Hugo Martins, secretário da direção e Jorge Martinez, tesoureiro da direção contaram os objetivos da Associação para os próximos tempos.
Prestes a completar 31 anos, a coletividade pretende consolidar a situação financeira, reforçar o protocolo com a Câmara Municipal promovendo atividades de literacia marinha, sem esquecer as formações de mergulho e de náutica.
Que a Associação é esta?
A Amigos do Mar tem a designação de Associação Cívica para a Defesa do Mar e foi fundada em 1991. Fará brevemente 31 anos.
Qual o objetivo da sua fundação?
O objetivo desde o início foi a defesa e a proteção dos ecossistemas marinhos. E isto acontecia numa perspetiva de ativismo. Um ativismo mais pela via pedagógica e diplomática…
E o que faziam? Algumas ações de limpeza…
Sim, fazíamos algumas ações de limpeza, de sensibilização, principalmente junto das faixas mais jovens, nas escolas. Havia, na altura, atividades ocupacionais vocacionadas para esta área.
E essa missão foi sendo alterada ao longo dos tempos?
Não. Paralelamente, já existia as escolas de Mergulho e a de Náutica, que se mantêm atualmente.
Estas têm uma vocação de formação.
O foco das escolas é a formação. Os fundamentos da Associação não se foram alterando; na sua génese permanecem os mesmos, o que se alterou foi a realidade logística, financeira e humana. Como qualquer organização, principalmente aquelas que vivem de um corpo de voluntários os primeiros anos são muitos auspiciosos e acontecem muitas coisas. E as coisas vão mudando. Efetivamente nos últimos anos não têm havido muita atividade, muito por falta de pessoas, que permitam fazer coisas. Nos últimos anos, os recursos humanos da Associação têm-se limitado a um grupo pequeno de pessoas. Somos todos voluntários e, portanto, temos feito o possível, numa primeira instância, para garantir a sustentabilidade financeira da Associação e mais recentemente conseguimos angariar a colaboração de pessoas novas e temos tentado recuperar a componente do ativsimo.
As escolas foram funcionando ao longo destes 30 anos.
Sim, as escolas funcionam bem, em particular a de mergulho. O que é na verdade a fonte de rendimento da Associação. Nós não temos apoios. E é o trabalho das escolas que é o nosso garante de sustentabilidade. Nos últimos dois anos, com o apoio de três biólogas marinhas conseguimos recuperar algumas atividades de âmbito ambiental. Mantemos a linha pedagógica. É sempre na perspetiva de ensinar e explicar às pessoas. O problema do mar é esse. Quando arde uma floresta, as pessoas veem o fumo e o fogo. No final, o que era verde agora é negro. No mar vemos a bonita superfície azul, porque os danos acontecem no fundo do mar. Por isso, se explicarmos às pessoas o que está a acontecer e porque acontece, ou pelo menos tornar o nosso impacto menor, penso que faremos diferença no futuro. Acreditamos que no médio e longo prazo consigamos impactar.
Contam com quantos associados?
Temos inscritos cerca de 2600 associados. Ativos e pagantes serão cerca de 30 a 40 pessoas por ano, em função dos cursos. O período da pandemia também nos afetou bastante.
Sei que fazem algumas formações com os corpos de bombeiros.
A escola de Mergulho dos Amigos do Mar é uma das escolas mais antigas do norte de Portugal, e há uma boa relação com as corporações. Já formámos muitas equipas de mergulho de bombeiros e vamos criando uma relação. Nós para além da formação, fazemos um acompanhamento sempre que necessário. O mergulho é uma carreira evolutiva e, no caso dos bombeiros ainda mais e que tem uma estratégia muito diferente do que é o mergulho recreativo. Há dias terminámos uma formação com a Corporação de Bombeiros de Fafe e temos em vista fazer novas formações com outra corporação do distrito. Apesar do ponto de vista legal, a formação de bombeiros ser semelhante para qualquer pessoa que queira fazer o curso, sobretudo pela falta de enquadramento mais específico na legislação nacional, nós entendemos que a formação das equipas de bombeiros tem de ser diferente, porque eles mergulham nas condições que outros não podem. Portanto, tudo o que ensinamos a um mergulhador “civil”, a questão da visibilidade, das correntes e todos os obstáculos e riscos, isso é exatamente a realidade de um bombeiro/mergulhador. Fruto da colaboração estreita com as corporações, os cursos de bombeiros atendem a essa especificidade e eles sabem que nós temos essa sensibilidade.
As aulas decorrem durante todo o ano?
Normalmente, os cursos de Mergulho e de Náuticas acontecem no inverno/primavera. No pico do verão é muito difícil haver algum tipo de formação nessa área, porque as pessoas já estão a usufruir. Há uma sazonalidade e a calendarização depende da nossa disponibilidade e do próprio mercado.
Quais as principais limitações?
