cartazes, sugeri ao presidente da VianaFestas para no próximo ano convidarem a mordoma do ano passado, a deste ano e a do próximo ano para desfilarem no Cortejo da Mordomia.

Nem a do ano passado, nem a deste ano viveram esse momento.
No ano passado, a mordoma não desfilou. A deste ano também não. E é ingrato para elas estarem no cartaz e não viverem o momento do Desfile. Podiam publicitar a romaria do próximo ano como uma festa a triplicar.

O cartaz surge na sequência do evento “Des-romaria”, da ArtMatriz da qual o Ricardo é presidente?
Não, o principal motivo é de homenagem àquelas pessoas. O “Des-romaria” foi um evento de desafio a vários artistas para mostrar o impacto da não realização das festas. Sabemos que a Romaria é muito importante para muitos setores e as capas das revistas, que fizemos do “Des-romaria” mostram essa violência. Estamos há um ano a convidar artistas para homenagear as festas, com várias obras artísticas.

Este ano, a festa vai realizar-se ainda num formato online e presencial. Esta situação deixa-o desanimado?
Não, acho que a festa continua a ter visibilidade e acredito que tenham de apostar ainda mais na imagem. É uma pena, tantos anos para ganhar o cartaz, e ganhá-lo num ano onde vai haver poucas iniciativas presenciais. Mas é dar força para concorrer outra vez. Acho que o cartaz foi muito bem recebido. Todos os anos, mesmo antes de existir o concurso, eu gostava de apreciar.

Mas é sempre um assunto controverso. Há sempre muitas críticas aos cartazes.
Todos os anos é um pouco lavar de roupa suja. É sempre muito polémico e as pessoas são um bocado más. Há muita gente que gosta de criticar, mas sem ser uma crítica construtiva. A questão do gosto é sempre subjetiva. Mas às vezes as críticas são muito agressivas e as pessoas não sabem o trabalho que está por detrás da elaboração de um cartaz. Dá muito trabalho idealizar, tirar as fotografias…

Essas críticas levaram, há uns anos a esta parte, à escolha da modalidade de concurso para a eleição do cartaz.
Sim, há uns anos o cartaz era feito por convite. A VianaFestas convidava alguém para a elaboração do cartaz. Contudo, num ano foi tão criticado que resolveram fazer por concurso. Acho que este ano é o 11.º ano que acontece.

E acha que esta modalidade é mais indicada?
Sim, dos 11 cartazes haverá um ou dois que não gosto particularmente, mas a qualidade acho que melhorou muito. A maioria dos cartazes tem leitura, são bonitos, apelativos e representam o que tem de representar e acho que está muito bem. Acho que o júri está cada vez mais eclético e consegue ter várias visões. Eu sei que há alguns cartazes que, durante a fase do concurso, foram eliminados por falha de pormenores no traje. Eu não considero que isso seja o mais importante, porque a maioria das pessoas olha para o cartaz e não fica preso a esses pormenores. Acho que esse motivo não deveria ser de exclusão, porque poderia corrigir-se essa parte.

O cartaz deste ano para além da mordoma tem alguns elementos da festa, algo que não acontecia nos últimos anos.
Eu acho que a mordoma é importante, mas não é o centro da festa. Eu tentei fazer um cartaz onde estivesse lá tudo, mas que não fosse maçudo. O primeiro olhar é a mordoma, e depois os olhos vão aos diferentes sítios. O complicado é fazer isso. Conseguir equilibrar, porque as festas da Romaria d`Agonia é tudo. É a mordoma, mas é a procissão ao mar, tapetes, cabeçudos, são os diferentes elementos que fazem a festa. Gostei dos últimos cartazes, onde o foco eram as mordomas, mas também considero que devemos destacar os diferentes elementos.

E chegaram-lhe algumas críticas.
A melhor crítica que vi foi: “este ano acabaram com a tradição de criticar o cartaz”. Foi um bom elogio. Vi os comentários e foram muito consensuais.

Isto dá-lhe mais força e já pensa no cartaz do próximo ano?
Tem de haver uma boa ideia, que represente e seja uma mais-valia, seja diferente de todos os outros e o mais diferente possível do cartaz do ano passado. Não me vejo a concorrer por concorrer, mas só se surgir uma boa ideia e que seja válida e diferente desta.

Como foi a escolha da Renata Guisantes para mordoma?
Eu fiz o cartaz todo com outra pessoa, que sabia que não poderia ser a mordoma. Mas teria de fazer o cartaz para ver se resultava e só depois pensar na mordoma. Depois de ver que a ideia resultava pensei em alguém para ser a mordoma. Como estávamos a desenvolver o projeto da “Des-romaria” e que foi desenvolvido com a Renata Guisantes, com a Sofia Araújo e a Natacha Castro, falei com a Renata. A elaboração final do cartaz, com as fotografias da mordoma, foi condicionada pelos confinamentos e teve de ser tudo muito virtual.

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