A perspetiva da equipa que está atualmente à frente não espera receber a troco de nada. Nunca nos colocamos a mendigar ajuda ou apoios. Entendemos que temos de dar à comunidade para que esta tenha vontade de nos dar alguma coisa a nós. Nós queremos mostrar às pessoas que estamos cá, temos valências e queremos ajudar a comunidade, com particular enfoque no ecossistema marinho. Para que depois resulte, da parte da comunidade a vontade de nos apoiar e a verdade é que isso já se sente. No ano passado, em parceria com a autarquia, levamos a cabo algumas ações pedagógicas no Centro de Mar, onde alguns participantes eram professores. Depois disso, fizemos uma apresentação no Colégio do Minho para falar sobre Arqueologia Subaquática. Vamos estar na Escola Básica de Forjães a fazer uma apresentação sobre mergulho, enquadrada num projeto que algumas turmas têm sobre desportos náuticos e já é a comunidade que nos começa a procurar.
No futuro, o que pretendem fazer?
A curto prazo, o objetivo é garantir a sustentabilidade financeira da Associação. Ainda estamos a tentar resolver algumas questões. Tem de ser um passinho de cada vez. Naturalmente, que queremos melhorar a nossa oferta pedagógica e de ações. Continuar com as escolas…
Essa é talvez um dos aspetos principais.
É, porque é o que tem garantido a sustentabilidade financeira da Associação, de uma forma mais ao menos estável ao longo dos anos. Se não tivermos atividades para que as pessoas tenham interesse em pagar a quota anual, em dar um bocadinho do seu tempo em alguma ação de sensibilização e limpeza de praia. Quantos mais formos, mais fácil é cada um ficar com uma determinada área e contribuir para uma melhor Associação.
“Nos últimos anos têm havido um grande desenvolvimento da autarquia e das escolas nos desportos náuticos”
Os vianenses têm boa relação com o mar?
Há um grande espaço de crescimento. Acho que os vianenses têm uma boa relação com o mar. Acho que essa relação pode desenvolver-se muito mais. Nos últimos anos têm havido um grande desenvolvimento da autarquia e das escolas nos desportos náuticos e isso nota-se. Mas acho que a maioria dos vianense continuam a ter uma perspetiva do mar quando param o carro na praia Norte para apreciar o pôr do sol. Mas acho que há ainda muito a fazer.
O que pode ser feito neste âmbito?
Devemos apostar em sensibilizar para a importância do ecossistema marinho e para a questão da captura do carbono pelas florestas marinhas. Nós aqui temos muito para contribuir para a sociedade e que a comunidade possa usufruir do mar para além de apreciar o pôr do sol e dos meses de verão de praia. Começam a perceber o equilíbrio e a dinâmica que é preciso manter nesta costa. E isso é um fator decisivo. Se conseguirmos com este protocolo junto das escolas sensibilizar os cidadãos de amanhã, faremos a diferença no médio prazo. Os estrangeiros que recebemos dão-nos conta de que as nossas boas condições de mar, rio e montanha não estão a ser totalmente exploradas.
O mar ainda é visto como panorâmico e não numa prespetiva económica.
O mar é para nós um garante de vida. Isto não é poesia, é factual, porque há captura de dióxido de carbono e produção de oxigénio… O mar para nós, antes de qualquer outra coisa é vida. Viana não se pode separar da relação estreita e de dependência do mar. Há muitos projetos, muitos planos, mas o que falta é uma moderação com o público para que estes percebam o que é que esses projetos vão representar na sua vida do dia a dia. Se nós não conhecermos, não temos opinião e não protegemos. A questão da litearcia do mar foi uma aposta da vereação do Ambiente que cessou. Penso que a nova vereação dará continuidade até porque foram feitos investimentos. Há uma grande margem de crescimento em relação ao mar e às questões relacionadas com este.
Vocês fazem aulas de mergulho junto à costa vianense. O que tem o fundo do mar de Viana?
Todos os fundos marinhos são diversos, porque dependem de muita coisa, inclusivamente da nossa atividade e do que temos feito. Às vezes a visibilidade é, no máximo, durante três metros. Mas não invalida que aqui tenhamos ótimas condições para a prática de mergulho, nomeadamente atendendo à morfologia do terreno, às espécies que conseguimos encontrar. É mais um mergulho de pormenor. Há espécies de fauna e flora extremamente interessantes. Temos pontos de mergulho excelentes um pouco mais afastados da costa. Se me perguntar se uma organização conseguiria subsistir, em exclusivo, com o mergulho, eu diria que não.
Qual a época mais indicada para fazer mergulho em Viana?
Nós podemos fazer, se calhar, num terço do ano. Fazer com a qualidade que um cliente vai exigir e com a qualidade para tornar um produto vendável penso que meia dúzia de dias. Temos de olhar para vários fatores. Mas temos particularidades da nossa costa, e quem mergulha na zona Norte quer vir a Viana, porque temos determinadas espécies e características especiais.
É necessário mais sensibilização da população para prevenir estas situações?
Sim. Nós, à medida que vamos fazendo alguma atividade de mergulho vamos recolhendo algum do lixo que conseguimos trazer. E depois vemos outras coisas, que é difícil trazer, como pneus de grandes dimensões. Redes e artes de pesca, no geral. Encontramos manchas de gorduras e poluentes. É impossível atribuir as culpas a Viana, porque sabemos que com as correntes, se lançarmos um lixo hoje daqui há uns meses dá à costa no Brasil, por exemplo…